//

Abin Paralela: aliados de Bolsonaro disseminaram fake news para atacar credibilidade de autoridades

Uma investigação da Polícia Federal revela que o esquema Abin Paralela, montado dentro da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) por aliados de Bolsonaro, disseminava fake news para atacar e descredibilizar autoridades, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), juízes, membros do Judiciário e jornalistas, além de praticar espionagem ilegal destes profissionais, autoridades e instituições do país.

ALIADOS DE BOLSONARO

De acordo com a investigação, nomes como Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin) e Marcelo Bormevet, atuavam pelos interesses da família Bolsonaro. Os bolsonaristas também procuravam “podres” de autoridades que investigavam os filhos do ex-presidente. Marcelo Bormevet, que atuava na Presidência da República, e Giancarlo Rodrigues, na Abin, usaram seus cargos para atacar até assessores de ministros, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, visando enfraquecer a imagem do ministro do STF e do TSE.

As movimentações faziam parte de um esforço maior para desacreditar o Poder Judiciário e o sistema eleitoral brasileiro, segundo a PF.

Agência Brasileira de Inteligência. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

De acordo com a PF, além de possíveis irregularidades no âmbito da instrumentalização da Abin, alguns dos supostos envolvidos no esquema tinham conhecimento de outras ilegalidades, por exemplo, a “minuta do golpe” que circulou no governo Jair Bolsonaro.

Durante a apuração, a PF interceptou mensagens trocadas entre Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues que incluem – nas palavras dos investigadores – “referências relacionadas ao rompimento democrático” e “no mínimo, potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”.

Os diálogos interceptados pela PF indicam que policiais federais da “Abin paralela” conheciam a existência do decreto.

Na avaliação da PF, o diálogo indica que as “ações clandestinas” da Abin paralela têm conexão com outros inquéritos no STF e se situam no “nexo causal dos delitos que culminaram na tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito”.

ESPIONADOS

A lista de pessoas espionadas pela organização criminosa inclui ministros, parlamentares, auditores fiscais e jornalistas. Veja:

  • Poder Judiciário: ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux
  • Poder Legislativo: o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Kim Kataguiri (União-SP) e os ex-deputados Rodrigo Maia, que foi presidente da Câmara, Joice Hasselmann e Jean Wyllys (PSOL). E os senadores: Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que integravam a CPI da Covid no Senado.
  • Poder Executivo: João Doria, ex-governador de São Paulo; os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges; os auditores da Receita Federal do Brasil Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.
  • Jornalistas: Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.

ALGUÉM FOI PRESO?

Os policiais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Foram presos e foram alvos de busca e apreensão:

  • Mateus de Carvalho Sposito;
  • Richards Dyer Pozzer;
  • Rogério Beraldo de Almeida;
  • Marcelo Araújo Bormevet;
  • Giancarlo Gomes Rodrigues.

CRIMES

De acordo com a PF, os possíveis crimes praticados pelos aliados de Bolsonaro são:

  • organização criminosa;
  • tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito;
  • interceptação clandestina de comunicações;
  • invasão de dispositivo informático alheio;

O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem e o ex-presidente Jair Bolsonaro não foram alvo da operação desta quinta. Procurados pela reportagem, não se manifestaram sobre as denúncias.

O senador Flávio Bolsonaro negou qualquer atuação irregular no caso das rachadinhas. Disse que, na época, teve os dados sigilosos acessados de forma criminosa de dentro da Receita Federal e que o processo foi encerrado pela Justiça. Flávio acusou a Polícia Federal de atacá-lo nessa investigação.

“Parece que tinha uma força-tarefa do crime dentro da Receita contra mim. Isso tudo não tem absolutamente nada a ver com a minha defesa jurídica na época, que diz respeito a questões processuais, nada de mérito, e que foram reconhecidas pela Justiça, e o processo acabou. Portanto, nada a ver com qualquer coisa da Abin. Agora, eu não posso correr atrás dos meus direitos de vítima que eu fui, de criminosos de dentro da Receita, e isso é usado contra mim? Faça-me o favor, isso eu não vou aceitar”, afirmou Flávio ao G1.

Leia mais: btmais.com