A cultura popular da Amazônia está em evidência na Semana Criativa de Tiradentes, que acontece até próximo dia 20 de outubro em Minas Gerais. O evento reúne artistas, designers e especialistas em decoração de todo o Brasil, com destaque para a participação do mestre José Raimundo “Biduia”, que irá apresentar a arte dos abridores de letras, uma tradição que colore os rios amazônicos e reflete a autenticidade da cultura ribeirinha.
Há mais de 30 anos, “Biduia” cria letras multicoloridas e paisagens que decoram as proas das embarcações e os murais das comunidades ribeirinhas. Natural de Igarapé-Miri, no nordeste do Pará, ele aprendeu esse ofício ainda jovem, aos 13 anos, e desde então perpetua essa tradição única da região amazônica.
Debate sobre a Arte Ribeirinha
Durante o bate-papo intitulado “Letras de barco e arte mural: como o cotidiano amazônico inspira o uso da cor”, “Biduia” irá compartilhar sua experiência como abridor de letras, ao lado da arquiteta e artista visual Érica Saraiva, especializada em grandes murais. O evento promete unir as vivências de ambos, destacando a importância da cor na arte ribeirinha e sua relação com o cotidiano amazônico.
Em sua primeira viagem para fora do Pará, “Biduia” expressa entusiasmo: “Vou mostrar nossa arte em Tiradentes. É uma oportunidade valiosa para dar visibilidade à cultura ribeirinha e nossa profissão. Estamos muito felizes, pois isso tem grande importância para a preservação e divulgação do nosso trabalho.”
Valorização da Cultura Amazônica
A Semana Criativa de Tiradentes é um projeto cultural e social que visa preservar e divulgar saberes tradicionais do Brasil. Criado pela jornalista Simone Quintas e pelo produtor cultural Júnior Guimarães, o evento busca evitar que essas tradições se percam ao longo do tempo.
Uma das curadoras do evento, a jornalista paraense Trisha Guimarães, ressalta a importância de posicionar a arte popular ribeirinha em um cenário nacional. “Ter um mestre como ‘Biduia’ no debate é essencial, pois ele traz à tona realidades da Amazônia que muitas vezes não são conhecidas em outras regiões do Brasil.”
Casa Pará e o Instituto Letras que Flutuam
“Biduia” é um dos convidados da Casa Pará, um espaço dedicado à cultura paraense na Semana Criativa de Tiradentes. Além dele, a presidente do Instituto Letras que Flutuam, Fernanda Martins, também participa da programação, onde ministrará palestras e apresentará dois documentários sobre os abridores de letras da Amazônia paraense, no Centro Yves Alves.
O Instituto é fruto de 15 anos de pesquisa e trabalho com os abridores de letras do Pará, focado na preservação, documentação e geração de renda para esses artistas. Para Fernanda, a cultura visual, especialmente a tipografia ribeirinha, é tão importante quanto a música, a dança e a culinária da Amazônia. “É a linguagem comum aos ribeirinhos, uma representação gráfica que reflete os saberes locais e a essência do povo amazônico”, destaca a pesquisadora, que tem vasta formação acadêmica em instituições como a Universidade Federal do Pará e a Escola de Design de Basel, na Suíça.
A Importância das Cores na Cultura Ribeirinha
Fernanda explica que a vivência do homem amazônico é marcada pelas cores da natureza: verde, marrom e azul. Contudo, ao expressar sua cultura, ele adiciona o colorido em suas criações, seja nas paredes de suas casas ou nas embarcações. “Essas cores representam uma forma de se destacar em meio ao ambiente natural, traduzindo a vivacidade e a criatividade do povo ribeirinho”, afirma a pesquisadora.
Serviço: Programação da Semana Criativa de Tiradentes
A Semana Criativa de Tiradentes e a Casa Pará seguem com uma programação diversificada até o dia 20 de outubro.
Para mais informações sobre o Instituto Letras que Flutuam e o trabalho dos abridores de letras do Pará, clique aqui.
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