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Artista é acusado de apropriação cultural ao lançar coleção da Riachuelo com letras inspiradas em arte amazônida; entenda 

foto 1: de Fernanda Martins Foto 2: reprodução riachuelo Foto 3: Felipe Galvão

O artista visual, professor de pintura e letrista Filipe Grimaldi lançou recentemente a coleção “Manifesto do afeto” em parceria com a Disney para a Riachuelo. A a série de produtos tem tanto os personagens da Disney, com desenhos clássicos, como também uma série de símbolos, bordas e combinações de cores inspirada em letras amazônidas. 

Após a divulgação, diversos internautas apontaram semelhança do trabalho de Grimaldi com o dos artistas da Amazônia conhecidos como Abridores de Letras, acusando o artista de se apropriar da arte amazônida. 

As acusação de apropriação vindas da web

A crítica nas redes sociais é de que Grimaldi teria, supostamente, se apropriado do estilo da arte de origem nortista, pelo enorme semelhança entre os trabalhos. Outra acusação da web, é de que o artista estaria supostamente apagando comentários negativos referindo-se aos produtos divulgados de suas redes sociais, além de deletar mensagens de pessoas indígenas que teriam contestado Filipe sobre a coleção.

Internautas criticaram o artista o acusando de apropriação cultural. Os comentários foram deixados no perfil pessoal de Grimaldi. Imagem: Reprodução dos comentários: redes sociais
Internautas criticaram o artista o acusando de apropriação cultural. Os comentários foram deixados no perfil pessoal de Grimaldi. Imagem: Reprodução dos comentários: redes sociais

Em 2023, Grimaldi visitou a exposição “CABOCLOS DA AMAZÔNIA — ARQUITETURA, DESIGN E MÚSICA” feita para artistas amazônidas, que aconteceu em São Paulo. A imagem do artista na exposição foi postada pela página Letras que Flutuam (@letrasqflutuam), que faz um mapeamento dos Abridores de Letras da Amazônia.

O que diz Filipe na assinatura da coleção da Riachuelo? 

No texto de apresentação da coleção da Riachuelo, a afirmação é de que Filipe desenvolveu uma série de símbolos, bordas e combinações de cores inspirada em: Carrocerias de caminhão, com origem no interior paulista, nos anos 1950. Placas informais, como as expostas em  supermercados. E por fim, a arte amazônida aqui definida como “letras decorativas amazônicas

O texto diz: “com origem no Norte do Brasil, a letra amazônica ou ‘letra de barco’ é ensinada de um letrista para outro durante quase um século, constituindo uma das maiores sabedorias populares desse país”. 

As imagens do projeto “Manifesto do afeto” não estão disponíveis no Instagram da Riachuelo ou no Instagram do artista. As imagens que estão nesta matéria foram retiradas do site da Riachuelo onde os itens estão disponíveis para compra.

Quem é  Filipe Grimaldi

Filipe Grimaldi é artista visual, letrista, professor, influenciador e muralista e ele afirma que seu estilo é influenciado por pesquisas de letreiros brasileiros e latino-americanos, estética conhecida como letrismo vernacular. Existem registros nas redes sociais de Grimaldi usando a tipografia desde janeiro de 2017.

Quem são os Abridores de Letras

Arte dos abridores de letra da Amazônia. Foto: Samia Batista
Arte dos abridores de letra da Amazônia. Foto: Samia Batista

Os artistas conhecidos como abridores de letras tem tradição na Amazônia  e criam os trabalhos na maioria das vezes em barcos, muros e fachadas.  É um ofício muitas vezes passado de pai para filho. Eles são responsáveis pelos belos e coloridos trabalhos que tem a cara do Pará e do norte do Brasil. 

O que diz o artista

O BT entrou em contato com a Riachuelo e com Grimaldi sobre as acusações feitas pela web. Via direct do Instagram o artista Filipe Grimaldi respondeu. Confira o texto na integra.

“Pesquiso sabedorias populares Latino Americanas há 10 anos, dentre elas estão o Fileteado Portenho, Carroceria de Caminhão, Letra de Barco Amazônica, Cartazismos e letra Chicha Peruana.
Todas essas sabedorias foram passadas de pintor letrista para pintor letrista e sempre cito meus mestres, mestres pelos quais fui autorizado a replicar e propagar esses saberes, trabalho diário que realizo em minhas redes. Além das aulas que leciono há 10 anos no SESC SP, uma instituição séria e comprometida com a difusão da cultura brasileira.
Sobre o caso da Riachuelo, utilizei em algumas peças da coleção um alfabeto amazônico de minha autoria, registrado, pintado há 3 anos em uma homenagem aos mestres abridores e ao mestre Luís em especial.

Esse trabalho foi 100% digital por conta de questões de produção, o que demandava técnicas onde não pude convidar um abridor de letras porém parte do valor recebido foi revertido ao mestre do Luís como forma de repartição de rendimentos.
Sobre o caso das peças com a marca banana frita, a gravura foi lançada há quase 1 ano e as peças de roupa no mês passado, fiz a mudança de nomenclatura da coleção de MITOS para LENDAS BRASILEIRAS a partir da sugestão do professor Manuel Teles especialista em folclore e lendas brasileiras.
Ressalto que o mau uso da internet como ferramenta de cancelamento digital esvazia as discussões contemporâneas, gerando confusão sobre os tema e desinteresse por parte dos mestres que detém os verdadeiros saberes
. Sem mais. Filipe Grimaldi”.

O BT também entrou em contato com a Riachuelo e aguarda retorno. O espaço segue aberto.


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