O Instituto Letras que Flutuam (@letrasqflutuam), se pronunciou nesta quinta-feira, 4, sobre a recente campanha “Manifesto do Afeto” lançada pela rede de lojas Riachuelo S/A, em parceria com o artista Filipe Grimaldi e a Disney, que gerou uma série de acusações, feitas por internautas, alegando apropriação cultural por parte do artista e da Riachuelo. Saiba mais sobre o caso clicando aqui.
Segundo a carta aberta publicada pelo instituto, a empresa utilizou letras de barcos amazônicas em uma coleção de roupas e objetos de decoração, sem dar os devidos créditos ou benefícios aos artesãos responsáveis pela criação destas letras.
Em carta aberta, o instituto ressalta que considera inaceitável que projetos utilizem as letras decorativas amazônicas visando apenas o lucro, sem contratar ou envolver os abridores de letras.
Também no texto publicado, o instituto afirma que nestes casos, os artesãos vivenciam uma dupla forma de apagamento. São eles: a suas existências ignoradas e seus saberes e técnicas apropriados sem qualquer reconhecimento.
O Instituto ainda defende que empresas desenvolvendo produtos baseados nessa produção cultural amazônica devem incluir os artesãos em seus processos de criação, realizando mediações justas e simétricas no estabelecimento destas parcerias.
O caso da coleção “Manifesto do Afeto” tomou repercussão quando internautas apontaram apropriação cultural por parte da empresa e do artista que assinou as peças comercializadas.
As peças da coleção anteriormente publicadas nas redes sociais da Casa Riachuelo, já não estão disponíveis no perfil, entretanto, até o fechamento desta matéria, os itens seguem disponíveis para compra no site da rede de lojas. Veja clicando aqui.
O que é o Instituto Letras que Flutuam?
O Instituto Letras que Flutuam é uma associação sem fins lucrativos que tem 15 anos de atuação em parceria com os artesãos de letras de barcos da Amazônia e que tem desenvolvido projetos de geração de renda, capacitação para o mercado e fortalecimento do saber tradicional.
A História e a Arte das Letras Decorativas Amazônicas
De acordo com pesquisas feitas pelo próprio instituto, e relatadas também em carta aberta, a pintura das letras de barcos amazônicos, conhecidas também como “Letras decorativas amazônicas”, se desenvolveu ao longo das décadas nos rios da Amazônia após a exigência da Capitania dos Portos de que os barcos fossem identificados. Ribeirinhos começaram a nomear e adornar os barcos, inicialmente com letras simples, que foram se tornando mais elaboradas e diversificadas.
Os rios serviam como meios de comunicação, e as cores e enfeites das letras eram transportados de um município a outro, influenciando outros ribeirinhos a criar letras com base em suas identificações e preferências. Assim, as letras decorativas amazônicas foram criadas, recriadas e adaptadas por artistas populares em diferentes comunidades.
O instituto ressalta que abrir letras é um saber territorializado exercido por artistas ribeirinhos em barcos que trafegam na bacia amazônica, no Tocantins e no litoral amazônico.
A Amazônia, que ocupa mais de 50% do território brasileiro, é uma parte vital da cultura brasileira e deve ser valorizada. O Instituto Letras que Flutuam convida todos a refletirem sobre a importância de respeitar e reconhecer os saberes tradicionais dos abridores de letras amazônicos.
Confira a nota na integra no perfil do Instituto no Instagram
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Apoio ao Diatipo-Belém e Debate sobre Apropriação Cultural
Nos dias 21, 22, 23 e 24 de agosto deste ano, acontece na capital paraense o evento DiaTipo Belém, considerado o maior evento de tipografia da Amazônia e que além de disponibilizar oficinas e palestras, visa promover o debate sobre a apropriação cultural predatória dos saberes e práticas das comunidades tradicionais. Nele, estarão presentes tanto membros do Instituto Letras que Flutuam, quanto o artista Filipe Grimaldi, responsável por assinar a coleção da Riachuelo apontada como apropriação cultural.
Na carta aberta, o Letras que Flutuam apoia o evento e afirma que é urgente construir bases para uma atuação mais justa, inclusiva e democrática nas áreas do design, publicidade, arte e culturas brasileiras, e ressalta que discutirá o tema no local.
Saiba mais sobre o evento no perfil oficial do mesmo no Instagram clicando aqui.
O que diz Filipe Grimaldi sobre o caso?
O artista Filipe Grimaldi, que assina a coleção lançada pela Riachuelo, falou com o BT e afirmou que já se pronunciou sobre o caso em nota oficial divulgada anteriormente clique aqui.
O artista ainda ressaltou que conversará sobre o assunto no DiaTipo Belém onde será feito um debate sobre o tema. Filipe, assim como membros da Associação Instituto Letras que Flutuam, fará parte do evento e está confirmado como palestrante.
Veja a confirmação de Grimaldi no perfil do evento
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Leia a nota de Grimaldi na integra:
“Pesquiso sabedorias populares Latino Americanas há 10 anos, dentre elas estão o Fileteado Portenho, Carroceria de Caminhão, Letra de Barco Amazônica, Cartazismos e letra Chicha Peruana.
Todas essas sabedorias foram passadas de pintor letrista para pintor letrista e sempre cito meus mestres, mestres pelos quais fui autorizado a replicar e propagar esses saberes, trabalho diário que realizo em minhas redes. Além das aulas que leciono há 10 anos no SESC SP, uma instituição séria e comprometida com a difusão da cultura brasileira.
Sobre o caso da Riachuelo, utilizei em algumas peças da coleção um alfabeto amazônico de minha autoria, registrado, pintado há 3 anos em uma homenagem aos mestres abridores e ao mestre Luís em especial.
Esse trabalho foi 100% digital por conta de questões de produção, o que demandava técnicas onde não pude convidar um abridor de letras porém parte do valor recebido foi revertido ao mestre do Luís como forma de repartição de rendimentos.
Sobre o caso das peças com a marca banana frita, a gravura foi lançada há quase 1 ano e as peças de roupa no mês passado, fiz a mudança de nomenclatura da coleção de MITOS para LENDAS BRASILEIRAS a partir da sugestão do professor Manuel Teles especialista em folclore e lendas brasileiras.
Ressalto que o mau uso da internet como ferramenta de cancelamento digital esvazia as discussões contemporâneas, gerando confusão sobre os tema e desinteresse por parte dos mestres que detém os verdadeiros saberes. Sem mais. Filipe Grimaldi”
O que diz a Riachuelo?
O BT entrou em contato com a rede de lojas Riachuelo sobre o caso e aguarda retorno. O espaço segue aberto.
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