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”Avô” da capivara Filó é um dos maiores causadores de fumaça no Amazonas, diz site

Elmar Tupinambá, avô de Agenor, TikToker que viralizou com a capivara Filó, está entre desmatadores da Amazônia.

Um levantamento realizado recentemente pelo site do Intercept, feito com relatórios do Ibama e Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, revelou os nomes de alguns agropecuaristas que participaram de uma série de desmatamentos que atingiu a região metropolitana de Manaus desde outubro. Entre eles está Elmar Cavalcante Tupinambá, avô do TikToker Agenor Tupinambá, que viralizou gravando vídeos com sua capivara, ”Filó”, no início do ano.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostrou dados afirmando que, dos 506 focos de incêndio registrados no estado do Amazonas em outubro, 258 estavam em Autazes, cidade localizada a 112 km de Manaus e também a maior bacia leiteira do estado, especialmente em ambientes de desmatamento recentes ou contínuos. De acordo com relatório do Ibama, Autazes perdeu cerca de 508 hectares de vegetação desde 2005 e foi tomada por um pasto que abriga 96 mil bois e búfalos.

Manaus é atualmente um dos grandes focos de fumaça e desmatamento nacional. Reprodução: Imagens da Internet.

“Isso é indício de que as queimadas ocorreram em áreas de pecuária, pois o uso do fogo para renovação do pasto é uma prática comum”, comentou Joel Araújo, superintendente do Ibama no Amazonas, para o Intercept. Entre os nomes divulgados dos desmatadores, está Elmar Cavalcante Tupinambá, que já chegou a ser multado em mais de 1,2 milhão, em fevereiro de 2022 pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, por destruir mais de 240 hectares de floresta próxima ao Rio Paraná Madeirinha e o Lago Imbaúba. Segundo dados liberados pelo Ibama e pelo IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), somente Elmar danificou quase 42% dos desmatamentos registrados na cidade nos últimos vinte anos.

Veja a lista divulgada pelo Intercept dos desmatadores que já foram multados por danificação florestal em Autazes:

Elmar Cavalcante Tupinambá R$1.225.435,00
Rosalina de França Martins R$545.000,00
João de Deus Albuquerque Lima R$465.000,00
Vagner Ferreira da Fonseca R$455.000,00
Efrani Assunção de Souza R$247.500,00
Diblaim de Souza Ramos R$240.591,75
Osimar Cavalcante da Silva R$187.500,00
Raimundo Nonato França Passos R$182.000,00
Júnior Gonçalves Pinheiro R$168.350.00
Alessandro Torres de Figueiredo R$144.050,00
Muni Lourenço Silva Júnior R$112.500,00
Willace Cavalcante Guedes Filho R$108.777,00

Joel Araújo também afirmou que esses desmatadores não seriam os únicos causadores dos problemas relacionados à fumaça em Manaus, uma vez que diversos crimes ambientais não chegaram a ser registrados por nenhum órgão. Ele ainda completou dizendo que isso foi altamente observado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, visto que entre 2020 e 2022, nenhum registro de crime de desmatamento foi registrado em Autazes. “Existe uma gama gigantesca de atividade agropecuária de desmatamento, com uso do fogo, que não foi fiscalizada”. Agenor Tupinambá postou uma foto emocionado com os comentários de ataque que recebeu pela divulgação dos feitos do avô.

O TikToker apareceu chorando em suas redes ao receber comentários de ódio por conta de seu avô. Reprodução: Instagram.

O presidente da Associação dos Pecuaristas e Produtores de Novo Céu e Autaz Mirim, Dalton de Lima Serudo Martins, postou um vídeo em sua conta no Facebook criticando Joel por ter comentado que os desmatadores seriam os responsáveis pelos problemas de fumaça em Manaus. “Os pecuaristas de Autazes não têm culpa desse fogo. Nosso bioma é isso mesmo, é mato, é capoeira, é floresta”. Martins ainda falou sobre o pronunciamento do Ibama ao Intercept que “nada mais é que eles tinham que jogar a batata quente pra alguém assumir a culpa, já que eles ficam jogando ela de um órgão para o outro”.

Ele disse que teria se chateado pelo Ibama ter emitido uma posição em dois dias de análises falando de algo que ”ninguém viu eles fazerem”. “O desmatamento clandestino para algumas práticas realmente influencia” na fumaça, mas que a pecuária no Amazonas não é igual à do resto do país, porque para realizar qualquer atividade relacionada à agricultura ou pecuária lá, “você tem que ter uma licença ambiental que leva praticamente anos pra conseguir”, completou ele.