A coisa ficou tão feia que subvertemos o conceito de “marketing”. Marketing é a arte de vender a partir de uma boa estratégia que entenda e saiba como ressaltar os pontos fortes de um produto. Marketing não é contar mentiras.
Existe marketing de oportunidade que exige uma inteligência sofisticada e muita delicadeza. Existe oportunismo, que é quando alguém tenta descaradamente se promover em cima de um fato desagradável. E existe o que eu chamo de esperteza, que é simplesmente querer fazer o outro de besta.
Vou deixar a classificação da ação da banda paraense AR-15, por conta de vocês. Então vamos a história…
Há dois dias a esposa de Harrisson Lemos, Carol Lemos, ambos vocalistas na banda, divulgou uma foto do que seria uma traição do marido com uma amiga.
Aí estava a cama pronta da novela das nove que quase todo mundo ama. Traição. E ainda pior, do marido com a amiga. A cena final, obviamente, mais esperada no próximo capítulo – e a mais sexista da televisão – seria a esposa traída esbofeteando a amante-fura-olho.
Não por acaso a Dra. Deolane é o maior fenômeno dos últimos tempos no Brasil. Essa figura da mulher traída provoca revolta e desperta o senso de solidariedade porque no mínimo 99,9% das mulheres já fizeram este papel. É a jornada da heroína que se reconstrói depois de ter sido destruída.
Mais de 4 mil comentários, centenas de mulheres declarando solidariedade, com palavras de consolo. “Carol, você é luz, você é uma mãe admirável, você é linda, maravilhosa”, disse uma seguidora.
Outra não conteve a indignação. “Não te rebaixa, Carol, mas também não deixa ele na melhor, bota pra lascar”, disse.
Meu felling jornalístico já me dizia que aí tinha coisa armada. O nosso colunista, Danilo Lima, deu a matéria, mas alertou sobre a possibilidade de ser fake. A essa altura o público que não é burro, já cogitava essa triste hipótese. Inclusive a cantora Viviane Batidão comentou na publicação dizendo que se fosse ação de marketing pro novo trabalho, seria “ruim”.
Nos stories Carol soltou textos “revoltada” mostrando que estava bloqueada da conta de Harrisson. E por aí seguiu o pastelão que já apontava a fic de péssimo gosto.
Até que Carol mandou a real, mas claro, não sem antes colocar o link do clipe nos stories com a cena que todo mundo queria ver: a traição sendo descoberta.
O suposto “desfecho” da narrativa terminou de colocar em cheque a inteligência do público, quando Carol afirma que foi vítima de uma trollagem armada pela equipe do clipe.
Depois da repercussão negativa da ação, Carol fez um vídeo criticando as pessoas que vão para as redes falar mal do que ela chama de “trabalho dos outros”. “Eu não vou desmerecer jamais o trabalho de uma pessoa porque não fez do jeito que eu achava que tinha que fazer, gente olhem pro rabo de vocês.. se não vou começar a expor aqui vocês”, conclui Carol.
Oi?
Enquanto isso, Bob Flay, que participou do clipe, insiste na farsa em seus stories, como se o público ainda estivesse acreditando na armação, “todo mundo perguntando, teve chifre? Não teve chifre? Muito fofoqueiro vocês”
A que ponto chegamos?
Chegamos no ponto de onde não sabemos mais como voltar. Acreditem, porque não entende nada de marketing é que a pessoa comemora a repercussão de um vídeo do Tik Tok ao lado da mãe doente.
Parece piada, mas o Brasil está entre os campeões de mortes causadas por selfies, tipo quando a pessoa vai bater uma “foto incrível” na beira de um penhasco, despenca e morre.
Sim, estamos vivendo na beira desse penhasco do vale tudo pela atenção preferindo os encurtamentos de caminhos, usando a justificativa de que enganar ou ser oportunista é fazer “marketing”. Mas isso tem outro nome.
Não confundam as coisas. Mentira não é marketing, mentira é desrespeito, mentira é achar que o público é besta.