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Bruno e Dom: PF investiga cinco suspeitos de envolvimento no caso. Para Univaja, assassinato foi crime político

A Polícia Federal (PF) ampliou as investigações sobre o brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. A morte de Bruno e Dom foi confirmada pelo órgão federal apenas na noite desta quarta-feira, 15, durante uma entrevista coletiva com o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Eduardo Alexandre Fontes. A PF informou que o crime foi confessado pelo pescador Amarildo Oliveira, conhecido como “Pelado”.

As investigações do crime foram ampliadas e indicam a possível participação de cinco pessoa no crime, entre elas:

1 – três suspeitos de envolvimento direto na morte de Bruno e Phillips;

2 – Um suposto envolvido na tentativa de ocultar os restos mortais (que foram recolhidos pela PF e poder ser das vítimas);

3- Um possível mandante do crime.

Estas informações foram divulgadas nesta quinta-feira, 16, pelo canal Globo News, que apurou junto a fontes da corporação.

Até agora, apenas duas pessoas foram presas por suposto envolvimento no desaparecimento da de Bruno e Dom:  Os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, que foi quem confessou o crime, e Oseney da Costa de Oliveira.

Nesta quarta-feira, 15, antes de confessar o crime, um vídeo de “Pelado” foi publicado nas redes sociais. Nele, o barco onde estava o pescador encontra com a embarcação onde estava Bruno Pereira. Veja aqui.

O QUE DISSE A PF:

Superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes detalhou a apuração em coletiva de imprensaPF / Reprodução

“Ontem a noite nós conseguimos que o primeiro preso neste caso, conhecido por Pelado, voluntariamente resolveu confessar a pratica criminosa. Durante a confissão ele narra com detalhes o crime realizado e aponta o local onde havia enterrado os corpos”, afirmou Eduardo Alexandre Fontes, superintende regional da PF em coletiva de imprensa.

CRIME POLÍTICO, DIZ UNIÃO DOS POVOS INDÍGENAS:

Em nota divulgada depois da confirmação dos assassinados, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) classificou o caso brutal como crime político e pediu a continuidade das investigações: “ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados”, diz a Univaja em nota parcialmente divulgada em suas redes sociais e na integram em seu site. Veja aqui.

Leia na íntegra:

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), movimento indígena representativo dos povos que habitam na Terra Indígena Vale do Javari – Marubo, Matis, Matsés, Kanamari, Korubo, Tsohom-dyapa e povos indígenas isolados – vem a público se manifestar sobre o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dominic Phillips. Nos solidarizamos com as famílias de Bruno e Dom, nossos parceiros, expressando o nosso pesar e profunda tristeza diante dessa perda. Para nós, povos indígenas do Vale do Javari, é uma perda inestimável. Hoje, 15/06/22, após 11 dias de buscas, obtivemos a notícia de que os corpos de Pereira e Phillips, nossos parceiros e defensores dos Direitos Humanos, foram encontrados pelos órgãos competentes envolvidos nas buscas. Diante desse fato, a Unijava vem à público destacar dois aspectos:

1-Agradecimento à EVU, ao 8º Batalhão da Polícia Militar em Tabatinga, e à imprensa nacional e internacional: Nós, Univaja, participamos ativamente das buscas desde o dia 05/06/22 através da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU). Fomos os primeiros a percorrer o rio Itaquaí atrás de Pereira e Phillips ainda no domingo, primeiro dia do desaparecimento dos dois. Desde então, a única instância que esteve ao nosso lado como parceira nas buscas foram os policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM). Fomos nós, indígenas, através da EVU, que encontramos a área que, posteriormente, passou a ser alvo das investigações por parte de outras instâncias, como a Polícia Federal, o Exército, a Marinha, o Corpo de Bombeiros etc. Foi a equipe de vigilância da Univaja que entrou na floresta em busca de Pereira e Phillips para dar uma satisfação aos seus familiares. Foi a equipe de vigilância da Univaja, a EVU, que indicou para as autoridades o perímetro a ser vasculhado em profundidade pelos órgãos estatais. Para isso, nós contamos com a colaboração e proteção constante dos policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM): os únicos a nos tratarem como verdadeiros parceiros na busca, valorizando o nosso conhecimento e a nossa sabedoria enquanto povos indígenas, conhecedores do nosso território. Viemos à público prestar agradecimentos ao Coronel Cavalcante, aos policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM) que nos acompanharam nas buscas, e também à imprensa nacional e internacional que foi nossa parceira, nos ajudando a levar para o mundo inteiro ouvir a nossa voz e conhecer o que está acontecendo em nossa região.

2-O caso não terminou: Sabemos também que, ao longo das buscas, as forças policiais efetuaram duas prisões: Amarildo da Costa Oliveira (vulgo Pelado) e Oseney da Costa Oliveira (vulgo Dos Santos). No entanto, a Univaja compreende que o assassinato de Pereira e Phillips constitui um crime político, pois ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados. Desde 2021, a Univaja qualificou informações sobre as invasões na Terra Indígena Vale do Javari, através da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU). Enviamos uma série de ofícios com informações qualificadas ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio. Nesses ofícios, indicamos a composição de uma quadrilha de pescadores e caçadores profissionais, vinculados a narcotraficantes, que ingressam ilegalmente em nosso território para extrair nossos recursos e vendê-los nos municípios vizinhos. Fornecemos informações através de nossas denúncias às autoridades competentes. Mas as providências não foram tomadas com a devida rapidez. Por isso, hoje assistimos ao assassinato de nossos parceiros: Pereira e Phillips. Diante disso, manifestamos nossa preocupação com a continuidade das investigações. Pelado e Dos Santos fazem parte de um grupo maior, nós sabemos. Manifestamos nossa preocupação com nossas vidas, a vida das pessoas ameaçadas (pois não era somente o Bruno Pereira), componentes do movimento indígena, quando as Forças Armadas e a imprensa se deslocarem de Atalaia do Norte. O que acontecerá conosco? Continuaremos vivendo sob ameaças? Precisamos aprofundar e ampliar a investigação. Precisamos de fiscalização territorial efetiva no interior da Terra Indígena Vale do Javari. Precisamos que as Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) da Funai sejam fortalecidas.