Cantor, compositor, guitarrista, produtor musical e quase filósofo: este é Felipe Cordeiro, que foi mais um convidado para participar do podcast e videocast ‘Amazônia no Ar’, com a jornalista Mary Tupiassu. Em uma conversa divertida de mais de uma hora, o artista falou sobre a infância, do pai – Manoel Cordeiro, a família de músicos, lambada, parcerias musicais, prêmios, polêmicas e muito mais!
FAMÍLIA DE MÚSICOS
Felipe falou sobre a herança musical dentro da família. “É uma honra ter nascido em um contexto familiar tão musical. Além do meu pai, tinha meu tio Barata, outros tios como o Cordeirinho – que mora em Bragança. Reza a lenda que o Ataulfo Alves foi cantar no Ceará e meu avô deu uma canja com ele. Meu avô ficou empolgado com a vida de músico, queria ir para o Rio de Janeiro, mas o pai dele falou que ou ele ia pra guerra ou ia ser seringueiro na Amazônia. Aí ele veio pro Marajó, se instalou lá. E aí meu avô era músico também, minha família era cheia de músicos”, contou.
O cantor ainda falou sobre um sonho antigo: ser professor de Filosofia. “Eu queria ser professor. Primeiro eu queria ser professor de Literatura. Aí depois eu estudei Filosofia e quis ser professor. A única coisa que eu faria, que não fosse música, seria ser professor. É uma coisa que eu gosto. De estudar, de trocas, do debate, conversas nesse âmbito”, disse.
TARJA PRETA
Felipe falou ainda sobre a criação e a inspiração para ‘Tarja Preta’, um dos maiores sucessos da carreira. “Eu e meu pai estávamos na turnê do Turruá Pará e a Keila Gentil, minha amiga querida, chegou no camarim dizendo que era muito tarja preta. Eu nunca tinha ouvido isso e perguntei o que quer dizer, e ela disse: ‘a gente chega no baile, sobe na mesa e ficam tudo com medo'”, narrou.
Ao ser questionado se a faixa foi feita em homenagem à amiga, o artista confirma: “exatamente! E a gente começou a brincar, chamar de tarja preta. Aí no estúdio meu pai ligou o teclado e fez uns solos e apelidou de tarja preta. E eu estava em uma de compor com o Arnaldo Antunes já tinha um tempo, aí no camarim do Prêmio Multishow 2012 ele me mandou ir na casa dele no dia seguinte. Aí fui, com Betão Aguiar e a Luê. Sentamos numa roda, abrimos duas garrafas de vinho, Arnaldo foi comandando, eu cheguei com esse refrão pronto do meu pai e compomos em cima dessa história da Keila”, relembrou.
PARCERIAS DO CANTOR
Felipe Cordeiro falou também sobre as parcerias musicais que já fez e o que o motiva nessas escolhas. “Interesse artístico, interesse na música paraense, na música do norte, na música brasileira. Interesse no meu crescimento, no de uma obra”, avaliou.
Sobre a parceria com a cantora Zaynara, Felipe conta como o primeiro contato aconteceu. “Eu tinha visto ela na internet em 2022, pelos vídeos dela cantando no Portal da Amazônia e aí eu escrevi pra ela. Ela é maravilhosa, talentosíssima, tem a cara do Pará, uma voz linda. E aí ela disse que era minha fã e começamos a trocar ideia pela internet. Aí eu fui fazer um show 4 ou 5 meses depois, no Apoena, e convidei ela pra participar. Junto com a Valéria Paiva, Fruto Sensual, a Keila”, relembrou.
Sobre a relação com outra estrela paraense, Gaby Amarantos, o cantor rasgou elogios. “Ela é maravilhosa, eu sou muito fã dela. Uma voz, uma atitude, uma sabedoria, uma inteligência que é bastante comovente. A gente é bastante amigo. A gente já fez várias colaborações ao vivo, em shows, eu nos dela e ela nos meus. Já fizemos shows juntos”, disse.
Ele também falou da mais recente parceria com Gaby, “A Lambadeira”, o artista falou sobre a produção. “É uma música mais recente, tem dois anos que fiz. Desde que eu fiz o começo da melodia eu queria que a Gaby cantasse. Eu imaginava a potência vocal dela na música”, contou.
LAMBADA
O artista também falou sobre a Lambada, gênero que aprendeu dentro de casa. “Ritmo é uma coisa, gênero é outra. Ritmo é uma célula rítmica que você pega uma partitura e escreve. Gênero não. Rock é um gênero, não é um ritmo, por exemplo. A Lambada é um gênero, ou seja, ela é um guarda-chuva, uma síntese de vários ritmos. Uma mistura de coisas do Caribe, coisas do Pará. A medida que foi fazendo sucesso foi ganhando outros elementos”, explicou.
Felipe ainda reforçou que a Lambada tem o Pará como berço, mas que isso foi apagado com o tempo. “É um problema antigo e que acontece de vez em quando: a não observação dessas informações que vem da Amazônia. Como na mídia a Lambada aconteceu no final dos anos 80 ali pela Bahia, começaram a contar a história desse jeito e apagaram tudo o que tinha acontecido antes. A Lambada é um fenômeno paraense, do Norte do Brasil”, afirmou.
POLÊMICA DO ROCK IN RIO
Felipe comentou ainda sobre a polêmica do “Dia do Brasil”, no Rock in Rio 2024, em que nenhum artista do Norte foi convidado. “Eu inventei essa expressão Música Parcialmente Brasileira para provocar reflexão sobre uma coisa: a produção musical brasileira que foi desenvolvida no século 20, embora genial, ela é fechada em um universo específico do Brasil. E a Amazônia está fora desse recorte”, avaliou.
E seguiu: “Se anuncia o maior encontro da música brasileira e você está focado em um quadrilátero e não tem a Amazônia…Agora fica constrangedor para um curador do eixo usar a palavra Brasil e não ter Amazônia. Aí é um Brasil parcial. Isso era muito naturalizado, até a gente ir lá dar a cara a tapa. Tem lutas que valem a pena e essa é uma. A música brasileira do século 21 ela, necessariamente, precisa das informações da música da Amazônia”, defendeu.
BANDA DJAVÚ
Felipe comentou ainda sobre a polêmica envolvendo a banda baiana Djavú com artistas paraenses. “Em termos abstratos, não seria um problema uma banda da Bahia gravar um technobrega. Pelo contrário, seria uma coisa tranquila. Mas o problema da banda Djavú não é baianos tocando brega, mas ela se apropriou de várias músicas aqui do Pará, fez muito sucesso com essas músicas e não davam os créditos. Isso é um problema de ética. Mas sobre qualquer pessoa do mundo cantar technobrega, eu acho massa”, afirmou.