O CASO
A polícia investiga a morte de 10 pessoas em três estados diferentes do país. Agentes do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais buscam desvendar os motivos, os detalhes e os culpados por trás do crime que envolve a família da cabeleireira Elizamar da Silva, de 39 anos, que havia desaparecido junto de seus três filhos pequenos, no dia 12 de janeiro. No dia seguinte (13), seu carro foi encontrado próximo à região de Cristalina (GO), no entorno do DF. Quatro corpos estavam no veículo, carbonizados.
A perícia confirmou que eram Elizamar e seus três filhos: Gabriel da Silva, de 7 anos; e os gêmeos Rafael e Rafaela da Silva, de 6 anos. A cabeleireira também era mãe de um rapaz de 24 anos e de uma jovem de 18 anos, que avisaram a polícia sobre o desaparecimento. Segundo os filhos, depois de sair de casa, a cabeleireira parou de responder às mensagens no celular e não atendeu mais o telefone.
MAIS DESAPARECIMENTOS
Elizamar teria saído de casa para buscar o marido, Thiago Gabriel Belchior, de 30 anos. Porém, no mesmo dia do desaparecimento da cabeleireira e seus filhos, Thiago também sumiu com a irmã, o pai e a mãe.
No sábado (14), dia seguinte ao carro de Elizamar ser encontrado, policiais de Unaí (MG), acharam o carro do sogro da cabeleireira, Marcos Antônio, pai de Thiago, queimado. Dentro do veículo estavam os corpos da mãe de Thiago, Renata Belchior, de 52 anos, e de sua irmã, Gabriela Belchior, de 25 anos. O acontecimento levou as autoridades a considerar a possibilidade de Thiago e Marcos serem os autores do crime.
OUTROS DESAPARECIDOS
No dia 17 de janeiro, a polícia incluiu mais duas pessoas desaparecidas que estariam ligadas ao caso. A ex-mulher de Marcos, Claudia Regina Marques de Oliveira, de 55 anos, e a filha deles, Ana Beatriz Marques de Oliveira, de 19 anos. Elas teriam desaparecido entre os dias 12 e 13 de janeiro.
Os corpos de Claudia e Ana foram encontrados dentro da cisterna de uma casa abandonada no Núcleo Rural Santos Dumont, em Planaltina (DF), a 5 km do cativeiro onde o corpo de Marcos Antônio havia sido encontrado na madrugada desta terça-feira (24).
Junto delas estava o corpo de Thiago Gabriel Belchior, o marido de Elizamar. A equipe de necropapiloscopia do Instituto de Medicina Legal (IML) identificou os corpos de Claudia e Thiago através das impressões digitais.
O corpo de Ana Beatriz precisou ser encaminhado para o Instituto de Pesquisa de DNA Forense, da PCDF, para a realização de exames genéticos.
SUSPEITOS E ACUSADOS
Na quarta-feira (18), o corpo de Marcos Antônio Lopes de Oliveira foi encontrado, enterrado e esquartejado com a cabeça separada do corpo, em um local que teria funcionado de cativeiro, em Planaltina, onde Renata e Juliana teriam sido mantidas, de acordo com o depoimento de um dos três suspeitos do crime detidos pela polícia. O suspeito também disse que o crime havia sido encomendado por Thiago e Marcos Antônio. No entanto, segundo o delegado Ricardo Viana, da 6ª Delegacia de Polícia, no Paranoá, responsável pelo caso, essa hipótese vem perdendo força.
Horácio Carlos Ferreira Barbosa, de 49 anos, contou que ele e Gideon Batista de Menezes, de 55 anos, receberam R$100 mil para matar a cabeleireira, os três filhos, a sogra e a cunhada dela. Gideon ficou em silêncio durante o depoimento. Ele trabalhava com Marcos Antônio e morava no mesmo lote que a família. Ele e Marcos haviam se conhecido no Complexo Penitenciário da Papuda, onde ficaram presos no mesmo pátio. Eles mantiveram amizade após saírem da prisão. A polícia o aponta como o mentor do crime. De acordo com os depoimentos dos outros suspeitos, ele foi quem planejou toda a chacina. Quando foi preso, Gideon tinha queimaduras nas mãos e no rosto.
Horácio disse que estava na chácara da família, na região de Paranoá, no dia 11 de janeiro, junto de Thiago e Gideon. Segundo ele, Thiago ligou para a esposa e pediu para ela ir ao local. Quando a mulher chegou, os três homens, com os rostos cobertos, anunciaram um assalto. Imagens de uma câmera de segurança mostram o suspeito em um posto de gasolina próximo do local, na noite anterior aos assassinatos.
Ainda segundo o depoimento do suspeito, a mãe e irmã de Thiago teriam sido sufocadas antes de o carro ser queimado. Porém, a investigação ainda não tem certeza se isso é verdade.
O terceiro suspeito preso foi Fabrício Silva Canhedo, de 34 anos. Ele teria sido o responsável por vigiar as vítimas no cativeiro.
Horácio também disse à polícia que outras duas pessoas participaram do crime, uma amante de Marcos e a filha dessa mulher. Essas seriam Claudia e Ana Beatriz. O suspeito disse que Marcos pretendia fugir com elas depois de conseguir o dinheiro.
A polícia prendeu também, às 21h30 da noite desta terça-feira (24), que apreendeu um adolescente de 17 anos suspeito de participação na chacina. O jovem disse aos policiais que recebeu R$2 mil, e que receberia mais R$3 mil de “comparsas” para participar do crime. Ele também disse que esteve no cativeiro onde as vitimas foram mantidas. O adolescente foi encaminhado para a 6ª Delegacia de Polícia, no Paranoá, que investiga os homicídios. Ele prestou o depoimento acompanhado de um responsável.
De acordo com a polícia, o rapaz foi levado à delegacia porque havia dois mandados de roubo contra ele. Porém, no local foi constatado que os mandados estavam expirados desde o dia 21 de janeiro. O jovem foi liberado com um ato infracional instaurado.
O quarto suspeito preso é Carlomam dos Santos Nogueira. Ele se entregou à polícia nesta quarta-feira (25). As investigações apontam que Carlomam conhecia as vítimas e pelo menos um dos outros suspeitos.
Durante a investigação, a polícia do DF encontrou impressões digitais de Carlomam no cativeiro usado pelos criminosos e também no carro de um dos suspeitos.
Em 2018, Carlomam foi investigado em operação da Polícia Civil do Distrito Federal contra presos em Brasília que haviam se filiado e tornado-se membros de uma facção criminosa que age dentro e fora das penitenciárias do Brasil. O nome do procurado aparece na “Operação Prólogo”.
MOTIVAÇÃO
A polícia suspeita que o crime tenha sido motivado por dinheiro. Elizamar tinha uma quantia de R$100 mil recebida por um empréstimo bancário para investir no seu salão de beleza.
Renata Belchior, mãe de Thiago e esposa de Marcos Antônio, tinha R$400 mil recebidos pela venda de um imóvel.
Cláudia Regina, ex-mulher de Marcos Antônio, tinha uma quantia guardada, também pela venda de um imóvel em dezembro do ano passado, além de R$40 mil em dinheiro que estavam com ela.
Horácio Carlos Ferreira, um dos suspeitos presos, disse em depoimento que Thiago queria “dar um susto” em Elizamar, e que Marcos Antônio queria matar a própria mulher para ficar com o dinheiro que ela havia recebido pela venda da casa. Horácio também disse que Marcos pretendia fugir com o dinheiro. No entanto, a hipótese de que pai e filho seriam os mandantes do crime vem perdendo força depois que ambos foram encontrados mortos, mas a polícia não a desconsidera.
Na casa de um dos suspeitos presos por suposto envolvimento no crime, Gideon Batista, a polícia encontrou R$14 mil em espécie. Já na conta bancária de outro suspeito preso — Horácio Barbosa, foram encontrados R$40 mil. A polícia suspeita que o dinheiro pertença às vítimas.
Na chácara onde Elizamar e seus filhos foram mortos, a polícia encontrou um bilhete que poderia ter sido usado para atrair Thiago e sua família : “Chefe, como está seu dia? vou precisar de ajuda urgente. Thiago, tem como você vir na chácara, que vou explicar o que (está) acontecendo. Se puder vir hoje, com Elizamar e os meninos”, diz o texto.
A suspeita é de que Gideon tenha escrito o bilhete, pelo remetente se referir a Thiago como “chefe”. Ele trabalhava como caseiro para a família.
COMO AS VÍTIMAS MORRERAM?
Elizamar e seus filhos: Segundo Horácio, quando Elizamar e os filhos chegaram ao local combinado com Thiago ao telefone, os três (Thiago, Horácio e Gideon) anunciaram o assalto, com os rostos cobertos. Após isso, Elizamar teria infartado, fazendo com que a situação saísse de controle.
Ainda segundo Horácio, Thiago teria ligado para o pai para pedir ajuda. Em seguida, comunicou a Horácio e Gideon que seria necessário executar as crianças. As crianças foram mortas dentro do carro, o corpo da mãe teria sido posto no veículo, que foi queimado depois.
Renata e Gabriela Belchior: De acordo com Horácio, Renata e Gabriela foram sequestradas e mantidas no cativeiro de Planaltina, onde o corpo de Marcos Antônio foi encontrado.
A polícia disse que o local era vigiado por Fabrício Silva Canhedo – o terceiro suspeito preso. Renata e Gabriela teriam sido mantidas por cinco dias em cativeiro.
Durante o período em que ficaram sob o poder dos criminosos, as vítimas foram ameaçadas para fornecer senhas bancárias e responder mensagens de familiares.
Renata e Gabriela teriam sido assassinadas em Unaí (MG), local onde o carro de Marcos Antônio foi encontrado carbonizado.
Marcos Antônio: Não existem detalhes de como Marcos foi morto, ou quem o matou. No local onde o corpo foi encontrado, a polícia encontrou também vestígios de sangue em uma sacola plástica, além de respingos pela casa.