Se a Amazônia fosse uma pessoa, certeza que a humanidade seria sua Covid. Tal qual a doença que tirou a vida de mais de 610 mil brasileiros, nossa raça se esforça para sufocar o bioma mais rico do mundo, e que ocupa nada menos que 40% do território nacional.
É justamente essa riqueza que desperta a cobiça de gente que se aninha nos alvéolos verdes da floresta. Só que, tal qual parasitas, esses posseiros não se contentam em se nutrir do que a floresta dá para todos – querem, através da cerca e do chumbo, garantir a propriedade de um tesouro coletivo e com isso assegurar a exclusividade de sua exploração. O parasita florestal não se importa com o bem comum – ele destrói o hospedeiro para se dar bem, alheio ao fato de que é incapaz de sobreviver sozinho.
Esse vírus humano já produziu diversas variantes – tem a variante motosserra, a variante garimpo, a variante soja e, de uns tempos pra cá, cresceu muito a variante gado. Esta última, aliás, respondeu prontamente ao toque do berrante que permitiu passar a boiada sobre a legislação ambiental: dados da Ong Imazon, que utiliza um sistema de satélites para observar a floresta, apontam que a taxa de destruição da Amazônia aumentou mais de 4 vezes entre 2017 e 2021 – e todos nós sabemos o que aconteceu com este país à partir de 2018.
O desmatamento explodiu durante a gestão Bolsonaro – um presidente que, da posse até meados de 2021, teve como ministro do meio ambiente ninguém menos que Ricardo Salles, figura conhecida por suas ligações com o agronegócio e que já que havia até sido condenada por improbidade administrativa durante o tempo em que atuou como secretário de meio ambiente de São Paulo, justamente por colocar interesses econômicos na frente dos esforços de conservação. Para os ambientalistas, Salles era o avesso do que se espera de um ministro do meio ambiente – para Bolsonaro, a escolha ideal justamente por contrariar os ambientalistas.
O resultado da (falta de) política ambiental do governo Bolsonaro é que nos 3 anos de sua gestão o desmatamento saltou de 6.200 quilômetros quadrados em 2016 – um número que já era elevado, considerando que no último ano do governo PT esta taxa girava em torno de 3 mil km devastados por ano – para mais de dez mil km2 em 2021.
Segundo os pesquisadores do Imazon, 2021 teve um aumento de 29% no desmatamento em relação ao ano anterior. Mais do que isso, foi também o pior ano da história para a floresta tropical desde que a Ong começou a monitorar a área verde, lá em 2008.
A título de comparação, as árvores que deixaram de existir na floresta amazônica no ano passado ocupam uma área equivalente a metade do estado de Sergipe, e 47% dessa destruição ocorreu em áreas federais. O desmate, infelizmente, também avançou na direção de áreas de conservação – locais que, em tese, deveriam ser santuários naturais… mas que não estão livres da cobiça do homem e da omissão dos governos.
Aliás, o governo federal parece viver em uma realidade paralela, tipo daquele seriado Loki, onde suas ações de combate são exemplares. Digo isto porque, quando questionado sobre a situação da floresta, a resposta de Brasília (quando vem) é destacar o êxito nas ações de combate a crimes ambientais – infelizmente para eles, a realidade se encarrega de nos mostrar o contrário… como quando o presidente se gabou, durante a abertura do Circuito Agro do Banco do Brasil, de ter reduzido em 80% as multas para crimes no campo.Segundo o inquilino do planalto, essa redução significa que o país parou de ter “grandes problemas com a cuestão ambiental”, o que foi prontamente classificado como um “avanço” – só que, pra qualquer pessoa lúcida, fica evidente que único avanço que demos foi na direção da nossa extinção.