Membros da comunidade quilombola do Abacatal denunciam que pela segunda vez, uma jovem do quilombo foi vítima de racismo na escola estadual Eneida de Moraes, no Júlia Seffer, em Ananindeua. Segundo a família, uma reunião com a escola para tratar do caso foi feita nesta quarta-feira, mas não avançou com medidas de combate, como a comunidade esperava. A menina é estudante do primeiro ano do ensino médio na instituição.
Comunidade quer providências
Um boletim de ocorrência será feito na polícia, assim como uma manifestação pedindo providências.
“FIzeram bullying e racismo comigo dentro de sala de aula, me chamando de “preta”, “macaca”, que eu era preta igual ao meu sapato, e várias outras coisas. Desde que o ano letivo começou fazem piadas de mau gosto comigo. Percebi que eles riam e achavam engraçado, e eu comecei a pensar que aquilo não era engraçado e não era brincadeira. Eu já tinha conversado com eles, mais eles não ligaram, eu não aguentei e comecei a chorar. Minhas outras duas amigas queriam me defender mais e não deixei, mas elas me levaram para a diretora e falei o que estava acontecendo comigo. Minha mãe foi na escola, teve uma reunião com a diretora para resolver, falar com os pais dos adolescentes que fizeram isso, não resolveram nada e os adolescentes foram para a sala de aula, não teve suspensão e nem expulsão pela parte dos alunos,”, relata a adolescente ainda abalada com o que viveu.
“A gente vai fazer uma manifestação, porque a direção da escola está se mostrando omissa para a resolução do caso, porque o caso é recorrente, é a segunda vez que acontece com a mesma aluna. E já aconteceu com outros alunos da comunidade de Quilombola do Abacatal, e consta no registro, no livro do registro de ocorrência da escola, que nunca aconteceu crime nenhum referente a racismo dentro da instituição, e isso é uma informação leviana, porque a escola tinha por obrigação de registrar esses acontecimentos”, adverte Tamiris que é uma das coordenadoras do quilombo.
O BT solicitou um posicionamento a respeito para a Secretaria de Educação do Pará (Seduc) e aguarda retorno.
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O Quilombo do Abacatal divulgou uma nota de repúdio ao caso:
“A Associação de Moradores e Produtores Quilombolas do Abacatal/Sitio Bom Jesus/AMPQUA vem por meio desta, expressar todo seu repúdio, descontentamento e revolta com um fato acontecido no dia (23/04/24), com uma adolescente moradora do território quilombola de Abacatal. Ontem, Mariane Teixeria, 15 anos , foi vítima de racismo por um grupo de adolescentes nas dependências da escola ENEIDA DE MORAES, localizada no conjunto Julia Seffer, na região metropolitana de Belém, tendo em vista esse que não é o primeiro caso de racismo contra alunos da escola, e contra crianças da nossa comunidade, a mesma afirmou que já sofreu do mesmo crime em 2022, e o ocorrido se quer foi registrado no livro de ocorrências da escola. Gostaríamos de deixar registrada nossa mais pura indignação contra a gestão da escola que vem demonstrando total falta de respeito para com as vítimas desse crime tão danoso para quem o sofre, podendo deixar uma criança traumatizada para o resto da vida dela. Por fim, gostaríamos de contar com o poio da sociedade para o combate mais efetivo contra esse crime violento. No vídeo acima a mãe, Maria Edileia Teixeira , a qual autorizou a divulgação dos fatos e ao saber da posição que a escola resolveu tomar, na verdade pela falta de posicionamento , veio a público reivindicar respeito e justiça por sua filha”.
Em nota, a Seduc disse o seguinte:
“A Secretaria de Estado de Educação informa que equipes da Coordenadoria dos Povos Indígenas e da Assessoria de Convivência já estão atuando no caso e irão fazer o acolhimento da adolescente, vítima de racismo. A equipe multidisciplinar vai realizar rodas de conversa, atividades de conscientização antirracista e importância da equidade racial na comunidade. A Seduc ressalta ainda que repudia qualquer amanifestação de racismo ou conduta que possa prejudicar qualquer pessoa ou grupo social”.