Lideranças indígenas e movimentos sociais realizaram um protesto pacífico nesta quinta-feira, 21, na Blue Zone da COP-29, em Baku, no Azerbaijão. O ato movido por povos originários denunciou impactos socioambientais do projeto Ferrogrão (EF-170) e outras infraestruturas na Amazônia.
Alessandra Korap, liderança indígena Munduruku e vencedora do Prêmio Goldman 2023, atuou como voz principal durante o ato, lendo uma carta personificando o Rio Tapajós contra a construção do corredor logístico: “Empresto a voz dos humanos que em mim habitam para pedir socorro. Querem me transformar em um corredor logístico de soja, mas minha razão de existir é outra: sou um corredor de biodiversidade, de vida e ancestralidade. Quero estar vivo!”, afirmou.
Durante o ato, Alessandra também criticou a postura do governo brasileiro na conferência climática: “Não adianta o governo falar sobre mudanças climáticas enquanto libera mineração, créditos de carbono e projetos como a Ferrogrão, que destrói nossas terras e culturas. Essas obras de logística não funcionam para a Amazônia e impactam negativamente a vida dos povos tradicionais”, afirmou.
O protesto ocorre em um momento em que o governo acelera projetos ferroviários, como a Ferrogrão. Nesta semana, o Ministério dos Transportes decidiu transferir para a União o licenciamento ambiental dessas obras, buscando atrair investimentos com maior segurança jurídica. Ambientalistas, no entanto, criticam a medida como um retrocesso que desconsidera os impactos sociais e ambientais na região.
IMPACTOS AMBIENTAIS
Durante a manifestação, Alessandra denunciou o impacto de projetos portuários no Rio Tapajós, que já concentra 41 iniciativas, das quais apenas cinco possuem licença ambiental. Ela também destacou a importância de consultas prévias, conforme exige a Convenção 169 da OIT: “Querem nos silenciar, mas temos o direito à autonomia e à decisão sobre nosso território.”
Bruna Balbi, assessora jurídica da Terra de Direitos, organização ligada à Aliança Contra a Ferrogrão, criticou a exclusão das comunidades no planejamento dessas obras: “O problema dos grandes projetos de infraestrutura na Amazônia é que eles não são feitos para as pessoas e nem com a participação das comunidades que vivem lá. Demandamos que o governo brasileiro respeite e valorize as tradições e saberes dos povos que habitam esses territórios”, afirmou.
Além das críticas à Ferrogrão, Balbi questionou a ausência de inclusão das populações amazônicas nas discussões climáticas. “A questão central é: haverá participação popular nas decisões sobre infraestrutura e metas climáticas? A justiça climática só será alcançada com a voz dos povos tradicionais”, concluiu.