Pela segunda vez em menos de uma semana, o BT+ recebeu uma nova denúncia de abordagem policial agressiva e desproporcional em Belém. Desta vez, um cozinheiro, relatou que foi agredido, xingado e ameaçado por policiais militares, na noite de sábado, 21, no bairro do Benguí, quando voltava para a casa, na região metropolitana da capital paraense. Para a sua segurança, a vítima de 27 anos, não terá a sua identidade revelada.
De acordo com os relatos, os policiais abordaram o jovem com violência e agressividade desde o início. “Era por volta de 23h da noite, eu estava voltando para a minha casa, vindo do trabalho. Muitos sabem que eu trabalho no ramo de cozinha há mais de 8 anos. Não tinha nada ilícito. Mesmo assim me abordaram e disseram “mão na cabeça vagabundo”. Em nenhum momento eu reagi ou falei algo. A rua estava deserta e escura. Um deles falou “se tiver com droga tu tá fudido”, aí revistaram a minha bolsa. Foi quando um deles simplesmente meu deu socos na costela e eu caí no chão, me encolhi, me deram mais chutes enquanto estava no chão. Eu tenho problema no pulmão e sofro de falta de ar, por isso me encolhi. Quebraram meu dente, abriram meu supercílio. Os barulhos chamaram a atenção dos vizinhos que ligaram as luzes. Me xingaram e foram embora”, contou o cozinheiro e pizzaiollo.
Segundo a vítima, dois policiais o abordaram e um ficou na viatura durante a ação dos PMs. “Saíram do carro mandando eu parar de andar, me chamando de vagabundo, sendo que eu estava indo pra casa e saindo do trabalho. São pessoas que servem para proteger a gente, eu andava despreocupado. Pegaram minha bolsa, colocaram no capô da viatura e começaram a tirar as minhas roupas do trabalho e acessórios, não encontraram nada. Foi quando falei que era trabalhador e me deram socos. Nunca me ocorreu uma coisa assim”, afirmou o cozinheiro que trabalha em um restaurante de Belém.
Morando há alguns anos no bairro do Benguí, o rapaz costuma fazer o trajeto de mototaxi, mas na noite do episódio, ele estava sem dinheiro para o transporte, então resolveu fazer o percurso andando. “É na estrada do Benguí. Eu não nado muito ali, voltei andando porque estava sem dinheiro para o mototaxi. Fiz o caminho que o mototaxi sempre faz. Não pediram meu celular, nem sequer me revistaram, só pegaram a minha bolsa, onde levo as minhas roupas do trabalho”, disse.
ABALADO
Depois do episódio, o cozinheiro está muito abalado e com medo de sofrer retaliações. ” Não estou nada bem. Meu psicológico ainda está muito abalado. Depois que eles foram embora peguei minhas coisas do chão e continuei andando para a casa. Fiquei em pânico, com medo deles (os policiais) voltarem e fazer algo comigo. Minha mãe está muito abalada. Ela sabe que tem gente morrendo sem mais nem menos. E eu poderia ser mais um na estatística”, desabafou.
Além disso, o cozinheiro não sabe ainda como lidar com a dor do episódio ocorrido. “Eu não tenho palavras para descrever o que eu estou sentindo agora. Tenho depressão, estou trabalhando nisso. Não tenho mais coragem de sair de casa. Eu trabalho duro para realizar os meus sonhos e sou taxado de vagabundo e espancado se mais nem menos. Estou me afastando de vez das redes sociais, pois irei cuidar da minha saúde mental. Tomem cuidado na ruas meus aliados, esses porcos imundos estão soltos. Agora fica a pergunta, é errado ser trabalhador neste país?”, ponderou.
FERIMENTOS
Conforme contou ao BT+, a vítima não registrou Boletim de Ocorrência sobre as agressões, e tratou os ferimentos fazendo curativos em casa, além de tomar alguns remédios. “A única que coisa que fiz depois disso tudo foi voltar na rua e procurar se tinha alguma câmera que talvez tivesse registrado o que aconteceu, mas rua não tem câmeras.
O BT entrou em contato com a Polícia Militar sobre o caso e aguarda uma resposta.