Na próxima quinta-feira, 05 de setembro, é celebrado o ‘Dia da Amazônia’ e, para marcar a data, Belém começa a receber no mesmo dia a exposição “Paisagens Mineradas: Marcas no Corpo-Território”. A exibição acontecerá na Associação Fotoativa, no bairro da Campina, e permanece na capital paraense até o dia 5 de outubro e contará com debates, rodas de conversas, performances, e muito mais! A entrada é gratuita.
A exposição é uma realização do ‘Instituto Camila e Luiz Taliberti’, uma organização não governamental (ONG) voltada para ações educativas e culturais sobre sustentabilidade ambiental. O Instituto foi criado para homenagear os irmãos Camila e Luiz, vítimas do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em 2019.
Para a exibição em Belém, a ONG conta com a parceria da Associação Fotoativa, Kujỹ Ete Marytykwa’awa – Coletivo de Mulheres da Família Marytykwa’awa, Instituto Janeraka, Constelar Ancestral – Rede Cocriativa entre Povos da Floresta, Herbário da UFPA, e apoios da Apiência Ambiental, Instituto Cordilheira, Observatório da Mineração e Conectas Direitos Humanos.
O BT conversou com Helena Taliberti, presidente do Instituto e mãe de Camila e Luiz Taliberti, e ela falou sobre como trazer a exposição para Belém enquanto a cidade se prepara para a COP 30 é importante para ajudar no debate sobre as mudanças climáticas e as consequências da mineração. “É evidente que já estamos vivendo uma crise climática que tem origem, em larga medida, na ação humana que causa agressão ao meio ambiente e desequilíbrio da natureza. Destaco um setor muito forte na economia brasileira, a mineração, seja legal ou ilegal, que tem gerado ao longo dos anos um passivo socioambiental imenso. Milhares de quilômetros de rios contaminados que inviabilizaram a pesca e agricultura, trezentas vidas humanas interrompidas pelo rompimento de duas barragens e milhares de familiares e pessoas impactadas”, disse.
Ela comentou ainda sobre o grupo de artistas que terão obras expostas na exibição. “Somente a arte de tantas mulheres artistas é capaz de dar voz, de uma maneira delicada, bela e potente, a tantas pessoas que estão sem voz e querem fazer uma alerta para uma região, onde a mineração vem se estabelecendo de modo marcante. Tragédias como as de Brumadinho e Mariana não podem mais se repetir. É necessário que a voz de Belém seja ouvida pelo mundo hoje e na COP 30, que precisamos da floresta em pé e dos nossos rios intactos. Basta de agressão ao meio ambiente”, defendeu.
ARTISTAS
Ao todo, a exposição contará com obras de onze artistas mulheres “cujas obras e subjetividades se conectam nas reflexões sobre relação entre memória, corpo e paisagem em um contexto exploratório”. Participam da mostra as artistas Isadora Canela, que também é curadora da mostra, Julia Pontés, Shirley Krenak, Beá Meira, Luana Vitra, Isis Medeiros, Mari de Sá, Lis Haddad, Silvia Noronha. Do Pará, estão presentes na mostra as artistas Murapijawa Assurini – do Coletivo Kujỹ Ete Marytykwa’awa, e Keyla Sobral.
UMA RESPOSTA AO LUTO
Camila era filósofa e advogada especializada em direito digital. Além disso, ela dava assistência jurídica para mulheres em situação de vulnerabilidade – como casos de violência doméstica. Ela tinha 31 anos quando morreu na tragédia de Brumadinho.
Luiz tinha 29 anos, era surfista e arquiteto. Pouco antes da tragédia havia sido promovido a diretor da empresa em que ele trabalhava na Austrália. Veio ao Brasil visitar a família e trouxe junto a mulher, Fernanda, que estava grávida de cinco meses e esperava o primeiro filho do casal – que se chamaria Lorenzo.
Ao BT, Helena afirmou que segue lutando por Justiça e pelo legado dos filhos. “O Instituto nasceu da união de familiares e amigos pela perda dos irmãos Camila e Luiz Taliberti, sua esposa e filho. O luto dessas pessoas foi transformado em preservação do legado moral desses irmãos que tinham o respeito à vida, principalmente a dos mais vulneráveis, e ao meio ambiente como princípios de conduta. Se a vida e o meio ambiente fossem prioridades, a tragédia de Brumadinho não teria acontecido. Ficar em silêncio não é opção. Também buscamos o fim da impunidade, pois ela é o aval para que novas tragédias aconteçam”.
PROGRAMAÇÃO
A presidente do Instituto falou ainda sobre o que podemos esperar da programação da exposição e exaltou os artistas paraenses que terão obras expostas. “Sem dúvida que o ponto alto da exposição são as diferentes obras que estão expostas. O público irá perceber que, apesar do tema parecer árido, é possível tratá-lo com beleza e delicadeza e ser propositivo. É também um espaço de escuta, por isso os visitantes terão a oportunidade de conversar com as artistas que estarão presentes. E é com muita satisfação que agregamos ao grupo de expositores, artistas do Pará”, contou.
Por fim, Helena falou sobre os próximos passos da exposição e a possibilidade de retornar à capital paraense. “A exposição permanecerá em Belém por 30 dias. Depois, seguirá para Belo Horizonte, em Minas Gerais, estado marcado pelas tragédias minerárias e ainda ameaçado por barragens com alto risco de rompimento. Esperamos que no próximo ano a exposição percorra outros estados e, quem sabe, voltamos a Belém durante a COP 30”, revelou.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO FIM DE SEMANA:
Funcionamento em dias normais: terça a sexta, 10h às 17h, e sábado, 09h às 13h.
Quinta-feira 5/9:
- 18h Presença das artistas Beá Meira, Isis Medeiros, Lis Haddad, Mari de Sá, disponíveis para visita
- 18h30 Performance Evocação ao Rio, Lis Haddad
- 20h Roda de saberes e práticas – Itakui Re’e Urujumugyta
Sexta-feira 6/9:
- 18h Presença das artistas Beá Meira, Isis Medeiros, Lis Haddad, Mari de Sá, disponíveis para visita
- 18h30 Performance Evocação ao Rio, Lis Haddad
- 19h15 Exibição “Solastalgia” – curta metragem de Lucas Bambozzi
- 19h30 Roda de conversa “A propaganda na era do Greenwashing” com Carla Romano, Rede Constelar Ancestral, Isis Medeiros, fotojornalista Renée Chalu, idealizadora do Festival Se Rasgum. Mediação: Marina Kilikian, gestora cultural.
Sábado 7/9:
- 11h Aula aberta – Ure Petywu Ape I’lka’a – Vozes e perspectivas da floresta
- 14h – Roda de conversa “Arte e luto: somos sementes”, com Time’i Awaete – Assurini do Xingu, Instituto Janeraka, Mari de Sá, artista visual, Beá Meira, artista visual. Mediação: Lis Haddad, artista visual.
- 16h Exibição de filme Na fronteiro do fim do mundo – mineração no sudeste do Pará
- 17h Roda de conversa Local e global: “Os impactos da mineração no Pará” , com Ismael Machado, jornalista e escritor, Mário Santos – representante das Comunidades Quilombolas Rosane Steinbrenner, diretora FACOM/UFPA. Mediação: Cristina Serra, jornalista e escritora.