No último dia 22 de junho, um casal foi agredido física e verbalmente em um bar na cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo. Em entrevista ao G1, uma das jovens afirmou que ela e a namorada chegaram ao local e já começaram a ser insultadas de forma aleatória.
No vídeo, gravado por uma das jovens que não quiseram se identificar, podemos ver um homem afirmar: “o bom é que compra uma e leva duas”. Revoltada, a jovem retruca com um xingamento. Após isso, o homem pega um banco e arremessa em direção ao casal. Uma das mulheres foi atingida fortemente na cabeça.
Esse foi só mais um dos casos de lesbofobia no país. Segundo o Observatório Mortes e Violências contra LGBTI+, o Brasil é o país que mais mata pessoas da comunidade quando comparado com outros países.
De acordo com o levantamento, em 2021 aconteceram 316 mortes de pessoas LGBTQIA+ em território nacional. Dessas mortes, 285 foram assassinatos, 26 suicídios e 5 outras causas.
Os números apresentam um aumento de 33,33% em comparação com o levantamento feito em 2020.
Falando especificamente sobre os crimes de lesbofobia, os dados também apresentaram um aumento de 3,80%.
O BT conversou com a estudante de Jornalismo Eduarda Bastos, 22, que afirmou que os homens ainda se colocam em um lugar de poder sobre as mulheres. “Os homens ainda se põe no lugar de donos dos corpos femininos, falando e agindo conosco da forma que querem. Sempre nos sexualizando e vivendo em uma “realidade” onde, para eles, nossas atitudes e escolhas são feitas para satisfazê-los”, disse.
Ela, que afirma já ter sofrido violência verbal e física por conta da orientação sexual, reforça que é necessário denunciar. “Apesar da justiça brasileira ser falha, o melhor a se fazer é denunciar, procurar os direitos que amparam nossas causas”, afirmou.
O BT também conversou com a advogada, pesquisadora sobre lesbianidades e fundadora da Coletiva LesboAmazonidas (@coletivalesboamazonidas), Simara Esmael, que falou a respeito das agressões a casais lésbicos. “Os comentários agressivos são direcionados a lésbicas porque a sociedade não suporta a ideia de que duas mulheres possam se amar. Vivemos e somos criadas para sermos rivais e competitivas em todos os âmbitos para que tenhamos aprovação masculina e quando quebramos esse paradigma acabamos recebendo o ódio social contra lésbicas, que é a lesbofobia”, afirmou.
Quando questionada a respeito das agressões verbais que, muitas vezes, vem com frases como “falta de homem”, “nunca ficou com um homem de verdade”, “eu posso participar?”, a pesquisadora afirma que há um “estranhamento” quando as mulheres quebram o que ela chama de “heterossexualidade compulsória”. “Como somos mulheres e há essa ideia social misógina de que mulheres foram feitas para estar com homens e entregar suas vidas a eles, automaticamente há um suposto “estranhamento” quando enxergam mulheres quebrando a heterossexualidade compulsória. Por conta disso, julgam que só estão com mulheres porque nunca encontraram um homem de verdade”, analisa.
Esmael reforça, ainda, que as taxas de feminicídios e violências domésticas vão de encontro a esse julgamento. “Não precisamos de homem algum para viver, ainda mais quando tomamos ciência de que a maioria dos feminicídios e das violências domésticas são cometidas por eles. E podemos lidar com essas situações denunciando atos lesbofóbicos na delegacia contra crimes discriminatórios aqui de Belém”, informou.