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Dois anos sem Círio: como devotos e fieis alimentaram a fé e a saudade em ver a Nazinha de novo

Depois de dois anos sem procissões nas ruas para celebrar, agradecer, e homenagear a Nossa Senhora de Nazaré, o Círio de 2022, na sua 230° edição terá de volta as manifestações genuínas de fé, no formato tradicional da maior festa religiosa do Brasil, que movimenta mais de 2 milhões de pessoas em Belém. Este ano, serão 13 procissões para os paraenses, devotos, fiéis, romeiros e turistas matarem a saudade da Nazinha, a Padroeira da Amazônia, que estará mais perto, abençoando seus filhos.

Para marcar esse momento muito especial, da Nazinha nas ruas, o BT conversou com alguns fiéis e devotos que têm uma relação forte e particular com o Círio, e que propagam o amor ao próximo e a compaixão, seja doando água, organizando pontos de acolhida ou contribuindo com a festa que comove os paraenses e enche de fé as ruas e o coração de quem vive o Círio.

Breno Freitas, que é engenheiro civil, doa água no domingo de Círio há 11 anos, e conta um pouco da sua relação especial com o segundo domingo de outubro. “Há alguns anos atrás, eu fui sequestrado em um assalto, e enquanto eu estava em posse dos bandidos, eles levaram o meu carro e tudo que eu tinha no momento, só não levaram o meu escapulário, porque eu estava rezando para Nossa Senhora me proteger e me livrar daquela situação”, contou.

As preces para a Nazica deram certo, Breno foi liberado pelos assaltantes e seguiu a sua vida, depois dos momentos de desespero. “Nossa Senhora me salvou naquele dia, e desde então, eu decidi que ia retribuir como forma de gratidão e agradecimento. Já são 11 anos com esse trabalho no domingo de Círio, doando água para as pessoas que vão na corda pagando suas promessas, agradecendo por pedidos alcançados, em que mostram a força da sua fé”, disse.

Círio de 2019, Breno arrecadou 25 mil copinhos de água para doar no domingo do Círio. Imagem: Reprodução Arquivo Pessoal.

Em 2019, Breno conseguiu arrecadar 25 mil copos de água e mil caixas para oferecer às pessoas na procissão. Atualmente, o trabalho de doação se transformou em uma rede de boa vontade e amor ao próximo, que conta com 20 a 30 pessoas que ajudam Breno na entrega.”Esse ano, vai ser especial o Círio, com a volta das procissões nas ruas, porque vai ser o primeiro sem a minha mãe, Margareth Freitas. Desde quando eu comecei com esse trabalho, ela sempre me ajudou. Fazia o lanche, com sanduíche e suco para entregar junto com a água. Vai ser também em homenagem a ela, o nosso trabalho no domingo esse ano”, revelou.

Devoto de Nossa Senhora, Breno fica na esquina da Doutor Moraes com a Avenida Nazaré, em um dos pontos do percurso onde a corda fica bem próxima das ruas paralelas.

Nos dois anos sem Círio, o engenheiro praticou a sua fé em família, na casa de parentes, se reuniu no almoço tradicional de domingo. Promoveu uma procissão particular nas ruas com apoio de alguns familiares. “A gente manteve as nossas celebrações e comemorações com a Nossa Senhora em casa, com a família, agradecendo e pedindo proteção, ainda mais depois de todo os problemas gerados pela covid-19. Então nos apegamos mais a ela em casa mesmo, mais no vínculo familiar. Mesmo sem as procissões nesses dois anos, a minha fé foi inabalável”, pontuou.

Madrugada de sábado, e a família de Breno levou todo o material arrecadado para o ponto a doação acontece. Imagem: Reprodução Arquivo Pessoal.

As formas de ajuda podem ser de diversas maneiras, afinal, o que importa é a vontade e o desejo de ajudar, através da fé compartilhada. Uma das palavras que o Círio representa é união, união de pessoas voltadas à iniciativa de auxiliar quem precisa, sem pretender algo em troca. União em casa, nas ruas, na corda, união em volta de Nossa Senhora de Nazaré.

Letícia Alves, da organização Amigos da Fé, é uma dessas pessoas, que buscam ajudar peregrinos e romeiros que se deslocam de onde vivem para caminhar ou pedalar até à Basílica de Nazaré, no centro de Belém, em que percorrem longas distâncias, o que causa grande desgaste e cansaço.

Desde 2017, o grupo se reúne na BR-316, em frente a loja Oplima, no quilômetro 5, para acolher romeiros e peregrinos que estão pagando suas promessas e agradecendo pedidos conquistados. O grupo é de aproximadamente 30 pessoas, e no ponto de acolhida, são oferecidos água, comida, bebida, curativos para ferimentos, suco, pão, meias, leite, café, palavras de apoio e incentivo.

“Eu e minha família iniciamos com esse trabalho para ajudar as pessoas, como forma de fazer algo que contribuísse no Círio, por conta da comoção que é ver outras pessoas demonstrando a força da sua fé. Assim resolvemos começar, pra ajudar realmente, na prática. Hoje o Amigos da Fé cresceu e já temos a ajuda de vizinhos, amigos, outros parentes. Acabou se transformando em algo maior”, explicou Letícia.

Acolhida de 2019, na BR-316. Imagem: Reprodução.

Além dos trabalhos no Círio, o grupo também promove ações sociais, com pessoas em situação de rua, por exemplo, o que foi frequentemente promovido pela organização nos dois anos sem as procissões do Círio, em 2020 e 2021.

“Sem as procissões, continuamos com as nossas atividades, através do trabalho voluntário com pessoas em situação de rua. Todos os meses, no segundo ou terceiro sábado, levamos 300 potes de arroz com galinha que são distribuídos em Belém junto com água, cobertores, meias, e doações que recebemos. Hoje, o projeto é uma grande família, todos os voluntários são amigos e sempre estamos de braços abertos para receber novas pessoas”, destacou.

A organização Amigos da Fé segue há seis anos ajudando o próximo na força de vontade e dedicação de seus fundadores, com um objetivo nobre. Mas para manter as iniciativas sociais, o grupo vive de doações e arrecadações. Se você quiser e puder ajudar, pode entrar em contato as redes sociais deles clicando nesse link ou pelo contato: 91 – 98507-9353