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Eduardo Moreira diz que melhor opção para salvar a economia do Brasil seria Ciro ou Lula

O economista, que está entre os 3 melhores do país, falou com Mary Tupiassu sobre carreira, economia nacional, eleições 2022 e criticou a política econômica de Paulo Guedes

Foto: Reprodução

O economista Eduardo Moreira opinou sobre a corrida presidencial de 2022, mas deixou a polêmica acesa: para ele, a melhor opção para salvar a economia brasileira seria Ciro ou Lula. Mas, antes da gente se aprofundar nesse debate, deixa o BT te apresentar quem é o economista autor do intrigante livro “O que os donos do poder não querem que você saiba”.

A CARREIRA

Formado em Engenharia Civil de Produção pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Eduardo Moreira é casado com a atriz Juliana Baroni, é pai de três filhos e atualmente está na lista dos três melhores economistas do Brasil. Em entrevista para Mary Tupiassu, no quadro “Incomoda!” do BT, ele falou sobre como foi de engenheiro para um dos maiores economistas do país. “Isso foi engraçado. Eu sou engenheiro civil de produção, formado na PUC do Rio de Janeiro e, no meio do curso – como eu era um dos melhores alunos do curso – ganhei uma bolsa pra estudar um ano na Universidade da Califórnia. Nesse período de um ano que estive lá, resolvi puxar matérias de economia e me apaixonei. Comecei a estudar empresas, ações, finanças corporativas, macro e microeconomia, econometria. Aí eu voltei pro Brasil, concluí o curso de Engenharia. Ou seja, eu sou um engenheiro que fez uma especialização em Economia”, contou.

Formado em uma área de exatas, Eduardo criou uma peça chamada “A Branca de Neve e o Zangado”, em 2017. Sobre essa conciliação entre as áreas das artes com a de exatas, Eduardo admite que a aproximação inicial com exatas se deu por influência do pai e do avô. “Eu acabei virando um engenheiro mais porque o meu pai era de exatas, meu avô era de exatas e eu gostava muito de matemática, de física. Mas eu gostava de muito mais do que só matemática. Eu gostava de ciências, eu gostava de criar, eu gostava de escrever, de inventar histórias e de imaginar histórias. E aí, quando a vida me deu essa chance de poder descobrir e até ousar nesse meu lado artístico, muito por conta de ter conhecido a Juliana, uma artista, uma atriz que já fez teatro, cinema, televisão…eu falei ‘poxa, eu vou me inscrever na faculdade de roteiro’, e aí me inscrevi na Academia de Cinema de Nova Iorque, que é uma das mais tradicionais do mundo, e ali fiz um curso de um ano”, relembrou ele.

Eduardo Moreira com a esposa, Juliana Baroni, e os filhos na estreia do casal no teatro. Foto: Reprodução.

Sobre a criação da peça, o engenheiro conta que a ideia inicial partiu da esposa. “Ela tava fazendo uma novela que fazia um sucesso enorme. Aí ela falou que queria aproveitar o sucesso da novela e fazer uma peça infantil, e eu falei ‘deixa que eu escrevo’. Aí eu escrevi em uma semana e chamei o pessoal da novela pra vir aqui pra casa pra gente fazer a leitura da peça. Quando a gente terminou de ler, tava todo mundo chorando. É um musical, eu escrevi as músicas também, a gente fez a peça e ficou três meses no principal teatro aqui de São Paulo. Aí eu concorri ao principal prêmio de teatro do Brasil como roteirista e a Ju como atriz. Então foi muito legal”, contou Eduardo, orgulhoso.

O EX BANQUEIRO VILÃO

Eduardo Moreira morou em acampamentos do MST. Foto: Reprodução.

Eduardo Moreira, que já fundou um banco, falou ainda sobre o que o levou a “trocar de lado” no setor econômico e começar a trabalhar pensando em justiça social. “Uma coisa que parece que não tem nada a ver, teve uma vez que eu sofri um acidente andando a cavalo. Muito sério o acidente, quase perdi os movimentos do corpo. Por conta desse acidente, eu resolvi viajar para os Estados Unidos e aprender o método de domar sem violência. Por conta disso, eu ganhei uma condecoração da Rainha Elizabeth II, divulgando a não violência. Aí esse prêmio me fez viajar o Brasil inteiro pra dar palestras, falar de não violência, falar do encontro com a rainha…aí eu comecei a conhecer o Brasil de uma forma que eu não conhecia. Já estive no Pará palestrando, já estive em quase todos os estados brasileiros. E aí eu comecei a conversar com as pessoas, elas falando das dores delas, dos momentos, dos sofrimentos. Aquilo me fez um pouco mais humano. Então eu tenho certeza que essa queda do cavalo teve um papel importante nessa mudança”, declarou.

Entretanto, Eduardo conta que não foi só o acidente que o levou a mudar, mas um conjunto de fatores. “Quando eu era da faculdade, em engenharia, eu tive a chance de trabalhar, durante dois anos, dentro das favelas do Rio de Janeiro. Eu como garoto branco, de um dos bairros mais tradicionais do Rio que é a Urca, que é um bairro de classe média alta e muito conservador, preconceituoso. Eu não me lembro de ter, na minha infância, amigo preto, por exemplo. Eu fui crescendo dentro de uma bolha e essa oportunidade de estar dentro das comunidades, fazendo um trabalho tão importante, foi uma semente plantada”, disse ele.

Com essas experiências, Eduardo afirma que começou a se ver como o “vilão da história”. “Muito por conta dessas viagens pelo brasil, e essa iniciativa de ensinar educação financeira e ver o que as pessoas sofriam por causa das suas dívidas, por causa da sua condição financeira, deu um estalo um dia: ‘caramba, eu sou o vilão desse filme’. Eu achava que era o mocinho, mas eu era o vilão. Eu não era o 007, eu era o cara que queria destruir o mundo”, analisou o economista.

Eduardo relembrou ainda alguns dos motivos que o levaram à conclusão de que era um “vilão”. “Eu comecei a estudar a desigualdade, pra entender o que era esse mal que é o que mais mata no Brasil, o que mais faz as pessoas sofrerem. Pra entender como a máquina funcionava pra algumas pessoas que simplesmente tiveram a sorte de nascer em uma família rica, serem pessoas medíocres, no sentido etimológico da palavra mesmo, pessoas medianas, que não tem nenhum talento especial, mas tem milhões, às vezes bilhões de reais mas não fazem nada. Enquanto isso, milhões de pessoas que acordam às 4h da manhã, gastam uma vida inteira, e não conseguem se aposentar hoje. Aí eu comecei a estudar e quanto mais estudava mais me via como vilão”, refletiu.

O economista contou ainda sobre a decisão de morar com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Eu cheguei em um determinado momento que eu falei ‘chega de estudar, eu quero viver com essas pessoas’. Aí o primeiro lugar que quis morar foi no acampamento do MST, porque eu tinha um preconceito enorme, o que eu conhecia de MST e o que aparecia no noticiário da Globo. Fiz uma viagem em que morei em sete acampamentos e assentamentos, que são coisas diferentes, e aí eu vi pessoas que trabalham o dia inteiro pra poder transformar uma terra que é estéril, uma terra que foi destruída por um agronegócio hostil, um agronegócio que muda de terra como mudamos de blusa. Eles entram e sujam a terra, destroem a terra e é tão barato que depois é só invadir outra e botar no seu nome, ou grilando ou com esquema com o prefeito, com o governador, com o deputado, com o senador. E a gente ataca o cara que recupera essa terra e idolatra esse que destrói tudo?”, questionou Eduardo.

DÍVIDAS PÚBLICAS

Vale S/A tem uma das maiores dívidas ativas com o Pará. Foto: Reprodução.

Eduardo falou ainda sobre as dívidas públicas de grandes empresas com o Estado, como é o caso da Vale, que tem uma dívida de mais de R$ 1 bilhão com o estado do Pará. “Eu fui dono de banco, trabalhei em banco por 20 anos e a regra no banco é a seguinte: na dúvida, não paga. Isso porque, na pior das hipóteses, vem um programa de refinanciamento que vai dar uma condição ou pra não pagar multa nenhuma, ou pagar com desconto, ou parcelar. A gente tá falando de centenas de bilhões de reais. A gente tem uma dívida ativa no Brasil na casa do trilhão. E quem é mais pobre não pode ficar sem pagar seu imposto, pelo contrário, a maior parte você não tem nem escolha, já é na folha, direto da fonte”, disse.

O economista afirmou que o sistema de dívidas públicas serve como instrumento para lavar dinheiro. “O sistema da dívida pública serve como um instrumento de lavar dinheiro do mais pobre para o mais rico no Brasil. Hoje a gente tem uma dívida do Estado que é acima de R$ 5 trilhões. Essa dívida tá na mão de bancos, fundos de pensões, fundos de investimentos e bancos estrangeiros. Aí o que acontece, os brasileiros trabalham e pagam um imposto gigantesco sem perceber. Porque quando você compra uma blusa, uma caneta, uma mochila, quando você põe gasolina, você tá pagando o que a gente chama de imposto sobre o consumo. E o imposto sobre o consumo ele pega muito o mais pobre porque o mais pobre tudo o que ele ganha, ele consome. E quando eu falo o mais pobre, eu tô falando até de quem é considerado classe média”, falou Eduardo. 

“O MALANDRO

Eduardo Moreira e Paulo Guedes, atual Ministro da Economia. Foto: Reprodução.

A respeito do atual Ministro da Economia do país, Paulo Guedes, Eduardo Moreira afirmou que o chefe da pasta “acha que todo mundo é otário”. “Tem uma frase que diz: ‘o maior defeito do malandro é achar que os outros são otários’. O Paulo Guedes acha que todo mundo é otário. Outro dia ele deu uma declaração que foi a seguinte: ‘temos que privatizar e vender a Petrobrás porque daqui há 30 anos ela vai valer zero’. Então vai chegar um trouxa, um dos maiores investidores do mundo, um dos caras que conseguiu construir o que o Paulo Guedes nunca construiu na vida, um cara que tem uma empresa que vale centenas de bilhões de dólares, aí ele vai vir desavisado no Brasil e vai pagar bilhões em uma coisa que não vai valer nada daqui há 30 anos? O Paulo Guedes é super esperto e o cara que vai chegar e comprar a Petrobrás não sabe fazer conta? É claro que isso é uma alucinação”, definiu Eduardo.

Sobre a política econômica do atual governo, Eduardo foi enfático ao afirmar que Paulo Guedes é o pior ministro que já passou pela pasta. “O Paulo Guedes, sem a menor sombra de dúvida, foi o pior Ministro da Economia que o Brasil já teve em toda a sua história. Pior do que na época do Collor, pior do que quando teve o confisco, pior do que todos. No período do Guedes, no ano de 2020, o PIB brasileiro caiu 30%, em dólares. Um terço, praticamente, da riqueza do Brasil foi destruída em um ano. Das dez principais economias do mundo, a segunda que teve a maior queda do PIB em dólares foi a Índia, que caiu 10%. Se você entrar hoje no relatório da ONU que estuda 180 países e mede qual a expectativa de crescimento do PIB do país para 2022, o Brasil é o penúltimo colocado. Só perde para Guiné Equatorial que tem a população do tamanho de Belém”, afirmou.

Eduardo Moreira ainda chamou Paulo Guedes de desumano.“Olha o que é o Paulo Guedes. O cara conseguiu a maior inflação, a maior taxa de juros, o menor crescimento, a maior desigualdade, a fome voltou a assolar o país. A quantidade de pessoas que voltou à extrema pobreza é enorme, se você desconsiderar o Auxílio Emergencial então…é gigantesca. E além de tudo isso, e por isso eu considero o pior de todos, ele é desumano. É o cara que falou que a gente tinha que fazer de programa social dar resto de comida dos restaurantes para as pessoas. É o cara que falou que o filho do porteiro não devia entrar na faculdade. É o cara que caçoou da empregada doméstica que tava indo pra Disney. O Paulo Guedes é um cara que não sabe o país que ele mora, e ele não tem o menor filtro de falar coisas ofensivas pra um país que tá morrendo, com dor, torturado”, acusou Eduardo.

CIRO X LULA

Ciro Gomes e Lula. Foto: Reprodução.

Quando perguntado sobre quais opções aparecem como positiva para a economia nas eleições de 2022, Eduardo não titubeou ao afirmar que só enxerga duas opções como possibilidades. “Eu acho que tem duas candidaturas, e só duas, que se apresentam com uma possibilidade de mudança dessa lógica econômica: Ciro e Lula”, afirmou ele.

Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o economista afirmou que houveram erros nos mandatos dele, mas que teve um acerto, em especial, que foi muito importante: colocar o pobre no orçamento. “Eu acho que o PT fez uma coisa muito importante, que até o ex-presidente Lula fala muito, que foi colocar o pobre no orçamento. E colocou mesmo! O pobre não ficava no orçamento no Brasil. Ele colocou o pobre no orçamento seja através dos programas de obras públicas, colocou o pobre no orçamento com o Bolsa Família, nas mudanças que ele fez no acesso às universidades, no acesso aos financiamentos dos bancos. O dinheiro chegou no mais pobre, mas não ficou no mais pobre”, lamentou.

Eduardo afirma que as mudanças necessárias para que o dinheiro permanecesse com a população mais pobre não foram feitas. “As mudanças estruturais não foram feitas, a reforma tributária não foi feita, não se mexeu no bolso do banqueiro. As taxas de juros continuaram absurdamente altas. Então eu espero que, em um eventual novo governo Lula, eles consigam fazer essa reforma estrutural. O PT realmente falhou em conseguir atacar essas mudanças estruturais. Agora, falhou porque? (PT) Eles vão dizer que é porque é difícil passar no Congresso, tem que ter a maioria. E, realmente, os deputados e deputadas ainda são muito ligados aos grupos financeiros mais poderosos do Brasil. E tem razão quando falam isso. Então, mais uma lição: não vamos votar só para Presidente, vamos votar para Deputados que tenham essa visão de um país que distribua melhor os seus recursos”, alertou o economista.

Sobre Ciro Gomes (PDT), Eduardo Moreira afirmou considerar o ex-governador do Ceará uma pessoa que fala coisas necessárias. “Eu acho o Ciro é um cara muito corajoso, ele fala coisas que precisam ser faladas. Eu acho que ele até ajustou o tom dos ataques pessoais ao Lula, porque eu acho que aquilo não é legal. Às vezes o Ciro ia pra uns ataques que iam muito pra esse lado pessoal e isso eu achava besteira. Agora, o Ciro é um cara incrível, um dos caras mais inteligentes que eu já conheci, é um cara gentil, um cara que é muito culto e é um cara que realmente sonha com um país que enfrente esses grupos financeiros.

Confira na íntegra a entrevista feita com Eduardo Moreira.