Via Agência Pública, por Bruno Fonseca. Colaboração de Alice Maciel.
A Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal (Secom) pagou quase R$ 90 milhões neste ano para três campanhas de publicidade positivas da gestão de Jair Bolsonaro (PL). Com os nomes “Governo Fraterno”, “Governo Trabalhador” e “Governo Honesto”, as três são as mais caras pagas pela Secom em 2022 — o que representa quase 60% de todos os gastos da secretaria neste ano, que foi de R$ 150 milhões. Juntas, elas são a ação publicitária mais cara de todo a gestão Bolsonaro, que já gastou R$ 838 milhões pela Secom desde 2019.
Em documento, o próprio governo afirmou que as três campanhas são, na verdade, uma. “Informamos que as ações publicitárias intituladas ‘Governo Fraterno’, ‘Governo Trabalhador’ e ‘Governo Honesto’ integraram uma única campanha cujas temáticas abarcavam esses três eixos estratégicos”, respondeu o Ministério das Comunicações através de um pedido de acesso à informação.
Para se ter uma ideia, neste ano, a Secom pagou R$ 4,3 milhões a campanhas relacionadas à pandemia da covid-19 e da vacinação — menos de 5% do total investido nas três campanhas positivas.
Segundo o Ministério das Comunicações, o objetivo das campanhas é “reafirmar o compromisso do Governo Federal na promoção de um País mais desenvolvido, inclusivo e com oportunidades para todos, evidenciando as principais entregas do Executivo Federal”. O tema foi usado em diversas peças e ações de comemoração dos mil dias da gestão de Bolsonaro, que aconteceu em setembro de 2021. Em uma dessas peças, por exemplo, o governo afirma que o “Brasil acolhe vítimas do comunismo”, em referência aos refugiados da Venezuela.
A Agência Pública questionou a Secom e o Ministério das Comunicações qual o período de divulgação das campanhas e requisitou as peças utilizadas. O governo não respondeu.
As campanhas, contudo, não estão mais disponíveis nos perfis da Secom devido ao período eleitoral, que teve início em 2 de julho. A legislação proíbe qualquer ação de comunicação que possa configurar propaganda eleitoral ou desvio de finalidade. No mesmo dia, a secretaria deletou seus perfis oficiais nas redes.
Governo pagou R$ 6 milhões em redes sociais com campanhas positivas
A maior parte do dinheiro gasto com as três campanhas da Secom foi para divulgação: R$ 83,6 milhões. Desse total, R$ 6 milhões foram apenas para as redes do Facebook, Instagram, Twitter, Linkedin e TikTok. Outros R$ 660 mil foram pagos ao Google, proprietário do YouTube. Além do custo para veicular as campanhas, o governo gastou R$ 5,6 milhões para produzi-las.
O Facebook e o Instagram, redes da empresa Meta, foram onde a Secom mais gastou para promover propaganda positiva da gestão de Bolsonaro. Foram R$ 3,6 milhões.
Todos os pagamentos no Facebook foram aprovados entre o final de março deste ano e o fim de maio. Segundo os últimos levantamentos do Instituto Datafolha, desde o fim de 2021 a aprovação de Jair Bolsonaro tem melhorado — estava em 22% (ótimo/bom) em dezembro e passou para 26% no final de junho, antes do bloqueio das redes da Secom. No último levantamento, de fim de julho, a aprovação passou a 28%.
De acordo com pedido de acesso à informação, em um período de apenas dez dias em janeiro deste ano, o governo pagou R$ 256 mil para impulsionar conteúdos no Facebook, Instagram e Twitter da campanha. As postagens teriam gerado 84 milhões de impressões nas redes, de acordo com os dados do governo.
Ao todo, o Facebook foi a quarta mídia que mais recebeu recursos das campanhas, ficando atrás apenas dos três maiores canais de televisão do país. O governo pagou mais de R$ 16 milhões para o grupo Globo, R$ 15,5 milhões para o SBT e R$ 12,1 mihões para a Record.
No Twitter, a Secom pagou R$ 1,5 milhão para as mesmas campanhas. No Google, foram R$ 663 mil e no Linkedin, R$ 567 mil.
A campanha “Governo Fraterno” foi a primeira paga pela Secom para circular no TikTok, segundo apontou reportagem do Aos Fatos. A Pública apurou que o governo pagou R$ 286 mil ao TikTok neste ano com as três campanhas, através da empresa ByteDance Brasil.
Quem mais recebeu com divulgação e produção das campanhas foi a agência Artplan, com R$ 37,9 milhões. Em seguida, a Calia/Y2, com R$ 31,3 milhões. Ambas as agências são conhecidas por atender a conta milionária da Secom há anos. Há registro de contratos ao menos desde 2014, segundo dados do Portal da Transparência.
Texto: apublica.org.