Nesta terça-feira, 10, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 348 casos de hepatite “misteriosa” foram registrados no mundo todo. Segundo a organização, 20 países já apresentaram casos suspeitos, além de 70 casos adicionais de outros 13 países que estão pendentes de classificação, à espera da conclusão dos testes. O país que mais apresentou casos suspeitos foi o Reino Unido, que registrou mais de 160.
O surto de inflamação hepática grave foi classificado pela OMS como “hepatite aguda de origem desconhecida entre crianças pequenas”, que informou que os vírus comuns da hepatite não foram encontrados em nenhum dos casos.
Segundo Philippa Easterbrook, do programa mundial da OMS sobre a hepatite, alguns avanços foram feitos nas últimas semanas. “Na última semana ocorreram alguns avanços importantes com as pesquisas adicionais e alguns refinamentos das hipóteses de trabalho”, disse.
No Brasil, o Ministério da Saúde informou que 16 casos estão sendo monitorados: seis casos em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro e dois no Paraná. Os outros três casos estão sendo analisados nos estados do Espírito Santo, Santa Catarina e Pernambuco.
O SURTO
Os primeiros casos foram reportados à OMS no dia 5 de abril deste ano. O governo do Reino Unido informou que havia registrado 10 casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida em crianças pequenas, sem doenças prévias, com idades de 11 meses a 5 anos, na Escócia.
A OMS informou que infecções pelo Sars-CoV-2 e/ou adenovírus foram detectadas em “vários casos”, sem dizer realmente quantos foram os registros. A organização não deixou claro se essas infecções teriam alguma ligação com os casos de hepatite.
Nos Estados Unidos, os Centros para a Prevenção e o Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) disseram que estão investigando 109 casos suspeitos. De acordo com a agência France Press, cinco destes casos foram fatais.
Outro dado confirmado é que mais da metade das crianças doentes nos EUA testaram positivo para o chamado adenovírus “tipo 41”.
SINTOMAS
Dentre os sintomas reconhecidos, principalmente em crianças até 10 anos de idade, estão:
- enzimas hepáticas acentuadamente elevadas;
- icterícia;
- diarreia;
- vômitos;
- dores abdominais.
Alguns casos também provocaram insuficiência hepática e o transplante foi necessário.
O BT conversou com o Dr. Paulo Roberto Brito Cartagenes, especialista em Hepatologia e Mestre em Clínica de Doenças Tropicais, para tentar entender o cenário atual do surto de hepatite no mundo. “Atualmente tem sido relatado o aumento do número de casos, caracterizado como hepatite aguda grave, sem detecção dos agentes agressores mais habituais ao fígado, acometendo principalmente crianças abaixo de 16 anos, com taxa exacerbada de evolução para formas mais graves, necessitando, inclusive, de transplante do fígado, em índices até 10 vezes maiores que o habitual, podendo existir mais de uma causa. Contudo, na maior parte dos casos, foi detectado a presença de vírus da família dos Adenovírus, vírus que comumente, nesta faixa etária, podem causar quadros respiratórios ou diarreicos. É possível que uma mutação possa ter ocorrido nestes agentes e eles passaram a ter um tropismo (atração primária pelo fígado), mas até o momento, não há comprovação científica deste fato”, disse ele.
Sobre a possibilidade de uma ligação entre o surto de hepatite e a covid-19, pelo fato do vírus Sars-CoV-2 ter sido registrado em alguns casos, o médico afirma que, até o momento, não há relação entre este grupo de casos e a Covid-19. “Embora tenha sido comprovado que o Sars-Cov2 (vírus da COVID-19) tenha capacidade de causar também inflamação nas células do fígado, até o momento, não há relação entre este grupo de casos já registrados com a COVID-19, tampouco com a vacinação contra a doença”, afirmou.
Ao ser questionado se a vacinação contra hepatite protege contra este novo surto, o especialista afirma que ainda não há vacinas para o vírus atual. “As vacinas disponíveis para hepatite A e hepatite B, protegem contra as infecções por estes vírus especificamente. Além disso, a vacina da hepatite B, protege também contra a infecção pela hepatite Delta. Ainda não há vacinas para os outros vírus”, disse o Dr. Paulo Cartagenes.
Sobre os cuidados necessários para tentar evitar uma infecção pelo vírus da hepatite aguda, o médico afirma que ainda não existem medidas específicas, mas reforça os cuidados que devem ser habituais. “Apesar das cifras cada vez mais ascendentes, em relação às hepatites agudas habituais, ainda são um número diminuto de casos. Como podem ser devido a mais de uma causa, ou até mesmo um novo agente ainda não detectado, ainda não temos medidas específicas de proteção, não devendo ser esquecidas as medidas habituais como: ter cuidado no consumo de água e alimentos; evitar aglomerações; evitar compartilhar objetos que possam transportar fluidos e secreções entre as crianças, dentre outras.”, finalizou.