Acesso à água, alagamentos, legado da COP 30, esgoto, tratamento, perigo de banho no Combu. Esses foram alguns dos temas abordados no podcast e videocast “Amazônia no Ar” que entrevistou esta semana o Doutor em Engenharia Civil (PPGEC/UFPA) na área de saneamento ambiental e recursos hídricos, Rodrigo Rodrigues, para falar sobre diversos assuntos polêmicos e importantes.
Alagamentos em Belém
Em um papo de pouco mais de 40 minutos, o Engenheiro Sanitarista e Ambiental já começou com um tema bastante problemático para a capital paraense: os alagamentos pós chuva. “Se Belém tivesse um sistema de drenagem todo adequado, a cidade alagaria? A resposta é que sim, alagaria. Por mais que o sistema de drenagem seja perfeito, ele é dimensionado para um padrão de chuva. Ele não pode ser dimensionado pra um dilúvio, uma chuva que acontece a cada mil anos”, afirmou.
Ele falou ainda sobre o sistema de drenagem de Belém e como estudos são necessários para poder pensar em uma melhoria. “São sistemas obsoletos. A gente precisa reestruturar esse sistema de drenagem e pra fazer isso a gente precisa analisar como tá o solo. Se é permeável, se é impermeável, se eu tenho uma área com florestas, campos, se eu tenho uma área com concreto e asfalto.
Sobre os alagamentos em pontos centrais da cidade, o engenheiro afirmou que o problema deve persistir pela impermeabilidade do solo. “Os bairros centrais, Nazaré, Umarizal…é normal a gente ter alagamento por conta da impermeabilidade do solo. Agora, nas periferias também acontece, mas é pela falta do sistema de drenagem ou sistemas obsoletos”, disse.
Um dos pontos mais criticados pelo engenheiro foi a a falta de continuidade em trabalhos de governos anteriores e sobre como isso influencia diretamente no problema da cidade com alagamentos. “Um plano de 20 anos, não importa o governo que passar nesse tempo, ele tem que seguir essa cartilha pra que as coisas sejam ajustadas. Pra drenagem, esgoto, água, resíduos. Tudo muito bem planejado para que não haja descontinuidade”, falou.
Ao ser questionado se isso nunca foi pensado para Belém, ele afirmou que o não seguimento ao plano original é o maior problema. “Gestões passadas fizeram planos de saneamento, incompleto inclusive, porque só abordava água e esgoto. E agora já tem um mais atual, que aborda água, esgoto, drenagem e resíduo, mas enquanto não houver continuidade na gestão desses planos, não funciona. É como se cada um quisesse deixar a sua marca, mas não é o que foi estudado pra ser o legado da cidade”, disse.
COP 30
O especialista falou sobre a COP 30 e sobre os legados que o evento pode deixar para a capital paraense. “Enquanto engenheiro sanitarista, eu quero que os legados da COP sejam voltados para estrutura de saneamento. Mas são diversos interesses, tem gente que pensa em hotelaria, gastronomia. Cada um vai ter uma vertente que vai puxar sardinha na hora de pensar nisso, mas o legado só pode ser aquilo que vai impactar positivamente a vida da população”, defendeu.
ACESSO À ÁGUA
Sobre o acesso à água, Rodrigo afirmou não dar pra falar só de quantidade, sem conversar sobre a qualidade da água. “Não ter água nas torneiras é a primeira questão. Temos que falar de quantidade, qualidade e o acesso à água. E o acesso só é válido se essa água que a gente tem em quantidade, tem também em qualidade. Colocar água limpa em uma rede contaminada, tu suja a água e o acesso não adianta”, disse.
ESGOTO NO COMBU
O engenheiro sanitarista falou também sobre os perigos de tomar banho perto de alguns restaurantes na Ilha do Combu e explicou o motivo. “Tem muita água natural ali diluindo. Agora, se você está tomando banho perto do banheiro de um restaurante, a água dali vai pro rio. Então provavelmente você está tomando banho com a mesma água que está vindo desse banheiro. Então existem cuidados que devem ser tomados”, alertou.
LIXO EM BELÉM
Rodrigo também falou sobre a questão do lixo em Belém e falou qual o ponto ideal na visão dele. “A gente conseguiu colocar agora os pingos nos is. Tá faltando o que? Onde colocar o lixo. A situação de Marituba. Quando solucionar isso, que o sistema estiver todo funcionando, com uma empresa licitada e estiver organizada a questão de onde lançar esse lixo, onde tratar…aí eu digo que nós alcançamos um ponto satisfatório”, disse.