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Erosão e alagamentos: estudo mostra 125 pontos de risco em caso de chuva acima do normal em Belém

O BT vem repercutindo as inundações históricas que castigam o Rio Grande do Sul, fazendo um paralelo com a realidade de Belém, sobretudo, chamando atenção para mecanismos de segurança e prevenção, além de estudos, que devem basear políticas públicas para preparar a cidade para extremos climáticos.

Em conversa com o engenheiro sanitarista e ambiental, Rodrigo Rodrigues, ele destacou um estudo feito pelo Serviço Geológico do Brasil, a pedido da Defesa Civil de Belém, em 2021, que apontou 125 áreas de risco geológico alto ou muito alto em Belém seus distritos e suas ilhas. O diagnóstico foi feito entre os meses de fevereiro e dezembro daquele ano.

“Esses 125 pontos são bem distribuídos pela cidade, na região das 39 ilhas, nos canais. Desde 2021 isso existe. A pergunta é: A Defesa Civil têm recursos para treinar a população dessas 125 áreas? Para que caso surja algum problema, essas pessoas estão preparadas para algum problema?. O que tem sido feito em termos de preparação e mitigação dos problemas?. Um plano de contingência deveria estar sendo elaborado, ou em fase de preparação e treinamento, para que a gente sofresse menos”, afirma Rodrigues.

RISCOS PREOCUPANTES

Segundo o relatório, Foram identificadas 32 áreas de risco alto e 93 de risco muito alto. O levantamento gerou um mapa:

Mapa mostra áreas de risco geológico, como inundação e erosão em Belém.

Das 125 áreas de risco identificadas em toda Belém, 76 correspondem a áreas com risco à inundação e alagamentos e 49 a áreas de risco à erosão costeira. De acordo com o relatório produzido pelo Serviço Geológico Nacional, “as áreas de risco à inundação e alagamentos estão relacionadas à ocupação e aterramento das planícies de inundação dos rios e igarapés, bem como a canalização destes que cortam a área urbana da cidade, processo que se apresenta desde o início da formação histórica do município e agravado pela falta de planejamento urbano e ausência de fiscalização em áreas que são proibidas por lei, para ocupação”, adverte o Serviço Geológico.

Em Mosqueiro foram identificados 13 pontos com risco de erosão e deslizamento de encosta, localizados nas praias do Ariramba, Baía do Sol, Bispo, Farol, Murubira, Paraíso e Praia Grande. Em Outeiro foi identificado alto risco de inundação na Comunidade Fé em Deus II, no bairro São João do Outeiro, e muito alto risco de erosão e deslizamento na avenida Beira Mar e na praia Belo Paraíso, no bairro Fama.

O documento destaca também que alguns setores estão localizados nas bacias hidrográficas do Tucunduba e Estrada Nova, as quais estão inseridas em projetos de macro e micro drenagem, que estão sendo executados pelo governo do estado e pela prefeitura municipal, o que no futuro pode diminuir ou eliminar o risco associado a estes setores, devendo-se fazer uma nova avaliação das áreas quando os projetos forem finalizados. O último mapeamento geológico foi realizado em 2016 e não contemplou toda a capital paraense.

“Os mapas do Serviço Geológico do Brasil são usados para identificar, não apenas as áreas de riscos, mas áreas em que há a habitação de pessoas. A partir daí é possível planejar e captar recursos para obras de contenção e remobilização”, explica o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da CPRM, Homero Melo Junior na época.

De 2021 para cá, o que vem sendo feito, a partir desse estudo? O BT questionou a Defesa Civil de Belém sobre os trabalhos desenvolvidos na cidade.

Em nota, a Defesa Civil disse que um está em fase de criação de um comitê para prevenir contra desastres e sinistros naturais. Veja a nota na íntegra abaixo:

“A Prefeitura de Belém realiza desde 2021 os serviços de limpeza e drenagem dos 65 canais da cidade, com o objetivo de facilitar o escoamento das águas da chuva e maré alta, serviços esses que se intensificam nos meses de novembro a março devido a temporada de chuvas intensas. A Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém (Codemc), em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), realizou um levantamento de áreas de riscos para chuvas e alagamentos onde foram identificados 125 pontos na cidade, que são monitorados cotidianamente pela Defesa Civil de Belém. A Prefeitura também está em processo de criação do Comitê Municipal de Redução de Riscos e Desastres, que vai reunir várias secretarias municipais para atuarem em casos de sinistros naturais. O comitê está em processo de aprovação pela Câmara Municipal de Belém. A administração municipal também pretende criar o Plano de Contingenciamento de Belém, que para ser concretizado depende, principalmente, da mudança de status da Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém (Codemc), para coordenadoria ou secretaria municipal, mudança essa que já está em andamento para ocorrer através de decreto municipal ainda este ano”.

Em nota, a Funpapa disse: “A Fundação Papa João XXIII (Funpapa) informa que, na hipótese de algum desastre natural semelhante ao que ocorreu no Estado do Rio Grande Sul, enquanto órgão de assistência social, poderia atuar com a equipe multidisciplinar para o acompanhamento e encaminhamentos necessários, de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo, assim como daria apoio alimentar e concessão temporária do auxílio aluguel”.

Belém têm áreas de risco em 125 pontos.

OUTROS RISCOS

O especialista também fez um paralelo entre as enchentes do Rio Grande do Sul, caso ocorressem em Belém. De acordo com Rodrigo, as ilhas de Cotijuba e do Combu, sumiriam. Pelo menos 55% da população de Belém seria atingida, sobretudo os moradores de regiões baixas e áreas periféricas, caso o nível das águas subissem cinco metros.

Ele ressaltou ainda que é necessário haver um planejamento topográfico de toda a cidade para que se estabeleça ações de prevenção e segurança.

“Estamos em um cenário de mudanças climáticas. No Rio Grande do Sul, no Vale do Taquari, choveu em três dias o que estava previsto chover em 120 dias. Não há lugar no mundo que esteja preparado para isto. Dificilmente poderia se evitar, mas se poderia mitigar caso planos de emergência, treinamentos à população e outras medidas tivessem sido tomadas”, explicou Rodrigues.

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