Após um ano da morte do líder indígena Sarapó Ka’apor, os integrantes da aldeia afirmam que continuam sem respostas da polícia e da justiça. Sarapó morreu no dia 14 de maio de 2022, aos 45 anos. Ele vivia em uma área protegida, no Território Alto Turiaçu, no estado do Maranhão.
Sarapó Ka’apor
Um correspondente do BT Mais esteve no Território Indígena na semana em que completou um ano da morte da liderança. Em conversa exclusiva com a nossa reportagem, indígenas contaram que a suspeita é que Sarapó tenha sido envenenado.
“Um conhecido dele ofereceu um peixe salgado para ele. Ele foi para casa, comeu o peixe e depois foi dormir. Todos acordaram com ele gritando de dor durante a madrugada. Ele foi socorrido, levado para o hospital, mas acabou perdendo a vida dele”, contou o indígena Iratowy Ka’apor.
Veja o depoimento de Iratowy Ka’apor:
Sarapó foi levado para o hospital do município de Centro do Guilherme, mas a unidade se recusou a receber o indígena, alegando que ele já havia chegado sem vida. Por esse motivo, o líder Ka’apor foi enterrado sem que tivesse sido feito exame de corpo de delito e sem atestado de óbito.
Um mês depois da morte de Sarapó, o corpo dele foi exumado e o material coletado foi enviado para análise em laboratórios do Maranhão e de Sergipe. Porém, os resultados dos exames foram inconclusivos.
Ameaças – Na época da morte de Sarapó, durante entrevista para um jornal local, o advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Luis Antonio Pedrosa, explicou que enquanto chefe da Guarda de Autodefesa dos Ka’apor, ele era vulnerável e estava sendo perseguido. Ele estava incluído em um programa de proteção estatal para pessoas ameaçadas no Brasil, juntamente com três outras lideranças Kaapor. Em janeiro de 2022, ele tinha sido cercado por desmatadores, que o ameaçaram de morte.
“Antes de morrer, Sarapó foi ameaçado e em um passado recente foi vítima de um ataque à bala. Por isso ele vivia se deslocando de aldeia em aldeia para não ser localizado. No dia da morte, os familiares relataram que recebeu um peixe de presente de um morador do povoado e depois começou a passar mal”, disse Luis Antonio Pedrosa.
Os Ka’apor – cuja população é composta por cerca de 1800 pessoas – são um dos 300 povos indígenas do Brasil. Hoje em dia, eles vivem no Território Alto Turiaçu – o qual é reconhecido e demarcado pelo Estado como território indígena – no estado do Maranhão. A área de floresta originária por eles ocupada é de 531 mil hectares, o que equivale a cinco vezes à área da cidade de São Paulo.
Os indígenas afirmam que, empresas mineradoras têm interesse em explorar madeira e ouro no território, e que o líder era contra, lutando pela preservação da área. Sarapó era a principal liderança na proteção das florestas da região e estava à frente da oposição contra a mineração. Por isso, ele foi perseguido e ameaçado.
Sarapó já era bastante conhecido na região pela luta contra a atuação do garimpo e de madeireiras que insistem em ameaçar ou desmatar a floresta amazônica que restou na região do Alto Turiaçu.
Outras mortes- Sarapó não foi o único líder que morreu no local. N mesma região, em 2020, Kwaxipuru Kaapor, de 32 anos, foi encontrado morto à beira de uma estrada perto do limite entre a Terra Indígena Alto Turiaçu e a cidade de Centro do Guilherme.
Em abril de 2015, o agente indígena de saneamento, Eusébio Ka’apor, da aldeia Xiborendá, também foi morto após dois homens encapuzados abordarem seu veículo e efetuarem um tiro nas costas. Já em 2016, foi a vez de Sairá Ka’apor ser assassinado em um bar durante um discussão envolvendo madeireiros e indígenas, segundo Diogo Cabral.
No ano passado, quando Sarapó morreu, a Polícia Civil do Maranhão chegou a interrogar o homem acusado pelos Ka’apor – morador de um assentamento na região e piscicultor –, que confirmou ter dado o peixe a Sarapó, mas “de presente, em condições normais”, afirma o delegado de Santa Luzia do Paruá, José Raimundo Batalha.
Sem resposta – A redação do BT Mais procurou a Polícia Federal do Maranhão, para saber sobre as investigações da morte do líder indígena, mas até a publicação desta matéria, não recebeu retorno, assim como os indígenas que há mais de um ano esperam respostas.