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Exportação de soja para China faz Cerrado ser o bioma mais desmatado em 2023

Nos últimos vinte anos, a exportação de soja para a China tem impulsionado significativamente a expansão do agronegócio no Cerrado, resultando em um preocupante aumento do desmatamento nesse bioma. De acordo com um relatório da rede Mapbiomas divulgado ontem (28), o Cerrado superou a Amazônia e se tornou o bioma mais desmatado do Brasil em 2023. O estudo aponta que a região do Matopiba, que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentrou 47% de todo o desmatamento registrado no país no ano passado.

EXPANSÃO DO AGRO EM MATOPIBA

A demanda internacional, especialmente da China, tem sido um fator crucial para o crescimento do agronegócio no Matopiba. Dados da plataforma Agrostat, do Ministério da Agricultura, revelam que a participação desses quatro estados nas exportações do agronegócio brasileiro mais que dobrou. Em 2004, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia representavam 4,15% do valor exportado. No ano passado, essa fatia aumentou para 9,6%.

Desmatamento no Cerrado supera o da Amazônia em 2023.

CHINA É O PRINCIPAL DESTINO DA SOJA DO CERRADO

A China consolidou-se como o principal mercado para a soja produzida no Matopiba. Em 2004, os quatro estados exportaram 2 milhões de toneladas de soja para a União Europeia e apenas 186 mil toneladas para a China. Em 2023, os números mudaram drasticamente: 3 milhões de toneladas foram enviadas para a Europa, enquanto 11,4 milhões de toneladas foram exportadas para a China, um volume quase quatro vezes maior.

Região de Matopiba, no Cerrado
Região de Matopiba, no Cerrado

REGULAÇÃO E IMPACTO AMBIENTAL

A preferência pela China se deve, em parte, à regulação mais frouxa em comparação com a União Europeia, que possui leis mais rígidas em relação à soja transgênica. Além disso, a maior parte do desmatamento no Matopiba é legal. O Código Florestal Brasileiro exige que apenas 20% da vegetação nativa seja preservada nas propriedades rurais do Cerrado, em contraste com os 80% exigidos na Amazônia.

CRESCIMENTO ALARMANTE DO DESMATAMENTO

O desmatamento no Matopiba mais que triplicou nos últimos cinco anos, conforme dados do Mapbiomas. Em 2019, foram desmatados 273 mil hectares na região, quase o dobro da área da cidade de São Paulo. Em 2023, essa taxa saltou para 859 mil hectares, uma área mais de cinco vezes maior que a capital paulista.

Entre os estados mais desmatados do Brasil em 2023, três estão no Matopiba: Maranhão, Bahia e Tocantins, que superaram os tradicionalmente mais afetados Pará e Mato Grosso. Tocantins foi o estado com o maior aumento no desmatamento, registrando um crescimento de 177,9% de 2022 para 2023, de acordo com o Mapbiomas.

CAI DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

Os dados do Mapbiomas também mostram um deslocamento do eixo do desmatamento no Brasil. A região conhecida como Amacro, que inclui partes do Amazonas, Acre e Rondônia, havia sido o foco principal nos últimos anos. Entre 2019 e 2022, o desmatamento na Amacro quase dobrou, atraindo mais atenção da fiscalização ambiental.

Em 2023, o desmatamento na Amacro caiu 74% em relação ao ano anterior. De 390 mil hectares de vegetação perdida em 2022, a área desmatada caiu para 102 mil hectares no ano passado. A maior parte da perda de vegetação na Amacro ocorre em áreas não legalizadas, ao contrário do Matopiba, onde o desmatamento geralmente é legalizado.

Essa dinâmica reforça a necessidade urgente de revisar as políticas ambientais e fortalecer as medidas de proteção em todos os biomas do Brasil para conter o avanço do desmatamento e preservar a biodiversidade única dessas regiões.

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