//////

Expulsar garimpeiros de Terras Indígenas custaria cerca de R$ 70 milhões, diz Funai; entenda

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) estima que seriam necessário um valor entorno de R$ 72 milhões para expulsar os garimpeiros situados em Terras Indígenas (TI). Sobretudo em sete territórios já mapeados pelo órgão de defesa: Yanomami (RR), Karipuna (RO), Uru-Eu-Wau-Wau (RO), Kayapó (PA), Arariboia (MA), Munduruku (PA) e Trincheira/Bacajá (PA). Destes, três são no Pará.

O cálculo deriva da decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou a retirada imediata dos garimpeiros. Barroso determinou ainda a abertura de crédito extraordinário junto ao governo federal em quantia suficiente para cumprir a decisão, segundo levantou o site de notícias Brasil de Fato.

Os trabalhos de expulsão já inciaram desde final de janeiro, quando a crise humanitária vivida pelo povo Yanomami veio à tona para a sociedade. Apesar disso, Especialistas e lideranças indígenas são unânimes ao afirmar que a medida deve ser estendida a outros territórios, que já começam a sofrer com aumento da fome, violência sexual contra mulheres, contaminação dos rios e mortes por doenças tratáveis.

VALOR

A previsão de gastos está detalhada em uma planilha encaminhada pela Funai ao Ministério da Economia. Os custos mais vultosos envolvem transporte aéreo e terrestre e contratação de funcionários temporários, além de diárias para agentes das forças de segurança e servidores da Funai. Os gastos correspondem a uma mega-operação com duração de aproximadamente 12 meses. 

Esta quantia necessária para expulsar os garimpeiros das sete terras indígenas equivale a apenas 0,001% do orçamento da União para 2023, que é de R$ 5,345 trilhões. Durante a gestão Bolsonaro, a mineração ilegal se tornou a principal causa de mortes por conflitos no campo. Segundo o último relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a atividade motivou 92% dos óbitos por conflitos em 2021.

ESTRATÉGIA

Sem dinheiro, equipamentos e servidores suficientes, a Funai não tem condições de expulsar os garimpeiros sozinha. O orçamento da Funai despencou 40% em 10 anos, de R$ 1,1 bilhão em 2013 para R$ 645 milhões em 2023. Em 2020 o número de cargos vagos da Fundação (2300 cargos) era maior do que a quantidade de vagas ocupadas (2071).

Os R$ 72 milhões necessários para expulsar os garimpeiros correspondem a 11% de todo o orçamento da Funai previsto pelo governo Bolsonaro para este ano. Cerca de 70% da verba custeia os salários dos servidores. O restante é empregado na garantia de direitos sociais e territoriais para moradores de mais de 700 terras indígenas, que ocupam quase 12% do território brasileiro.

Com tal cenário, o ministro Barroso ordenou a abertura do chamado crédito extraordinário, uma forma de liberar dinheiro do orçamento da União em situações imprevisíveis e urgentes. A modalidade foi usada, por exemplo, para pagar o Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil a trabalhadores informais no período mais crítico da pandemia de covid-19.

A direção da Funai escreveu ao MPI que a expulsão dos garimpeiros dependerá também da articulação com outros ministérios, como Saúde e Segurança Pública, para consolidar os planejamentos operacionais e obter os recursos humanos técnicos e orçamentários necessários.

A nova gestão do órgão indigenista enfrenta o desafio de sair da paralisia em que foi colocada sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), investigado por genocídio dos povos indígenas. Ignoradas nos últimos quatro anos, as demandas das organizações indígenas estão acumuladas.

CONQUISTA

A decisão de Barroso foi tomada no âmbito Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, protocolada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com o objetivo de obrigar o governo federal a proteger os povos indígenas no período da pandemia de covid-19. A ADPF foi idealizada pelo então coordenador jurídico da Apib, Eloy Terena, que ocupa hoje o cargo de secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, pasta que abriga a Funai.

*Com informações de Brasil de Fato.