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‘Fala imprudente e infeliz’, diz aluna que debochou de colega de 44 anos

Uma das três estudantes da Unisagrado (SP) que viralizaram ao aparecer em um vídeo ridicularizando uma colega de sala de 44 anos disse que está arrependida e que a atitude foi “uma brincadeira de mau gosto”. Em entrevista ao Portal G1, a estudante Barbara Calixto disse que nenhuma das jovens esperava que o vídeo repercutisse em proporções tão altas, e explicou que as imagens foram postadas inicialmente apenas para os “amigos próximos” do Instagram.

As estudantes dizem que se arrependeram e que não tinham intenção de ofender ninguém — Foto: Reprodução

“Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse Barbara.

As outras jovens que aparecem no vídeo são as estudantes Beatriz Pontes e Giovana Cassalatti. Todas estão no primeiro ano do curso de Biomedicina.

Possíveis crimes cometidos

Caso as estudantes sejam indiciadas judicialmente pelos atos, podem, em tese, responder por:

  • Injúria: que é ofender a dignidade ou a honra de alguém. A pena pode ser de detenção, de um a seis meses, ou multa.
  • Difamação: que é ofender a reputação de alguém, mesmo que o fato seja verídico. A pena pode ser de detenção de três meses a um ano, e multa.
  • Violência psicológica: que é causar dano emocional à mulher mediante constrangimento e ridicularização, entre outros pontos. A pena é de reclusão de seis meses a dois anos e multa.

De acordo com a a delegada de polícia Raquel Gallinati, diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil e embaixadora do Instituto Pró-Vítima, afirma que as garotas “estão sujeitas aos crimes de injúria e difamação, que dependem de representação, que são crimes contra a honra tanto subjetiva quanto objetiva, e também o crime de violência psicológica, que se encaixa perfeitamente nas atitudes”.

No entendimento da delegada, ao falar o que falaram as estudantes demostram que “não conseguem ou não são capazes de aprender novas atividades no âmbito acadêmico”.

A advogada Gisele Truzzi, especialista em direito digital, acredita que o trio pode ser enquadrado no crime de injúria por ter mencionado palavras, expressões e adjetivos negativos que afetam a imagem da vítima. Ela ressalta que não adianta apagar o vídeo.

“Sendo elas maiores de idade, por mais que apaguem o conteúdo que publicaram na internet, o crime já foi praticado. É um crime instantâneo”, afirma a advogada.

No mesmo dia em que o caso veio à tona, estudantes do centro universitário manifestaram apoio à aluna Patrícia Linares, e entregaram flores, cartas e chocolates a ela.

Estudantes apoiaram a aluna Patricia Linares após ela sofrer preconceito de colegas pela sua idade — Foto: Reprodução

Manifestações da família

Em publicação feita nas redes sociais, uma sobrinha da vítima desabafou sobre o episódio.

“Ela sempre teve o sonho de estudar e nunca teve oportunidade. Hoje, ela conseguiu entrar em um curso que ela sempre quis e estava muito feliz e animada para começar as aulas, e daí surgem três meninas que só vivem na própria bolha, gravando vídeo zombando pela minha tia ser a mais velha da turma”, disse.

Postagem de sobrinha da vítima sobre o caso — Foto: Reprodução

Pronunciamento da Universidade

A Unisagrado publicou uma nota nas redes sociais sem fazer menção ao caso. No comunicado, afirma que não compactua com qualquer tipo de discriminação e que acredita que “todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia”.

Também diz que “as oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”.

Pronunciamento da Universidade sobre o caso — Foto: Reprodução

A assessoria da Universidade disse ao G1 que está tomando medidas em relação às universitárias envolvidas no caso. “Mas por respeito a todos os envolvidos estamos trabalhando no âmbito institucional e não divulgaremos”, disse.