Sabe aquela famosa expressão “o melhor do Brasil, é o brasileiro”? Verônica Oliveira, 40, é uma das comprovações disso. A baiana de Vitória da Conquista foi criada em São Paulo e trabalhou com Telemarketing durante boa parte da vida. Mãe de dois filhos, ela passou por muitas dificuldades financeiras e o salário não acompanhava os custos mensais. Dividindo um apartamento, Verônica viu a amiga ir embora do país e a sua situação financeira se agravar. Em depressão, ela tentou suícidio e foi parar em uma clínica psiquiátrica. “Eu não tinha vontade de fazer absolutamente nada. Trabalhava em modo automático. Me lembro que naquela semana estávamos uns quatro dias sem nada pra comer e eu pensava no quanto aquilo era injusto com os meus filhos. Eu pensava que se eu não estivesse aqui, a chance deles terem uma vida melhor fosse mais provável. E aí eu tentei suícidio dia 11 de setembro de 2016”, contou Verônica.
Encontrada pela filha, Verônica foi enviada ao hospital e, de lá, encaminhada para uma clínica psiquiátrica. Sobre o período que passou em reabilitação, ela afirma que transformou o episódio em uma oportunidade de melhorar. “A gente tentava levar aquilo da melhor forma. Eu escutava os médicos, tomava as medicações, conversava com as enfermeiras. Eu tornava aquilo ali uma oportunidade pra eu sair melhor. Eu falava que se eu não morri, tem um motivo pra eu ainda estar aqui”, afirmou ela.
Dentro da instituição psiquiátrica, Verônica passou a ter todas as refeições diárias e tentou lidar com a situação da melhor maneira possível, sempre vendo os pontos positivos. Ela conta ainda sobre uma conversa com um dos médicos da equipe. Do profissional, ela escutou: ‘Eu não te vejo como uma pessoa doente, eu te vejo como uma pessoa pobre’. A ex-faxineira afirma ter ficado irritada com a afirmação, entretanto admite ter entendido o significado tempos depois. “Eu fiquei muito brava com ele. Ele era médico, ele não tinha noção da minha realidade. Mas, ao mesmo tempo, ele tinha certa razão”, disse.
O recomeço
Na casa de uma amiga, após sair da clínica psiquiátrica, Verônica começou a limpar a cozinha enquanto desabafava. Quando viu, já tinha limpado a casa inteira. “Eu comecei a lavar meu copo. Depois lavei as louças. Quando eu vi já tava limpando o fogão. Minha amiga dizia que não precisava, mas eu fui fazendo. Fui limpando e, de repente, já tinha limpado a casa inteira. No fim do dia, minha amiga me perguntou ‘você ficaria ofendida se eu te pagasse?’”, contou ela.
Uma vez que o salário de telemarketing não cobria suas despesas, Verônica enxergou na situação uma oportunidade de melhoria. “Eu comecei a pensar porque estava me matando seis horas por dia atendendo telefone, se eu podia fazer faxina e ganhar, em uma semana, o que o telemarketing me daria em um mês?”
Foi então que ela começou a oferecer seus serviços de faxineira nas redes sociais. Entretanto, não foi isso que chamou atenção, mas sim como Verônica fez essas divulgações. Usando referências de filmes e séries mundialmente conhecidas, o estilo engraçado logo conquistou muitos clientes. “Ouvi algumas vezes: ‘você não tem vergonha de fazer esse trabalho?’ NÃO. NÃO TENHO. Tenho vergonha de gente que usa Crocs e fala Bolsomito.”, disse Verônica no seu primeiro anúncio nas redes sociais.
O sucesso foi imediato. Com o retorno positivo, Verônica se tornou empreendedora, palestrante e escritora, e passou a levar toda a sua experiência para outras pessoas. Com o reconhecimento, veio uma mudança de status. Entretanto, ela afirma que nem todas as pessoas têm a mesma oportunidade que ela teve. “Eu nunca fui uma criança rica, mas nunca me faltou nada. Eu tive acesso a cultura e educação da melhor qualidade. A classe privilegiada tem que entender que não vai acabar o privilégio dela se ela se dispor a ajudar quem não tem as mesmas condições”, defendeu Verônica.
Confira na íntegra da entrevista feita com Verônica Oliveira: