No Incomoda desta semana, a ex-governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, conversou com Mary Tupiassu sobre suas relações políticas com a família Barbalho. Em 2010, na campanha pela reeleição do Governo do Estado, Ana Júlia não contou com o apoio do senador Jader Barbalho, mas afirmou não ter ressentimentos por isso. “Eu não tenho ressentimento. O governo e a política são dinâmicos. Eu acho que a gente cometeu sim alguns erros, inclusive na política. Eu acho que nós não soubemos tratar com os aliados de forma que eles continuassem nossos aliados”, definiu.
A ex-governadora afirmou que sua maior indignação continua sendo ter sido tratada de forma “injusta”. “(a falta do apoio de Jader) Eu acho que foi sim uma falha de parte a parte, mas eu não consigo guardar ressentimento. Eu sinto muito mais indignação e ressentimento com a forma que fui tratada, de forma injusta. Como foi feita uma avaliação do meu governo de forma completamente machista e injusta, onde se contaminou a visão do povo”, lamentou ela.
Mesmo sem guardar ressentimentos, Ana Júlia admite que considerou esse um fator crucial na sua não reeleição. “Eu não consigo guardar rancor, faz parte da política, mas acho que foi realmente algo que ajudou a não me reeleger, mas não foi o único motivo”, avaliou.
Entretanto, ela reafirma que a falta de apoio de Jader não foi o maior dos problemas. “Muita gente do MDB me apoiou, muitos prefeitos me apoiaram. Então, é verdade que o ex-governador e agora senador Jader não me apoiou, muita gente do MDB não apoiou, mas, mesmo assim, eu continuo dizendo que o principal motivo foi a contaminação, a injustiça cometida, que fez com que as pessoas não fizessem uma análise”, afirmou Ana Júlia.
A ex-chefe do executivo do estado afirmou, ainda, que figuras de dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) não a defenderam quando ela precisou. “Acho que uma parcela daqueles que sempre ficaram comigo não fizeram uma boa defesa? É verdade. É verdade que uma parcela do próprio PT não fez uma defesa? Também é verdade. Preferiram não fazer porque as disputas internas muitas vezes são maiores. Elas eram maiores, porque eu acho que hoje o PT até avançou para evitar esse tipo de coisa e entender que tem algo que é muito maior que a disputa interna”, disse.
MULHERES NA POLÍTICA
Ana Júlia falou ainda sobre a importância das mulheres não desistirem e seguirem na política. “Eu digo para as mulheres: não abram mão. A gente tem a chance de corrigir injustiça, de escrever a verdade nesse momento. Essa é uma oportunidade de repor as verdades. De desfazer as mentiras que foram ditas sobre a Ana Júlia. Que esqueceram de dizer que ela também é mãe”, emocionou-se.
Ana Júlia afirmou ainda que políticos homens, que cometeram erros piores, nunca passaram pela mesma situação que ela. “Erros absurdamente piores. Qual foi o meu erro? Meu erro político? Tudo bem, julguem pelo erro político, pela gestão, tudo bem. Mas me julgar por ser mulher? Quantos governadores, nesse país inteiro, eram casados, tiveram amantes e a população fez o que? Aplaudiu. Eu era solteira, mas não. Eu fui condenada. Então isso contaminou sim a avaliação do nosso governo”, afirmou.
ESCÂNDALO NO GOVERNO
Ana Júlia comentou ainda sobre um dos maiores escândalos do seu governo: o caso da jovem de 15 anos que ficou presa durante 26 dias em uma cela com, aproximadamente, 30 homens, em Abaetetuba. A jovem foi estuprada, sofreu lesões corporais e teve partes do corpo queimadas com cigarros enquanto tentava dormir. “Isso aconteceu em Abaetetuba, e foi um absurdo. Só que quando eu fiquei sabendo a moça já nem estava mais lá, ela já tinha saído. Quando eu soube do fato, eu tomei todas as providências, eu fiquei indignada, eu protegi não só a moça como a família”, contou.
A ex-governadora afirmou ainda que as autoridades envolvidas no caso não tiveram punições. “A juíza foi suspensa e depois voltou, continua aí. O promotor também. E eu, quando fiquei sabendo, a menina já não estava mais e, mesmo assim, eu tomei todas as atitudes. E o que a imprensa fez? Colocou como se eu fosse a responsável por tudo isso, quando eu não era”, lamentou.
Assista ao quarto bloco da entrevista com Ana Júlia Carepa: