Uma das ex-assessoras do vereador Gabriel Monteiro (PL-RJ), Luisa Bezerra Batista, disse em depoimento no Conselho de Ética da Câmara que a adolescente filmada em ato sexual com o parlamentar era recebida na casa dele ao som de “Galinha Pintadinha”, personagem infantil. As informações são do UOL, que teve acesso aos depoimentos dos ex-funcionários que acusam o vereador.
Na semana passada, a cassação do mandato de Monteiro foi aprovada por unanimidade no Conselho de Ética. O texto do relator Chico Alencar (PSOL-RJ) alega quebra de decoro parlamentar. A decisão final deverá ser submetida ao plenário para análise e votação nesta semana.
Luísa disse aos parlamentares do Rio que quando a adolescente de 15 anos chegava na residência de Gabriel Monteiro, o chefe de gabinete do vereador, Rick Dantas, colocava música da “Galinha Pintadinha” por ela ser menor de idade. Em nota ao UOL, o parlamentar nega as acusações da ex-assessora.
“Eu tenho foto com ela [a adolescente]. [Ela] sempre frequentou [a casa do Gabriel]. Tanto é que, às vezes, chegava no estúdio a gente tava fazendo reunião… O Gabriel juntava todo mundo para querer ideia de vídeo […], mas na lógica dele”, disse a ex-funcionária.
Conforme a depoente, Monteiro tratava a adolescente de 15 anos como “namoradinha dele”. “Mas todo mundo sabia que era errado, que ela era uma menor de idade e que ele, além de ser maior de idade, é um parlamentar, não podia tá [sic] com essa conduta, mas…”, acrescentou.
De acordo com a ex-funcionária, Gabriel dizia gostar apenas de “novinha”, e falava que iria “abrir uma creche”. Luísa relatou que o vereador se referia a ela como “coroa”, por ela ter 26 anos, e, por esse motivo, chegou a acreditar que estaria imune às investidas sexuais do parlamentar, mas alega ter sido assediada pelo político.
“A gota d’água foi no dia que aconteceu no carro, né? […] O Gabriel pediu meu pé para fazer massagem. Aí ele ficou fazendo massagem, eu puxei o pé e ele trocou de lugar. Pediu pro Rick trocar de lugar com ele. Aí, foi pro banco de trás. E no banco de trás, ele começou a me agarrar, a lamber as minhas costas, a me morder e ficar falando algumas coisas, sabe? E eu pedia pra ele parar, falava que não gostava dessas brincadeiras, e ele sempre fala que só tava brincando”, declarou, ressaltando que chegou a pedir por “socorro” e que pediu ajuda a Rick a fim de “parar” as atitudes do vereador, mas que o chefe de gabinete deu a ela um punhal. “Mandou eu furar ele, que parava”.
“O Rick mandou eu… Deu o punhal e falou: ‘ah, fura ele que ele par’. E eu não ia furar o Gabriel […] ‘Ah, mas por que você não fez nada?’ O que eu iria fazer? Dois policiais armados dentro do carro, o Gabriel e o Rick, só homem dentro do carro, e eu no meio. Eu ia abrir a porta do carro e me jogar no meio da pista?”, acrescentou.
Questionada se tinha conhecimento sobre outros casos de assédio sexual praticados por Gabriel Monteiro, Luísa citou uma garota que teria iniciado ato sexual consensual com o vereador, mas ele “começou a praticar sexo anal, ela pediu para parar, e ele não parou e machucou ela”, o que teria deixado a jovem “horrorizada”.
90% ERAM MENORES DE IDADE
No depoimento de Heitor Monteiro de Nazaré ao Conselho de Ética, o ex-assessor de Gabriel Monteiro contou que 90% das meninas que frequentavam a casa do parlamentar eram menores de idade.
“O Gabriel só gosta de pegar mulheres menores de idade, né. Ele mesmo dizia isso abertamente para todos da equipe. Uma coisa que não é novidade para ninguém. Todo mundo sabe”, afirmou.
O ex-assessor contou ainda que Monteiro tinha o “hábito” de transar na frente de seus funcionários, mandar as garotas ficar “alisando” ele e “coisas do tipo”, o que deixava algumas garotas “constrangidas”.
Em relação a menor de idade que aparece na gravação com Monteiro, Heitor destaca que o vereador “sabia, sim, que ela era menor”.
RESPOSTA ÀS ACUSAÇÕES
Ao UOL, a assessoria de imprensa de Gabriel Monteiro disse que o depoimento de Luísa sobre a relação dele com a menor de idade é “fantasioso” e que suas declarações “foram desmentidas nas oitivas realizadas durante o processo”.
Ele ainda alega que a ex-funcionária teria proposto o pagamento de R$ 100 mil “para que não prestasse a entrevista sobre as acusações ao ‘Fantástico’, da TV Globo, o que foi devidamente registrado na delegacia de polícia”.
Em relação às acusações de assédio moral e sexual, Monteiro destaca que o relator, Chico Alencar, “propôs a retirada da acusação de assédio moral e sexual contra assessores de seu parecer final”, o que foi acatado por unanimidade pelos membros do Conselho. “Desta forma, a acusação de assédio moral e sexual contra a senhora Luísa não pesa mais contra o parlamentar”.
Na nota, Gabriel Monteiro não comentou especificamente sobre as relações sexuais com a menor de idade que teria sido filmada.
DE OLHO NA ALERJ
A defesa de Gabriel Monteiro recorreu hoje da decisão do Conselho de Ética da Câmara que pediu sua cassação. O vereador vai disputar nas eleições deste ano uma cadeira na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e é apontado como um dos nomes fortes da legenda para angariar votos no estado.