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Garimpeiros aliciam mulheres e estupram crianças Yanomami, além de obrigar a troca de comida por sexo

Foto: Reprodução.

“Somente depois que deitar com tua filha eu irei te dar comida”

A frase, forte e revoltante, faz parte dos “relatos do inferno”, como descreve o relatório feito pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), divulgado na última segunda-feira (11).

A fala em questão foi narrada por Yanomamis que afirmaram a pesquisadores que, depois de pedirem comida para garimpeiros, eles rebatem deixando claro o preço pelo alimento: as mulheres indígenas. “Vocês não peçam nossa comida à toa! É evidente que você não trouxe sua filha! Somente depois de deitar com tua filha eu irei te dar comida! (…) Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!”, dizem os garimpeiros.

O documento foi feito a partir do trabalho conjunto entre pesquisadores indígenas, antropólogos e tradutores de todas as seis línguas faladas pelos Yanomami. No relatório, encontramos outros relatos que mostram como a invasão das terras indígenas vem cobrando um preço altíssimo de comunidades inteiras.

Os moradores da comunidade Apiaú descreveram as cenas de abuso sexual sofridas por mulheres e crianças e como o terror acontece de formas diferentes. De acordo com relatos, outro agravante faz parte do modus operandi dos garimpeiros: eles têm relação somente com mulheres que bebem cachaça. “Os garimpeiros não conseguem com as mulheres que não tomaram cachaça”, afirmaram.

Os Yanomami contaram aos pesquisadores ainda que os garimpeiros representam uma ameaça e que se sentem em permanente angústia e terror nas aldeias. “Desde que ouço falar dos garimpeiros, eu vivo com angústia”.

MORTES

De acordo com os depoimentos colhidos, em 2020, três meninas de 13 anos morreram depois de terem sido abusadas por garimpeiros, na região central do território, que é conhecida como polo-base Kayanaú. Os moradores dessa comunidade, e de outras fortemente afetadas pelo garimpo, estão refém dos garimpeiros porque o território já não é propício para caça ou pesca, uma vez que os rios e a biodiversidade estão devastados pelo avanço do garimpo.

Sobre as mortes das três meninas, uma das testemunhas afirmou que o abuso sofrido está fazendo as mulheres adoecerem. “Depois que os garimpeiros que cobiçam o ouro estragaram as vaginas das mulheres, fizeram elas adoecer’. Por isso, agora, as mulheres estão acabando, por causa da letalidade dessa doença”, lamentou.

Os moradores da região do Rio Apiaú narraram mais abusos. Segundo eles, um garimpeiro que trabalha na região ofereceu drogas e álcool aos indígenas e, quando todos estavam bêbados e apáticos, estuprou uma das crianças da comunidade.

O Ministério Público de Roraima afirmou que já se organiza para apurar os crimes contra a dignidade sexual de vulneráveis, trabalho escravo e disseminação de bebidas alcoólicas que foram narrados. Enquanto isso, o vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, reforçou que o aliciamento de minoria jovem Yanomami é uma das novas estratégias do garimpo ilegal.