Geógrafo, professor e doutor da Faculdade Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edilson Rodrigues foi o entrevistado do podcast e videocast “Amazônia no Ar” nesta semana. Ele falou sobre a crise climática, a tragédia do Rio Grande do Sul e como a abordagem do tema é cada vez mais necessária para o combate ao negacionismo.
Na conversa com a jornalista Mary Tupiassu, o geógrafo falou sobre a tragédia vivida no Rio Grande do Sul e afirmou que o caso tem ligação direta com as mudanças climáticas. “São fenômenos que acontecem e a gente não está esperando. Isso já vinha acontecendo há um bom tempo, não só no Rio Grande do Sul, mas em outras partes do planeta também”, disse.
Sobre as comparações que fazem com a inundação deste ano no Rio Grande do Sul com a de 1941, ele afirma não se tratar da mesma coisa. “É um processo diferente, primeiro pela forma como foi na década de 40. Foi um evento de inundação, mas não era uma região tão ocupada, então se tinha um outro equilíbrio. A medida que a cidade cresce e as atividades vão se intensificando, isso vai alterando o clima. E o impacto é muito grande, porque você tem muitas pessoas residindo em determinado lugar que é onde acontece o evento”, explicou.
Edilson afirmou ainda que nenhuma cidade do Brasil está preparada para algo como o desastre ambiental que assola o Rio Grande do Sul. “Nenhum cidade está, nem nós estamos preparados. Primeira coisa que precisamos levar em consideração é o relevo, a altitude, onde essas cidades se encontra. Então, quando vemos muitas cidades arrasadas, a maior parte foi construída em vales. As pessoas ocupam a parte mais baixa da montanha e aí a chuva cai lá no topo da serra e aí quando a água cai para a parte mais baixa, você tem uma energia muito maior”, explicou.
O especialista afirmou, ainda, que fenômenos naturais serão cada vez mais frequentes no mundo todo. “A primeira coisa que temos que entender é a dinâmica global. Isso não acontece todo tempo, tem um período pra acontecer. A seca na Amazônia tem um período, que é o de estiagem – que vai de junho ou julho até outubro e novembro. Mas como temos influência como, por exemplo, do El Niño, aí você tem uma seca muito mais severa. Essa seca passa a ser um problema da crise climática quando ela passa do limite aceitável”, disse.
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
O professor afirmou também que as temperaturas do globo estão mudando muito em função do comportamento do ser humano. “Nós estamos entrando no processo de aquecimento global, as temperaturas estão mudando em função das nossas atividades – como industrial, pecuária, muito uso de veículos, queima de combustível fóssil. Apesar de hoje a indústria automobilística estar tentando mudar a matriz para elétrica, mas ainda não é algo que vai mudar em 10, 20 anos”, explicou.
Quanto ao uso de combustíveis fósseis na Amazônia, o geógrafo afirmou que a energia limpa já deveria ser a principal. “Na Amazônia a gente não precisava estar gerando energia com hidrelétrica, era pra estar mudando a matriz para energia solar. Temos muito sol aqui, então poderíamos estar gerando muito mais energia solar do que elétrica”, defendeu.
GEÓGRAFO FALOU SOBRE INVESTIMENTO EM PESQUISA
Quando perguntado se a pesquisa precisa de mais investimento na Amazônia, o geógrafo foi direto ao dizer que sim. “Falta muito investimento. Uma coisa que a gente vem sofrendo na universidade, falta de incentivo às pesquisas. Diferente das universidades norte-americanas, por exemplo, lá as empresas financiam pesquisas de ponta. Por exemplo: existem trabalhos que já mostraram que o caroço do açaí é excelente material para combustão. E aí vemos a cidade cheia deste material, tudo jogado na rua”, lamentou.