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Imagens revelam etnia indígena desconhecida na Amazônia

As comunidades isoladas da Amazônia brasileira estão prosperando com a abordagem de não contato, mas especialistas alertam para o aumento de riscos associados a esse crescimento. A crescente população de povos isolados, como os Massaco, no estado de Rondônia, pode indicar uma melhoria nas condições de vida, mas também traz à tona uma ameaça crescente: o risco de contato forçado e as consequências devastadoras desse encontro.

Os Massaco, uma das 29 comunidades isoladas confirmadas no Brasil, têm prosperado em seu território protegido. Conhecidos por sua habilidade em caça com longos arcos e pela utilização de armadilhas de estacas (estrepes) feitas de madeira resistente, eles mantêm sua terra com um vigor impressionante, usando suas habilidades para proteger suas fronteiras de invasores. No início deste ano, uma das estacas imobilizou um veículo da Fundação Nacional do Índio (Funai) que estava em uma missão no território indígena, sinalizando a determinação do grupo em manter sua autonomia.

Imagem reprodução: Funai

Localizados na região de fronteira entre Brasil e Bolívia, os Massaco foram alvo de expedições desde os anos 1980, quando a Funai tentava estabelecer contato pacífico. Porém, a partir de 1987, especialistas da fundação concluíram que o contato poderia resultar em desastres sanitários, trazendo doenças e miséria às comunidades isoladas. Desde então, a política de não contato foi instituída, e os esforços passaram a ser voltados para a proteção dos territórios sem interação direta.

Monitoramento e proteção territorial: o papel de Altair Algayer

Altair Algayer, veterano da Funai e responsável pelo monitoramento do território Massaco, tem sido uma figura-chave na proteção dessa comunidade e de outras. Desde 1992, ele tem acompanhado o crescimento populacional e a dinâmica dos Massaco, que, segundo ele, pode contar hoje com cerca de 200 a 250 indivíduos. Essa mudança demográfica é registrada em imagens de satélite, pegadas e vestígios de tapiris (cabanas de palha) que indicam o crescimento da população.

Imagem reprodução: Funai

Embora a presença dos Massaco tenha sido detectada ao longo das últimas décadas, Algayer e sua equipe tomaram precauções rigorosas para evitar o contato direto, monitorando seus movimentos sazonais e os focos de calor na floresta, que indicam onde o grupo se estabelecerá durante a estação chuvosa. Em suas expedições, descobriram que o povo Massaco tem arcos de até três metros de comprimento e utilizam estacas de madeira para demarcar sua terra, deixando claro que não desejam a presença de invasores.

A ameaça do contato e a importância da vigilância

Apesar do sucesso na proteção das terras e no aumento populacional das comunidades isoladas, especialistas alertam para um novo dilema: o risco iminente de contato. Se o crescimento das populações continuar, pode ser necessário ampliar os territórios para atender às necessidades dessas comunidades. As mudanças climáticas também impactam a disponibilidade de recursos naturais, como água, o que pode forçar os povos isolados a se aproximarem de outras populações.

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Imagem reprodução: Funai

A situação é preocupante, especialmente considerando que o aumento da população em territórios cada vez menores pode resultar em interações indesejadas com outras comunidades e com a sociedade não indígena. A diretora de proteção territorial da Funai, Janete Carvalho, enfatiza que o Brasil pode enfrentar o dilema do contato forçado, uma situação que as autoridades estão tentando evitar a todo custo.

Sucesso e desafios no contexto da Amazônia

Outros povos isolados também têm mostrado sinais de crescimento. No Vale do Javari, uma área de 8,5 milhões de hectares na fronteira com o Peru, o número de comunidades isoladas aumentou após a demarcação de terras e a aplicação rigorosa de leis de proteção. De maneira similar, estudos recentes indicaram que os povos isolados do estado do Acre aumentaram suas plantações e se expandiram em 17% ao ano entre 2015 e 2022.

No entanto, a proteção desses territórios continua sendo um desafio constante, especialmente em regiões altamente desmatadas e com presença de madeireiros, traficantes e outros invasores. A vigilância constante, combinada com políticas de não contato, é essencial para garantir a sobrevivência e o bem-estar dessas comunidades.

O futuro dos povos isolados: vigilância e proteção em risco

À medida que o número de comunidades isoladas cresce, os riscos de contato também aumentam. A combinação do crescimento populacional com os efeitos das mudanças climáticas cria uma situação delicada, que exige um equilíbrio entre proteção territorial e vigilância para evitar o contato catastrófico. A situação dos Massaco e de outros povos isolados da Amazônia serve como um lembrete da importância de políticas eficazes e da preservação dos territórios para garantir a continuidade da vida dessas populações sem comprometê-las com os impactos externos.

*Feito com informações de o jornal inglês The Guardian. Daniel Biasetto é editor de conteúdo do GLOBO. John W. Reid é coautor de Ever Green: Saving Big Forests to Save the Planet. Eles foram apoiados nesta série por uma bolsa da Fundação Ford.