Indígenas Tembé de Tomé-Açu, no Pará, relatam que cerca de 20 indígenas da sua etnia, desde a última quinta,7, até ontem, 11, foram mantidos reféns, sem acesso á comida e alimentação, incluindo lideranças da aldeia.
Eles denunciam que quilombolas fecharam a estrada que dá acesso ao território dos Tembé e mantiveram os indígenas em cárcere, dentro da Fazenda Vera Cruz, na região de Acará e Tomé-Açu, nordeste do estado. As pessoas sujeitas a tal condição estão se recuperando do que viveram e ainda estão abaladas com o ocorrido, segundo comenta uma fonte indígena que presenciou o conflito.
De acordo com os indígenas Tembé contaram ao BT em anonimato, depois de anos de harmonia e boa vizinhança, os quilombolas se voltaram contra os indígenas e reivindicaram terras que hoje são ocupadas pelos Tembé, que iniciaram construções de suas moradias no território requerido pelos integrantes do quilombo de Amarqualta.
“Lutamos juntos (Tembé e quilombolas) contra o agronegócio e as empresas que se instalaram aqui por causa do óleo de palma, são 10 anos de luta conjunta, indígenas e quilombolas. Fizemos a divisão da terra entre indígenas e quilombolas, tudo estava acertado. A Vara Agrária de Castanhal fez a divisão: a área indígena está a nível federal e a área quilombola é a nível do Incra. Agora eles agiram com agressão ao nosso pessoal. Foram cinco dias sem comida e água, não nos deixaram passar para levar comida e água aos nossos, e eles estão lá ocupando o território”, disse uma liderança que prefere não ter a identidade revelada.
O caso foi compartilhado nas redes sociais pela página oficial da Federação dos Povos Indígenas do Pará:
Segundo as fontes indígenas afirmam, há cerca de dois anos, quando o povo Tembé retomou parte do seu terrítório, que havia sido invadido por uma empresa produtora de óleo de palma na região, repentinamente, os quilombolas obstruíram a passagem da via que dá acesso ao território indígena e o conflito se iniciou na semana passada.
“Há cerca de dois anos o povo Tembé retomou uma parte do seu território que foi invadido pelas empresas de Palma, com isso, passaram a exercer novamente a posse tradicional dentro desse território com acampamentos, casas e recuperação do que foi degradado. Ocorre que, na sexta-feira passada, de maneira injustificada os quilombolas (que são vizinhos), passaram a obstruir de forma super violenta a via que da acesso à comunidade. Não deixavam passar nem água e nem comida para os parentes que estavam no território, isso gerou um grande conflito lá dentro que perdura até agora. As forças de segurança tentaram mediar a liberação, mas os quilombolas estão irredutíveis. Houve inclusive ameaça de morte às lideranças indígenas que estão lá. O povo Tembé não irá abrir mão do território. Foi pior à noite, quando eles cercaram o acampamento indígena e davam tiros. Nós (Tembé) não usamos armas, nossa defesa é com arco e flecha. Eles usam armas sem autorização legal”, disse com preocupação a fonte indígena.
HISTÓRICO
“O primeiro sinal foi no final de novembro, quando eles queimaram um material de acampamento indígena, mas foi relevado. Tudo aconteceu porque eles querem mais terras e avançaram no território retomado pelo povo Tembé”, lembra a fonte sobre o início da desarmonia entre as comunidades tradicionais.
Sobre a questão territorial em disputa, a fonte Tembé disse:
“A terra indígena fica entre Tomé-Acu e Acará, dentro da terra indígena temos cerca de 16 aldeias, a sede fica na parte do território que fica em Tomé-Açu, o acampamento fica na parte de Acará. Os quilombolas reivindicam uma parte do território que fica no Acará”, explicou.
Para os Tembé, o sentimento, diante do levante quilombola, é de traição: “o povo Tembé se sente traído pelo povo quilombola, pois essa violência praticada foi com a ajuda e influência de pessoas que não são quilombolas. Que aquela terra, quando ocupada pela empresa, jamais foi requerida por eles, depois de toda a luta e resistência indígena para retomar o que historicamente é de seu povo, eles vem com toda essa agressividade tentar tomar”, lamenta.
AGORA?
Conforme destacam as fontes indígenas, uma reunião em Belém ocorreu no dia 12 de dezembro, entre os Tembé, Funai e Ministério Público Federalpara tenta solucionar o caso de forma pacífica e evitar maior violência no conflito.
O BT procurou representantes do Quilombo Amarqualta do Alto Acará para falar sobre o caso mas não teve retorno. Em contato com a Secretária de Estado dos Povos indígenas do Pará (Sepi), Puyr Tembé, a mesma afirmou que a sua pasta está acompanhando de perto o caso, juntamente com os órgãos competentes a nível estadual e federal, como Funai, Semas e MPF-PA.