O bolsonarismo é um risco para nossas vidas.
Em 2018 Laerte Coutinho publicou a tira que ilustra esta postagem. Longe de ser uma profecia, era um alerta em forma de arte sobre o buraco que estávamos cavando para o Brasil. Feito por uma artista de visão aguçada, a tirinha condensava, em seis quadros, o efeito da banalidade do mal, e mostrava o que poderia ocorrer com qualquer um de nós caso o país fosse governado por quem valida discursos violentos como estratégia política.
A previsão, infelizmente, se tornou realidade ainda em 2018, quando o mestre de capoeira Moa do Katendê foi morto com 12 facadas em Salvador por declarar voto no PT. Desde então, o mal alertado por Larte se cumpre em intervalos cada vez mais curtos: só neste mês, tivemos tiros disparados contra a redação do jornal folha de São Paulo, uma tentativa de atentado a bomba em comício do Lula e um homem morto pelo terrível crime de ser petista.
Enquanto assistimos, entre incrédulos e chocados, a estas demonstrações de violência, o presidente finge que não t em nada a ver com isso. Em vez de acalmar os ânimos, Bolsonaro se limita a lavar as mãos através de posicionamentos em redes sociais, mas não importa quanto sabão ele passe – seus dedos, que tanto fizeram arminha para o povo, continuarão sujos de sangue.
Lembram quando Bolsonaro falou em “Fuzilar a petralhada” naquele evento lá no Acre? Quando ele empunhou um tripé de câmera como fuzil? E quando segurou aquele violão como se fosse um rifle? Nas mãos do presidente, tudo vira arma. Até suas palavras. E já passou da hora dele, como chefe de estado, ser responsabilizado por isso.
Não dá para ignorar o peso e a influência das palavras do chefe do executivo. Embora suas declarações pareçam um discurso tresloucado para qualquer pessoas sensatas, é inegável que alimentam o ego e a fantasia de um grupo raso, bruto e ignorante de pessoas que se enxergam como “cidadãos de bem”, os defensores de uma moral que não sofre ataques – mas que enxerga inimigos em todos os cantos e, por isso, se veem no direito de aplicar a justiça divina (que calha em ser a mesma do presidente, já que as figuras se confundem na cabeça dessas pessoas) quando lhes for conveniente.
E sabem porque Bolsonaro não manda esse povo recuar? Porque ele não pode. Não é apenas uma questão de perder a base, Bolsonaro não atenua o discurso porque ele perdeu o controle sobre o seu eleitorado. A massa raivosa vai continuar defendendo o bolsonarismo raiz mesmo se o presidente abandonar esse discurso. Em outras palavras, ele não tem como parar o que começou, e o Brasil vai continuar vítima desta insanidade armamentista muito depois do presidente deixar o cargo.
Não basta apertar a combinação certa de números na urna, nem transformar clubes de tiro em bibliotecas. Estamos falando de algo complexo, que é mudar a cabeça de pessoas que há muito tempo deixaram de dar ouvidos para a razão. Infelizmente não tem receita fácil para isso, mas essa mudança tem de ocorrer – porque enquanto o Brasil não mudar todos nós estaremos vivendo na mira do ódio, em um país eternamente sob fogo cruzado.