Faltam pouco menos de 100 dias para as eleições de outubro e as cartas que importam já estão na mesa: Bolsonaro informou neste fim de semana que o general Braga Neto será seu candidato à vice para disputar a presidência com a chapa Lula/Alckmin. A terceira via não existe, quem já percebeu isso pulou fora e todos os políticos que não estão na disputa principal e ainda teimam em manter candidatura não tem força para fazer ferida.
Segundo a pesquisa mais recente, Ciro tem as mesmas intenções de votos que os brancos e nulos, e os demais candidatos sequer superam a margem de erro. Dito isto, não vou perder tempo avaliando quem não tem chance – eles que lutem. Vou concentrar minhas palavras, daqui até outubro, nos candidatos que correm o risco de assumir o cargo na presidência, começando pela chapa mais recente.
Ao anunciar Braga Netto como vice, ainda que de forma não oficial (a informação veio num programa de rádio, mas nem Bolsonaro – que não raro volta atrás em suas declarações – ia tratar um assunto eleitoral de forma leviana…. então dou o anúncio como certo, apesar de ainda passível de confirmação), acena com sua base de apoio mais sólida: conservadores, elites privilegiadas, saudosos da ditadura e pessoas que vivem em um brasil imaginário onde não voltamos para o mapa da fome.
A escolha do vice deixou bem evidente qual será a plataforma do presidente para o pleito de outubro: em vez de suavizar o discurso para tentar trazer de volta os apoiadores que perdeu (pobres de direita), o presidente parece confiante de que o antipetismo vá fazer o seu trabalho e se abraça (ou afunda, dependendo do seu ponto de vista) nos movimentos que são leais a sua bandeira apesar de tudo, ou talvez por causa de tudo. Não sei se esta parcela da população é grande o suficiente para dar a vitória ao presidente, mas acredito que seja considerável o bastante para levá-lo ao segundo turno desde que ele arrume uma desculpa para não ir aos debates.
Já a chapa Lula/Alckmin é tipo prato feito de quem chega no bandejão perto do encerramento – você pega o que sobrou. Alguns chamariam de frente ampla mas, diante da existência de nomes de esquerda mais interessantes e relevantes do que o chuchu (Boulos, Dino) para o planalto, fica claro que é um aceno ao mercado para que o Lula acalme as águas turbulentas que poderiam virar o barco com ele dentro. É uma concessão, ainda que indigesta, mas que Lula – que não é bobo – sabe que vai ter que engolir. Talvez uma dose de cachaça ajude a descer esse chuchu, fica a dica.
Os eleitores mais contrariados também enxergam desta forma, mas Lula sabe que seus apoiadores votariam nele mesmo que a chapa fosse Lula e o próprio cão. Assim, vendo que não teria como perder votos, o molusco esticou seus tentáculos para abraçar uma galera que não é muito sua fã, mas que sentiu no bolso o preço do antipetismo e pode mudar de lado – até porque a cerca da baixinha, baixinha.
O problema dessa chapa é que, embora clame força nas ruas, não a demonstra. A presença nas redes sociais também é fraca, e o outro lado domina muito bem esse front, seja com gente, drone ou bot.
As pesquisas mais recentes apontam que Lula lidera com ampla vantagem (47% a 27%, com chances de vitória no primeiro turno), mas se o candidato a reeleição usar a(s) máquina(s) que estão á sua disposição, Bolsonaro pode encurtar a distância para o petista até outubro, a menos que os escândalos de corrupção envolvendo pastores ligados ao governo sangrem o Messias até o dia da eleição.
Oficialmente a propaganda eleitoral não começou, mas duvido que o horário político tenha grande impacto nessas eleições. As discussões vão ocorrer, principalmente, em redes sociais por militantes e robôs com scripts bem programados para inundar posts com opiniões favoráveis ao governo. Podem apostar que os grupos de zapzap vão ficar insuportáveis até o dia das eleições.
Até o momento 70% da população já definiu seu candidato para as eleições presidenciais, mas a briga pelos outros 30% não será fácil – especialmente porque, considerando as opções, quem não se decidiu até agora provavelmente prefere pagar a multa do que fazer uma escolha até o dia 2 de outubro.