Gaúcho de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul, Juliano Medeiros foi eleito pela segunda vez presidente nacional do PSOL. Depois de conquistar a liderança do partido em 2017, Juliano repetiu o feito em 2021. Formado em História pela Universidade de Brasília (UnB), onde também fez mestrado na área e doutorado no Instituto de Ciência Política, Juliano é um defensor da unidade da esquerda nacional. Ele conversou com Mary Tupiassu para o quadro “Incomoda!” do BT, e falou sobre a sua identificação com Belém. “Eu comecei a ouvir falar de Belém no governo do Edmilson Rodrigues. Muita gente do PT comparava o governo dele com muitas experiências do próprio PT. Diziam ‘olha, governo de esquerda mesmo é o Edmilson! Quem combate os privilégios, e cuida dos mais pobres é o do Edmilson’. E começou a se criar na minha cabeça esse imaginário de como era esse governo de Belém”, relembrou ele.
Condecorado cidadão de Belém em uma decisão muito questionada na câmara dos vereadores de Belém pela oposição, Juliano alega que quem agiu contra são aqueles que defendem a injustiça, o conservadorismo e a ampliação de direitos. “Eu achei um pouco engraçado, porque eu nunca fiz mal nenhum pra Belém, muito pelo contrário. A minha relação com a cidade nesses anos todos tem sido fortalecer uma alternativa de esquerda, aqueles que defendem mais direitos, a democracia.”, definiu ele.
COMUNISMO
Questionado se o Brasil já havia, em algum ponto, chegado perto de ser comunista, Juliano, de forma divertida, afirmou que o país nunca “triscou” na possibilidade. “Primeiro de tudo, não existe uma experiência comunista desenvolvida pela humanidade. A União Soviética não era comunista, Cuba não é comunismo, Coreia do Norte não é comunismo, China não é comunismo. Essas são experiências socialistas, ou pós capitalistas, existem muitos conceitos. O Brasil também nunca foi socialista. A experiência de maior enfrentamento que a esquerda brasileira desenvolveu no poder contra as elites foram as reformas de base do João Goulart”, disse Juliano.
ELEIÇÕES 2022
Juliano foi questionado ainda sobre a possível rejeição do PSOL à chapa Lula/Alckmin nas eleições presidenciais de 2022, e afirmou que é uma chapa que “não faz sentido para o Brasil”. “É posicionamento do PSOL que uma chapa Lula/Alckmin não faz sentido para transformar o Brasil. Hoje, nossa prioridade é a construção de uma unidade da esquerda. E o Alckmin não é de esquerda. Então nós temos um problema e vamos ter que discutir o que fazer”, declarou.
Juliano afirmou ainda que o apoio à chapa depende do que irá ser defendido por ela. “Se é possível nós estarmos numa frente com o Lula mesmo o Alckmin sendo vice? Isso vai depender do que essa frente vai defender. Porque se ela defender reforma tributária e fiscal, taxação dos super ricos, reversão das medidas que foram tomadas contra os trabalhadores e trabalhadoras nos últimos anos, aí é uma frente de esquerda e a contradição é do Alckmin de estar com a gente”, disse ele.
Quando perguntado se a presença de Geraldo Alckmin ajudaria em uma luta contra o bolsonarismo, Juliano discordou da teoria. “Em primeiro lugar, a luta contra o bolsonarismo não pode ser encarada como uma luta apenas contra um sujeito autoritário. O bolsonarismo não é só uma postura diante da democracia, mas também diante dos direitos. Bolsonaro é contra os direitos do povo brasileiro. Como o Alckmin e o seu partido se posicionaram diante dessa agenda econômica? Votando junto com o Bolsonaro. Então eu não posso acreditar que eu vou derrotar o bolsonarismo votando em quem sustentou e sustenta, ainda hoje, as mesmas posições. Em segundo lugar, eu compreendo a comparação que muita gente tem feito com a vitória do Lula em 2002, com José de Alencar como vice. A questão é que o José não era um político conservador que tinha governado São Paulo e reprimido estudantes, professores e outros atores sociais.”, destacou Juliano.
Quando questionado se as alianças feitas por Gabriel Boric , eleito presidente do Chile, eram semelhantes, Juliano rechaçou a ideia. “No primeiro turno o Gabriel fez aliança com o partido comunista. No primeiro turno não teve aliança com partidos conservadores. Quanto ao Alckmin, ele é da Opus Dei, a organização mais obscurantista que existe na Igreja católica. Ele defendeu que a Polícia Militar repreendesse brutalmente os movimentos sociais em São Paulo. Ele comemorou quando a polícia de São Paulo se tornou a mais letal do país. Se isso não é ser um político conservador, eu não sei o que é”, definiu.
Confira na íntegra a entrevista feita com Juliano Medeiros.