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Justiça Eleitoral esclarece fake news espalhada por grupos bolsonaristas sobre urnas ‘abertas’ em sindicato

A Justiça Eleitoral desmentiu uma fake news turbinada por redes bolsonaristas nesta segunda-feira, 26, que colocava a eleição sob suspeita. O vídeo com a notícia falsa afirma que as urnas estavam sendo “abertas” em um sindicato petista, o que foi desmentido pela justiça. O local é o Sindicato dos Sindicato dos trabalhadores da Indústria da Construção, do Mobiliário, Cimento, Cal, Gesso e Montagem Industrial de Itapeva (Sinticom).

O movimento no Whatsapp e Telegram acontece a cinco dias do primeiro turno e ganhou força após a sabatina de Jair Bolsonaro na Record TV nesta segunda-feira, 26, onde o presidente voltou a declarar que esperará até o próximo domingo para confirmar se respeitará o resultado das urnas. 

Sede do Sindicato dos Trabalhadores de Itapeva, interior de São Paulo. Foto: Reproduçaõ

Na gravação, funcionários a serviço do Tribunal Regional Eleitoral de SP aparecem em uma sala do sindicato preparando urnas eletrônicas para a eleição no próximo domingo (2), técnicos realizavam a programação e a lacração das urnas.

Uma mulher que filma diz querer saber por que as urnas estão no sindicato e quem são as pessoas que estão manuseando os equipamentos.

Na legenda do corte do vídeo que circulou nas redes sociais, lê-se “urnas eletrônicas dentro do sindicato do PT”.

Depois que o vídeo começou a circular, no último dia 24, o TRE-SP emitiu uma nota esclarecendo ter alugado o salão do sindicato dos trabalhadores da Indústria da Construção, do Mobiliário, Cimento, Cal, Gesso e Montagem Industrial de Itapeva, porque o cartório eleitoral da cidade não tem espaço para realizar a operação. Disse, ainda, que esse mesmo local é alugado desde 2014 por ficar ao lado do cartório.

Segundo o TRE, os funcionários que aparecem no vídeo não são da instituição sindical e foram contratados por licitação. Os servidores alegam terem sido ameaçados pela mulher que gravou o vídeo e chegaram a abrir um boletim de ocorrência após a intimidação.

Confira a nota na íntegra aqui.

Embora a cena tenha ocorrido no último dia 24, o vídeo voltou à toda carga na noite da última segunda-feira e se espalhou ao longo da terça.

O procedimento que aparece no vídeo foi realizado em todas as máquinas de votação do país e prevê o processamento das informações de todos os candidatos a serem gravados na memória da urna. Ao final, as urnas são fechadas com lacres produzidos pela Casa da Moeda.

Mas, para o universo bolsonarista, o vídeo seria uma “evidência” de fraude por mostrar urnas sendo “abertas” em um sindicato supostamente petista.

“Só vai resolver isso no cacete mesmo. Olhem o que está acontecendo em Itapeva-SP. Fraude toda armada. Acorda, pessoal”, dizia uma das mensagens apócrifas.

Outro texto disseminado em vários grupos do Telegram denuncia a presença de urnas em um “sindicato dos trabalhadores”. “O crime está na apuração secreta. Não tem como auditar! É assustador! SOS Forças Armadas e PF”, escreveu um bolsonarista, que aproveitou para defender o voto impresso.

No YouTube, onde o vídeo foi replicado várias vezes e já soma mais de 100 mil visualizações, eleitores de todo o Brasil simpáticos a Bolsonaro demonstram desespero e revolta.

“Eu vou levar meu celular na hora de votar. Qualquer divergência vou filmar, pôr nas redes”, escreveu uma bolsonarista, ignorando a proibição do porte de telefone na cabine da urna determinada pelo TSE.

“A questão é: qual confiança teremos em votar (sic)? Será que não estão já alterando as urnas? Como confiar?”, indagou outro eleitor.

A nota pública do tribunal foi reiterada na noite de ontem pelo Fato ou Boato, iniciativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) voltada para o combate às fake news durante o processo eleitoral. Nada disso pareceu convencer os bolsonaristas, contudo.

“Apesar do esclarecimento do TRE, essa situação nos deixa bem desconfiados e inseguros”, compartilhou um apoiador de Bolsonaro no grupo B-38, com 59 mil membros no Telegram.

A lista em questão já foi alvo da Justiça Eleitoral e chegou a ser suspensa durante seis dias por ordem do TSE, após a disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro.

O vídeo também tomou conta de outros grupos em aplicativos de mensagens com milhares de participantes, como o “Ucraniza Brasil”, o “Aliança pelo Brasil” e o “Renova-Brasil/Bolsonaro 2022”.

A aparente operação coordenada coincide com a divulgação da pesquisa de intenções de voto do Ipec, que mostrou Bolsonaro estagnado e o ex-presidente Lula mais próximo de uma vitória no primeiro turno.

Ontem, em entrevista à RecordTV, o presidente declarou que esperará até o domingo para confirmar se respeitará o resultado das urnas. Bolsonaro tem dito que vencerá no primeiro turno, embora essa afirmação contrarie todas as pesquisas com credibilidade.

Diante do clima de “barata voa” na campanha, além dos sinais de voto útil por parte de eleitores de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), o clima das redes pró-Bolsonaro pode indicar uma espécie de “ensaio” para mais uma operação de descrédito ao sistema eleitoral, desta vez às vésperas do primeiro turno.

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Com informações de O Globo