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“Me deixei levar, foi ganância. Vou ter 25 milhões”, diz Lessa sobre morte de Marielle Franco

Por cerca de duas horas, o ex-policial Ronnie Lessa depôs em audiência virtual no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele classificou o crime (ter matado a vereadora em 2018) como asneira e disse que se deixou levar pela ganância. Lessa voltou a afirmar que os irmãos Brazão foram os mandantes do crime.

Segundo ele, os irmão Brazão (Chiquinho e Domingos) o haviam prometido 25 milhões, relativos a terrenos em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Os dois, avaliados em 25 milhões, seriam dados a Ronnie e a Macalé, Edmilson da Silva, outro militar que participou do crime, em Março de 2018. Além de Marielle, o motorista dela, Anderson Gomes, também morreu.

A sessão de depoimentos também foi marcada pelo choro de Chiquinho Brazão ao ver seus familiares. Ele está preso desde março, acusado de ser um dos mandantes do crime.

Lessa

GANÂNCIA E 25 MILHÕES

“Aquilo me deixou realmente impactado”, disse Lessa, fazendo referência ao possível lucro de R$ 100 milhões com a venda dos lotes.

“Eu me deixei levar. Foi ganância. Eu, na verdade, nem precisava. Estava numa fase muito tranquila da minha vida, e eu caí nessa asneira. Foi ganância. Realmente, foi uma ilusão danada que eu caí”, declarou.

As declarações de Lessa foram realizadas durante audiência por videoconferência no STF em que são ouvidas as testemunhas de acusação na ação penal contra os réus por ordenarem e planejarem a morte de Marielle. Foi a primeira vez que o ex-policial falou sobre o caso após apontar os supostos mandantes do crime em delação premiada.

O deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, se emocionou ao ver seus familiares por videoconferência durante o 12º dia de audiência sobre o caso.

Durante a sessão, alguns familiares de Brazão que estavam acompanhando a audiência ligaram suas câmeras. Ao ver seus rostos na tela, Brazão não conseguiu conter a emoção. Brazão está preso desde março na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.

Com lágrimas nos olhos, ele começou a acenar e mandar beijos para seus familiares, que responderam com acenos. Alguns também apareciam emocionados. Uma das pessoas na sala virtual exibiu uma folha com os dizeres: “Deus está conosco”.

JUSTIÇA

A Primeira Turma do STF tornou réus cinco suspeitos de serem os mandantes dos assassinatos de Marielle e Anderson e de participarem do planejamento dos crimes:

  • Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (homicídio e organização criminosa);
  • Chiquinho Brazão (sem partido), deputado federal (homicídio e organização criminosa);
  • Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro (homicídio);
  • Ronald Paulo de Alves Pereira, policial militar apontado como ex-chefe da milícia de Muzema, na zona Oeste do Rio de Janeiro (homicídio);
  • Robson Calixto Fonseca, assessor de Domingos Brazão (organização criminosa).

A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em maio.

Segundo o órgão, Marielle se tornou a principal opositora e “o mais ativo símbolo da resistência” aos interesses econômicos dos irmãos Brazão.

Mirando o mercado imobiliário irregular, Domingos e Chiquinho teriam investido em práticas de “grilagem” nas mesmas áreas de milícia em que constituíram os seus redutos eleitorais. Segundo a denúncia, as iniciativas políticas da vereadora, em assuntos ligados ao tema, “tornaram-se um sério problema” para os Brazão, e motivaram o planejamento da sua execução.

Então diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil no Rio de Janeiro na véspera do assassinato de Marielle e Anderson. Rivaldo teria garantido aos Brazão que a investigação do crime seria “dificultada” caso fosse necessário.

As defesas negam as acusações, criticam a denúncia e a delação do ex-policial militar Ronnie Lessa. Também contestam o papel da Polícia Federal (PF) na investigação.

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