Elcione Rocha é mãe solo de um adolescente autista de 19 anos. Moradores do município de Abaetetuba, o jovem Matheus Silva está no ensino médio e é matriculado na escola São Francisco Xavier, da rede estadual de ensino, desde 2018. Elcione afirma que o filho teve, durante seis meses quando foi matriculado, um profissional de apoio, que era um estagiário cuidador. Depois desse período, o estudante não contou mais com auxílio na sala de aula.
Os estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), fazem parte do grupo de jovens e crianças da Educação Especial que têm direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), pois necessitam de métodos de ensino aprendizagem e do desenvolvimento de um plano escolar diferenciados.
Os alunos com TEA devem receber o AEE para que possam desenvolver suas habilidades e serem inseridos no ambiente escolar. O direito é assegurado pela Constituição Federal.
No entanto, não é o que tem acontecido, segundo dona Elcione. Com a volta das aulas presenciais nas escolas, ela contou ao BTMais que o filho está fora da sala de aula porque não conta com o AEE.
“Eu tentei levar ele para a escola na primeira semana e ele teve crise de ansiedade porque não conseguia ir. Ele me disse que não ia porque ele não ia fazer número em sala de aula. O caderno dele estava vindo em branco, ele só sentava lá e ficava escutando”, desabafou.
Elcione disse ainda que foi diversas vezes à 3ª URE (Unidade Regional de Educação) de Abaetetuba e a resposta é que não há profissionais qualificados para assumir a função de mediador pedagógico. Emocionada, a mãe conta que o filho tem o sonho de se formar e ser independente, mas as atuais barreiras têm dificultado a realização deste sonho.
“Ele tem sonhos, de estudar, trabalhar, ser independente, como ele mesmo diz. Quando ele tiver o primeiro emprego ele vai ser independente pra eu cuidar da minha vida e ele da dele”, revelou a mãe.
Elcione conta que entrou com ação no Ministério Público para garantir o direito ao filho. “Quando ele estudou no município ele tinha AEE, quando passou para a rede estadual ele teve apenas por seis meses. Desde então venho tentando. Tenho processo no Ministério Público e até agora, parece que agora que eu gritei, que eu berrei, que vai ser resolvido”.
A mãe aguarda a solução do problema para que o filho conclua o ensino médio com qualidade. “Eu quero que ele saiba, que ele diga ‘eu cursei o 3º ano, sei ler, sei escrever, estudei para aprender e ter conhecimento, não somente para ter um diploma”, revelou ela.
Em um apelo quase desesperado, Elcione interrompeu a sessão especial realizada na Alepa na última quarta-feira (14), em alusão ao mês de visibilidade autista, para pedir soluções para o problema, que atinge outras famílias de pessoas com deficiência em Abaetetuba. Confira no vídeo abaixo:
A coordenação Estadual de Políticas para Autismo (CEPA) estima que no Pará existem cerca de 250 mil pessoas com TEA.
O BT Mais solicitou à Secretaria de Estado de Educação um posicionamento e aguarda resposta.
SESSÃO NA ALEPA
Durante a sessão especial que ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado (ALEPA), na semana passada (13/4), a titular da Coordenação de Políticas para o Autismo do Estado (Cepa), Nayara Barbalho, destacou que levou ao Poder Executivo a criação de uma secretaria direcionada aos autistas. “Sugerimos que haja uma secretaria às pessoas autistas. Está em análise e lutaremos para essa conquista”, frisou.
A solenidade atendeu requerimento do deputado Miro Sanova (PDT), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Pessoas com Autismo da Alepa. A sessão debateu os avanços e entraves que ainda existem para as pessoas com TEA.