A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), divulgou o segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil.
Segundo o estudo, o avanço da fome fez o número subir para 33,1 milhões de brasileiros sem ter o que comer. São 14 milhões de pessoas a mais passando fome, em comparação com o estudo feito em 2020.
De acordo com a rede PENSSAN, o estudo foi realizado entre os meses de novembro de 2021 e abril de 2022, a partir de entrevistas feitas em 12.745 domicílios, distribuídos em áreas urbanas e rurais de 577 municípios das 27 unidades da federação – 26 estados mais o Distrito Federal. Além disso, a instituição considerou, ainda, a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que também é utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda segundo o estudo, cerca de 15% das famílias brasileiras se encontram em situação de fome atualmente. A pesquisa levou em conta fatores regionais e sociais que agravam a situação, como a baixa escolaridade, por exemplo.
- É mais presente entre as famílias que vivem no Norte (25,7%) e no Nordeste (21%);
- É maior nas áreas rurais, onde atinge 18,6% dos domicílios;
- É realidade na casa de 21,8% de agricultores e pequenos produtores;
- Saltou de 10,4% em 2020 para 18,1% em 2022 entre os lares comandados por pretos e pardos;
- Atinge 19,3% dos lares sustentados por mulheres e 11,9% dos chefiados por homens;
- Em relação a 2020, mais que dobrou entre os domicílios com crianças menores de 10 anos de idade;
- É maior nos domicílios em que a pessoa responsável está desempregada (36,1%);
- Saltou de 14,9% para 22,3% nos domicílios sustentados por pessoa com baixa escolaridade.
De acordo com a médica e pesquisadora da Rede PENSSAN, Ana Maria Segall, a pandemia influenciou na piora do cenário. “A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, afirmou.
RETROCESSO
“O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”
Rede PENSSAN.
Segundo o coordenador da Rede PENSSAN, Renato Maluf, a situação atual está diretamente ligada à atuação do poder público. “A continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19 tornaram o quadro desta segunda pesquisa ainda mais perverso”, disse.
Maluf destacou, ainda, que as políticas públicas de combate à extrema pobreza que eram desenvolvidas entre os anos de 2004 e 2013, restringiram a fome a apenas 4,2% dos domicílios brasileiros. “As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, afirmou.