Nas Amazônias, resistem juntamente com a floresta diversas mulheres, senhoras cujas mãos tecem redes de saberes imemoriais, em forma de medicinas e práticas de cura. Desde mulheres que têm seu legado reconhecido e difundido nas mídias, como as pajés Zeneida Lima e Roxita de Soure, no arquipélago do Marajó, até diversas mulheres que vivem em comunidades, ilhas e cidades da Amazônia, como Dona Terezinha do Guamá, Dona Marilena no Amazonas e tantas outras que são conhecidas somente em suas localidades.
Os saberes dessas mulheres são um grande legado e patrimônio imaterial para a Amazônia. De suas bocas, rezas; de seus ouvidos, cantos; de suas mãos e saberes, garrafadas, banhos, benzimentos, defumações e fórmulas de plantas para todo tipo de males e doenças, onde o mundo mágico da encantaria indígena resiste na memória dos remanescentes espalhados por todos os lados, juntamente com manifestações afro-religiosas e religiosidades cristãs.
A grande vastidão e diversidades de mestras mantém as tradições genuinamente amazônicas vivas nas memórias das comunidades e famílias.
Basta perguntar quem teve uma avó, tia ou mãe que fazia os banhos para baixar febre, os chás para resfriado e curagem de garganta? Quem lembra de uma senhora do bairro ou da comunidade que era parteira, puxadeira e benzedeira? E senta que vêm histórias; rapidamente é lembrado o nome de mulheres poderosas, de saberes únicos e fazer doador, que são recordadas com reconhecimento e importância por aqueles que experimentaram suas curas, ou até mesmo medo por aqueles que não as conhecem, uma vez que já foram chamadas de bruxas e são alvo de discriminação por terem seus saberes negados por opiniões desinformadas.
Elas estão em todos os lugares, e a importância dessas mulheres é algo que precisa ser valorizado. Pois, elas existem e resistem até hoje; são pessoas simples do cotidiano, procuradas pelos seus pares conterrâneos para se cuidar ou cuidar de alguém, profundamente respeitadas por estes, recebendo reconhecimento comunitário para ocupações de cura. Como disse dona Terezinha do Guamá:
“minha filha, quem chama eu de curandeira é quem vem se curar comigo, eu mesma nunca inventei esse nome”.
Algo importante a ser notado agora, que a Amazônia é centro de atenções, é que nós, amazônidas, vemos nossos saberes e cultura sendo apropriados falsamente por pessoas que se autodeterminam “mestre”, “pajé” ou “especialista” de saberes das nossas anciãs, apagando seus nomes e violando suas memórias. É preciso estar atento!
A verdade é que protegemos o que é nosso, valorizando os nossos. Lembrar os nomes das mestras dos saberes ancestrais, pois em suas práticas estão as raízes ancestrais que nos ligam a este território, à natureza e à cultura amazônida.
Texto feito pela Antropóloga Danielle Souza*