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Ministra Anielle Franco lança em Belém programa de incentivo a mulheres negras e indígenas na ciência

Nesta quinta, 20, foi lançado no centro de eventos Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA) o programa inédito, do ministério de igualdade Racial, do governo federal, batizado de Atlânticas – Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, voltado especialmente para mulheres quilombolas, negras, ciganas e indígenas terem suas carreiras na ciência alavancadas, com oportunidades profissionais fora do Brasil.

A iniciativa é totalmente nova e ainda vai passar por ampliações. Nesta primeira fase foram investidos 8 milhões de reais em recursos, sendo disponibilizadas 45 bolsas de doutorado-sanduíche e pós-doutorado. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que esteve na UFPA lançando o programa, adiantou que o projeto está sendo maturado e que mais vagas serão ofertadas nos próximos meses.

“Nossa ideia é que a gente conseguisse fazer o máximo de parcerias. Estamos pensando, inicialmente, em torno de 40 a 45 bolsas, mas, a gente pode vir com um valor a mais, e ter mais bolsas”, disse a ministra. 

Segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), apenas 14% dos cientistas são mulheres na Academia de Ciência do Brasil, assim como, das bolsas de doutorado vigentes no país, menos de 5% são ocupadas por mulheres negras, enquanto que 35% ficam com as mulheres brancas. Não há números nesse sentido para ciganas e indígenas em geral.

“Não há lugar melhor nesse país para apresentar este programa. O programa Atlânticas é uma política pública baseada em evidências para possibilitar e manter mulheres na ciência”, comentou Márcia Lima, secretária de ações afirmativas do Ministério da Igualdade Racial.

Entre outras personalidades, estiveram no lançamento do programa, a professora emérita da UFPA, Zélia Amador e a biomédica Jaqueline Goes, que fez o sequenciamento do genoma do Coronavírus.

“Nós precisamos aumentar a diversidade racial e de gênero nesta circulação internacional. Nós sabemos a importância que tem em qualquer carreira científica ter circulação nacional. Esse é um programa focado para as mulheres porque elas circulam menos. O programa também quer contemplar todas as áreas da ciência”, detalhou Márcia.

Professora emérita da UFPA, Zélia Amador de Deus também destacou a importância histórica da luta das mulheres negras no país, como a da historiadora Beatriz Nascimento, homenageada no nome do novo programa. Zélia lembrou, inclusive, da comemoração do Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, que ocorre no próximo dia 25 de julho.

“No Brasil nós tivemos mulheres negras que ajudaram e foram fundamentais para a construção dessa data, a gente não pode esquecer de Lélia Gonzalez e nem de Beatriz Nascimento, que dá o nome a esse programa”, reafirmou Zélia Amador.

História

Beatriz Nascimento, homenageada no nome do programa, foi uma historiadora negra, nascida em Aracaju-SE, que aos 7 anos se mudou para o Rio de Janeiro-RJ. Ela defendia a necessidade de se contar a história afro-brasileira a partir da perspectiva negra, apagada pela história oficial, “contada pelos brancos”. Beatriz se destacou no estudo dos quilombos e foi pioneira na pesquisa e na defesa do povo negro brasileiro como protagonista da própria história.