Ministro da educação prioriza repasse de verba a municípios indicados por pastores, a pedido de Bolsonaro

Um áudio obtido pela Folha de São Paulo revelou nesta terça-feira, 22, que o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, repassa verbas para municípios indicados por dois pastores indicados por Jair Bolsonaro.

Os pastores aos quais o ministro se refere são Gilmar Santos e Arilton Moura. Eles não têm cargo no governo, mas participaram de várias reuniões com autoridades nos últimos anos. 

Gilmar Santos é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb). Arilton Moura também é da Assembleia de Deus.

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar. Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, disse o ministro.

Ribeiro diz ainda em determinado momento da reunião, que há uma contrapartida para esses repasses, mas não dá detalhes. 

“Então, o apoio que a gente pede não é segredo. Isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”, disse.

Ministro da Educação, Milton Ribeiro. Imagem: Reprodução

Após ser procurado pela imprensa, o Ministério da Educação não informou as circunstâncias em que o áudio foi gravado, mas disse que emitiria uma nota ainda nesta terça-feira (22). 

Os pastores Arilton Mouras e Gilmar Santos têm relação com altas autoridades em Brasília. Em 2019, os dois foram fotografados ao lado do presidente, Jair Bolsonaro, em uma solenidade.

Em outubro do mesmo ano, os dois participaram de um evento com o chefe do executivo e entregaram a ele um livro da Conimadb. 

Em fevereiro do ano passado, Bolsonaro esteve em um novo encontro com os dois pastores, divulgado pela rede social da Conimadb. 

Em dezembro do ano passado, eles estiveram com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Em 2021 os pastores tiveram 18 encontros, de acordo com registros oficiais. 

Em uma reportagem da Folha de São Paulo revelou que o Ministério da Educação tem um “Gabinete Paralelo” de pastores que controlam a agenda e a verba do ministério. O jornal mostrou ainda que Gilmar Santos e Arilton Moura têm trânsito livre no ministério e atuam como lobistas.

Segundo a Folha, desde o início do ano passado, o Ministério da Educação empenhou ou executou pagamentos de R$ 9,7 milhões nos dias seguintes aos encontros dos pastores com o ministro.

Nesta terça-feira, a oposição apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) notícia-crime contra Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro por suposto favorecimento indevido a pastores.