Nos últimos dias temos acompanhado notícias sobre a PL das Fake News (ou PL 2630), o projeto de lei que pretende instituir a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Polêmicas e argumentos à parte, cabe uma reflexão: será que as Fake News afetam a saúde mental?
As notícias falsas (ou fake News) podem ser prejudiciais ao equilíbrio emocional e é possível entender isso sob alguns aspectos. Quem acredita e compartilha esse tipo de informação pode não estar bem à medida em que se conecta (ou está vulnerável a se conectar) à uma realidade distorcida. A crença nas informações falsas pode estar ligada à subjetividade, ao desejo e à vontade de que aquilo seja verdade, mesmo que os fatos se mostrem outros e, muitas vezes, buscando convicções baseadas em experiências pessoais e até contradizendo o que se percebe na realidade. Isso é preocupante, principalmente quando se acredita com convicção, apesar de todos os dados apontarem que a crença está equivocada. Assim, há um sério descolamento da realidade.
AS SENSAÇÕES QUE AS FAKE NEWS PROVOCAM NO LEITOR:
Há que se considerar também os sentimentos e as sensações provocadas nos leitores que identificam uma notícia falsa. Respostas emocionais associadas à raiva, indignação, angústia, desconfiança e incredulidade nas pessoas, além de sintomas de ansiedade e/ou depressão. Se já há suscetibilidade, de forma geral, imaginemos o quão vulnerável ficam as pessoas que possuem diagnóstico e lidam com as dificuldades ligadas aos transtornos mentais? Situações de estresse e angústia podem ser gatilhos para crises de ansiedade, por exemplo.
Outro ponto importante é o impacto da veiculação e compartilhamento de fake News nas relações interpessoais. Não é difícil identificar casos de discussão em grupos de whatsapp e até mesmo nos almoços de família em função de divergência de opiniões ligadas à conteúdos compartilhados nas mídias. As discussões podem alcançar patamares significativos para a continuidade de alguns relacionamentos, o que também impacta o equilíbrio das emoções.
Nesse caso, a situação é ainda mais preocupante quando envolve medo, especificamente o medo de existir. Conforme afirma o presidente do Conselho Federal de Psicologia, Pedro Bicalho: “A população negra, a população indígena, a população LGBTQIA+ e as mulheres têm relatado medo em relação a sua própria existência. E, quando identificamos de onde vem esse medo, ele é produto da circulação de fake news.”
Aqui podemos considerar diferentes manifestações de violências e preconceitos associados às ideias alinhadas à notícias falsas. Infelizmente, temos acompanhado casos tristes como consequência disso.
O debate é amplo e a conscientização acerca dos perigos imersos no universo de fake News é uma construção coletiva. Em muitos casos não será possível convencer com diálogo e argumentos a “tia do zap”, contudo, é necessário o maior compartilhamento possível dos efeitos danosos de um “simples” encaminhamento de mensagem no grupo da família.
Se cuidem
Até a próxima
Juliana Galvão
Psicóloga
CRP10/3645