No último dia 8 de junho, um estudo feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) divulgou o segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil. Segundo a pesquisa, mais de 33 milhões de brasileiros vivem em situação de fome no país.
Os dados vão contra as alegações do senador Flávio Bolsonaro, que na última sexta-feira, 10, afirmou em entrevista para a CNN Brasil que “Quem recebe 400 reais por mês de Auxílio Brasil pode ter dificuldade, mas fome não passa”.
No dia 13 de junho, uma internauta divulgou nas redes sociais uma foto em que mostra pele de frango sendo vendida em um supermercado.
Na última sexta-feira, 17, imagens de pessoas em situação de rua esperando por almoço viralizou nas redes sociais. O fato aconteceu no Restaurante Popular I, na Avenida do Contorno, no Centro de Belo Horizonte.
O BT conversou com a psicóloga Juliana Galvão para saber como a situação econômico social do país é capaz de atingir a saúde mental dos brasileiros. A especialista afirmou que a preocupação com a dificuldade financeira impacta diretamente em quadros de depressão e ansiedade. “O quadro econômico retrata, dentre outras coisas, a possibilidade de subsistência e dignidade. Logo, a dificuldade financeira para a manutenção das necessidades impacta a qualidade de vida. À medida que a pessoa percebe que terá problemas para pagar suas contas, há um aumento de preocupação e isso pode trazer como consequência quadros de estresse ou mesmo a intensificação de episódios depressivos e de ansiedade, por exemplo”, disse.
A psicóloga afirmou ainda que notícias diárias sobre a situação econômica do país também podem gerar incômodos e desgastes. “Por vezes, mesmo que não vivencie a dificuldade, mas acompanhe a situação econômica do país e mundo, a pessoa pode se sentir desconfortável e preocupada com o futuro e, assim, experimentar incômodos e sensações desgastantes”.
Juliana apontou que principalmente os conteúdos sensacionalistas podem impactar a saúde mental das pessoas.
“Acesso à informação é essencial. Mas, há sim a possibilidade de o contato com notícias, especialmente se os dados são apresentados de forma sensacionalista e sem maiores cuidados com texto e informações, implicar em reações desagradáveis ao público (leitor, seguidor), proporcionando experiências que podem culminar em crises de estresse e ansiedade, por exemplo. Há ainda preocupação maior para pessoas que já apresentam diagnóstico de doenças mentais, quando o desconforto pode ser vivenciado de forma mais intensa, podendo agravar quadros de adoecimento”, falou a especialista.
A ampliação dos modos de acesso a informações, fomentada pela internet, facilita o contato constante com todo tipo de notícia. Esta ‘hiperinformação’ em tempos de espetacularização das notícias pode aumentar sensações como estresse e desconforto.
Juliana pontua que filtrar os conteúdos e diminuir o contato com tantas fontes de informações são formas de preservar a saúde da mente.
“Nesse caso, é importante buscar alternativas como controlar o tempo de acesso e contato com fontes de informação (mídias sociais, jornais, podcasts, por exemplo). Há aplicativos que já ajudam a controlar o tempo que você se mantém conectado. Deixe de seguir ou ler conteúdos que já te provocaram sensações muito desagradáveis. Para que insistir naquilo que te incomoda? É óbvio que diante das notícias ruins, aqui especificamente sobre economia, quando lemos sobre índices de desemprego e subemprego, por exemplo, é natural nos sentirmos incomodados e tristes”.
A profissional recomenda que a mudança de alguns hábitos pode ajudar. “Qual o ponto de atenção para sua mudança de hábitos de consumo de informação? Pode ser o impacto na sua rotina. Se a preocupação com o quadro econômico está, literalmente, tirando seu sono e prejudicando sua alimentação, é hora de pensar em controlar o acesso às notícias”, garantiu.
Por fim, a especialista indicou que aplicar o tempo em atividades mais prazerosas pode ser um caminho para lidar com fatores estressantes. “Não dá para fugir da realidade e do quadro econômico preocupante. O que fazer? Além de monitorar o conteúdo e a frequência de acesso às informações, é interessante usar o tempo para atividades prazerosas: leitura, caminhada, yoga, música ou tantas outras possibilidades, como não fazer nada, também (sim, o ócio pode ser importante)”.
E que tal buscar ajuda com terapia? Juliana faz o convite desmistificando o tabu sobre a prática. “A psicoterapia é um caminho importante para o autoconhecimento e libertação, que pode facilitar a busca por qualidade de vida. É uma possibilidade altamente indicada para você conhecer (e começar a utilizar) técnicas para manejo de estresse e ansiedade”, finalizou.