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Movimente | Etarismo: saiba mais sobre o preconceito que atinge a população mais velha

Etarismo, também referido como velhofobia pela antropóloga Mirian Goldenberg, é o preconceito/discriminação em razão da idade. Uma atitude etarista é algo sério e muito maior que simples brincadeira infeliz ou de mau gosto (como uns dizem por aí), já que pode implicar violências – verbal, psicológica, física… como consequência, além do próprio sofrimento da violência, pode haver vulnerabilidade emocional e prejuízos à saúde mental.

Esse assunto veio à tona nos últimos dias em função de um caso que viralizou na internet. Três universitárias aparecem em um vídeo fazendo comentários depreciativos e preconceituosos sobre uma colega de sala. “Mano, tem 40 anos, era para tá aposentada já”, disse uma das universitárias.

O vídeo repercutiu. Um dos principais assuntos nas mídias. O lado bom é que o movimento de indignação foi muito mais visível nesse episódio.
Mas a realidade de uma sociedade mais justa e solidária (tal qual direciona a Constituição Federal) ainda parece um ideal distante, vide os números de violência e abuso com as pessoas idosas, por exemplo.

Dados da OMS indicam que ao menos 15,7% da população idosa está submetida a um tipo de violência. Ou seja, 1 em cada 6 idosos sofre violência em todo o mundo. São muitos casos de denúncia e a mulher idosa é a mais atingida. Detalhe importante: grande parte dessas situações não são relatadas e denunciadas, por medo de retaliação. E o pior? A maioria dos casos acontece em casa. O lar, que deveria ser lugar de acolhimento e paz, na verdade é um lugar de terror para muitos idosos.

No programa Saia Justa (canal GNT) a apresentadora de tv Xuxa revelou a dificuldade de seu público entender o envelhecimento dela. Revelou que as pessoas tendem a se assustar ao encontra-la, pela não-aceitação das pessoas sobre o processo natural de envelhecer.

Essas informações podem parecer distantes para ti. Seja a recente polêmica com as universitárias ou até as falas de uma celebridade. Bora pensar como etarismo pode estar presente no teu cotidiano?

Já falou ou ouviu alguma frase como essa?

  • Ulha, nem parece a idade que tem!
  • Égua, tu fazes isso com essa idade?!
  • Ixe, isso é coisa de velho!
  • Ah, mas quando fizeres “x” anos não vai dar mais para fazer isso.
  • Égua, por que tem tanto velho na rua de manhã?
  • Tô doido para me aposentar para ficar só dormindo.

Se reparar, vai perceber que algumas frases são até disfarçadas de supostos elogios. Então é para se sentir maravilhoso porque faz alguma atividade que não é esperada para a idade? Por estar aposentada, a pessoa não pode mais circular na rua? Existe uma idade que alguém só deve dormir? E cadê esse manual que aponta o que deve ser feito em cada etapa da vida?

Outro ponto importante é que além de toda violência implícita e explícita envolvida, há uma enorme ignorância ao não considerar a mudança na pirâmide etária brasileira. Hoje se vive mais. Há muito a ser vivido e por muito mais tempo, contrário do que acontecia 20 ou 30 anos atrás. E que bom. Todo mundo parece querer viver muito, né? Viver muito implica envelhecer, isso é natural. E o envelhecimento vem com muita coisa boa. O aprendizado, a sabedoria, a paciência e sim: vontade viver, experimentar e descobrir.

Vou fechar com uma frase incrível da primeira mulher asiática a ganhar um Oscar como melhor atriz, aos 60 anos:

“Não deixe ninguém dizer que você passou do seu auge.” (Michelle Yeoh)

É, minhas jovens, se tudo der certo vocês envelhecerão. Que suas mentalidades evoluam para libertação até lá.

Até a próxima.

Juliana Galvão
Psicóloga
CRP 10/3645