Na quinta-feira passada a editoria MoviMente do BT lançou uma caixinha de perguntas para a psicóloga Juliana Galvão. Hoje (16/6), ela responde aos nossos seguidores sobre o tema Bullying. Confira!
Bullying é uma palavra oriunda de um termo inglês: bully (algo como “valentão”) e significa agressão continua, com ações de intimidação e perseguição de um agressor (ou agressores) em direção à uma vítima. É importante entender que uma violenta ação pontual (briga, por exemplo), embora envolva agressões, não caracteriza bullying. E falando em agressões, elas podem se apresentar de algumas formas: física, verbal ou psicológica. Não é difícil relatos de bullying envolverem as três formas de agredir no mesmo caso. As vítimas podem sofrer violência baseada em suas características como aparência física, orientação sexual e religiosidade, por exemplo. Vamos às perguntas?
Casos de bullying vividos na infância podem marcar a pessoa por toda a vida?
As consequências dessas agressões podem ser devastadoras. De forma geral, imediatamente a vítima pode viver o isolamento social, evitando trocas e relacionamentos com outras pessoas ou grupos. Além disso, o impacto na autoestima pode implicar maior vulnerabilidade emocional para a vivência de depressão ou transtornos de ansiedade, por exemplo. Se não acompanhadas e trabalhadas na infância, essas consequências podem influenciar negativamente este adulto no desenvolvimento de vínculos com outras pessoas e até a manifestação de desordens psíquicas, como as que citei aqui acima. Por isso, é essencial que a vítima seja acompanhada por profissionais ainda na infância, que podem ser da equipe multiprofissional da escola (se for o caso) ou mesmo atendimento de saúde mental fora dela (psicólogos particulares, em planos de saúde, no posto de saúde ou nos Centros de Atenção Psicossocial-CAPS).
Quais as dicas para conversar com pessoas das gerações passadas sobre bullying?
Aqui temos um desafio importante. As violências do tipo bullying sempre ocorreram, porém, por questões culturais, não eram percebidas como tal. Quem aí já não ouviu aquele tio ou a avó dizendo: no meu tempo não tinha essa frescura, agora tudo é bullying! É triste, mas ainda vemos a violência ser endossada como algo “normal”. Não podemos mudar ninguém. E é bem difícil para muitas pessoas das gerações mais antigas entenderem que não é preciso sofrer e adoecer para se tornar alguém mais “forte”. Sim, porque ainda tem quem acredite que violência pode te deixar mais preparado para o mundo. Pelamor! Aqui, sugiro que tente conversar quando for possível e houver espaço e disponibilidade para o outro te ouvir (até porque não rola ser violento para debater não-violência). Alguns materiais que podem te ajudar: vídeos educativos na internet, filmes como Extraordinário e Coda, uma série boa é 13 Reasons Why. Esses conteúdos podem auxiliar na conscientização aos que tenham dificuldade para entender a seriedade que envolve o bullying.
Apelido é considerado bullying?
Bom, se considerarmos a definição lá do início da matéria, não. Mas, é importante buscar entender se o apelido é algo bem recebido pela pessoa apelidada. Nem sempre o outro riu porque gostou do nome que recebeu. O riso pode mascarar sofrimento. Volte e leia de novo. Um apelido pode ser a ponta que esconde um iceberg de violência. Por isso, pergunte a quem foi apelidado como essa pessoa percebe e sente o apelido. E depois veja se vale a pena ou não seguir com a possível brincadeira.
Existe algum lado bom no bullying? Ex: dificuldade que ajuda a pessoa a melhorar?
Se existe algo bom no bullying é quando ele acaba. Como falei acima, as consequências podem ser devastadoras. Óbvio que ao falarmos de comportamento não há algo previsível e certeiro. A forma de reagir da vítima está relacionada, dentre outras coisas, com o suporte que ela tem (família e amigos, por exemplo). Muitas pessoas antes achavam que o bullying era bom para deixar a pessoa mais “forte”. Boa parte da minha geração (geração Y para uns, millennials para outros) viveu na naturalização do bullying. Uns superaram sem maiores abalos, outros ainda guardam as marcas. Muitos aprenderam sim, pela dor. As consequências? Alguns talvez só percebam anos e dores depois. Que a cada dia possamos ampliar o debate e proporcionar uma cultura de paz e respeito. Que não precisemos sofrer para aprender.
Essa conversa aqui vai longe. Espero ter iniciado uma reflexão para ti e que possas trocar ideia sobre isso nos teus roles e encontros por aí. Não esquece que toda quinta tem caixinha no insta do BT. Pergunte à Psi. Semana que vem o tema é: Depressão.
MANDE SUA PERGUNTA
E eu amei a nossa troca de quinta. Já sabes: às quintas tem mais caixinha do Pergunte à Psi. Até a próxima!
MAIS CONTEÚDO
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