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Mulheres trans paraenses comentam decisão do STJ sobre lei Maria da Penha

Nesta terça-feira, 5, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu de forma unânime que a Lei Maria da Penha também é aplicável para mulheres trans

A Sexta Turma do STJ tomou a decisão de que a Lei pode ser aplicada, através do caso de uma mulher trans que era agredida pelo pai que de forma transfóbica, não aceitaria que a filha se identificasse com outro gênero. 

Anteriormente, o Tribunal de Justiça de São Paulo já havia negado a aplicação da Lei Maria da Penha no caso, sob justificativa de que a legislação só seria aplicável a pessoas cisgênero do sexo feminino, ou seja, pessoas que se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram. O TJ só levou em consideração o aspecto biológico da situação. O Ministério Público paulista recorreu e o STJ acatou o pedido. 

A decisão abre precedente para que outros casos semelhantes tenham o mesmo resultado.

O BT conversou com mulheres trans e travestis paraenses que comentaram a decisão.

A maquiadora, costureira e modelo, Isabella Pamplona (@bellaprajesus), de 24 anos,  acredita que foi uma decisão tardia, porém necessária. Ela diz que já aguardava pela inclusão há tempos.

Isabella Pamplona. Arquivo pessoal.

“Foi uma inclusão tardia, mas necessária de acontecer em algum momento. A gente vive em um país que tem altas taxas de feminicídio e taxas de transfobia, de morte de mulheres trans e travestis com requintes de crueldade,  assim como as de violência doméstica. As características dos crimes parecidas.”

Isabella frisou que o amparo é necessário para acolher as mulheres.  “São características de violência psicológica e violência física brutal. Eu acho que a gente precisava muito desse amparo assim como para as mulheres cis do Brasil.”

Ela falou sobre as semelhanças entre crimes de violência doméstica e crimes transfóbicos. 

“Grande parte das mortes com mulheres trans e travestis é após o ato sexual, e após o relacionamento. O crime também vem de uma relação, seja ela  de prostituição, ou de outro envolvimento como um fica. Ela vem de um lugar passional é também de uma relação de desejo e raiva assim como a violência doméstica.”

A cantora paraense Ayaní (@ayanidonortee), também acredita que a decisão do STJ foi tardia, mas que pode ajudar a preservar a vida de mulheres trans.

Ayaní. Imagem: Arquivo pessoal

“Faz algum tempo que mulheres trans e travestis conseguem fazer denúncias usando a Lei Maria da Penha, mas não estávamos asseguradas.”

Ela comentou sobre o brutal fato do Brasil ser, há 13 anos, o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo

“Eu fico muito feliz, acho que é um avanço, porém, a minha felicidade vem junto com tristeza, já que somos o país que mais mata pessoas trans. Parece um dado fictício na cabeça das pessoas, muitos aprenderam a romantizar a morte de pessoas trans de diversas formas.”

A demora na decisão, foi abordada pela cantora.

“Fico feliz por estar em vigor, mas acho sim que demorou muito. Cada demora, cada segundo, é crucial pra minha vida e para a vida de todas as minhas parceiras.”

A cantora paraense frisou o quanto a luta pelos direitos de trans e travestis ainda tem muitos obstáculos.

“A gente ainda tá lutando por nossos direitos, é tudo muito novo, nos estamos aqui desde que o mundo é mundo, mas aqui no Brasil, ainda estamos dando os primeiros passos em muitas coisas como o ensino superior, o mundo do entretenimento, da arte e agora dos nossos direitos. O movimento trans está em tantas lutas, mas na hora do “vamos ver” somos as mais esquecidas”. 

Ela também ressaltou que é necessário preparo para que as vítimas sejam devidamente amparadas.

“Eu ainda tenho medos, não é apenas ter a lei, a gente tem que ter um treinamento. As pessoas infelizmente ainda não sabem receber os nossos  espaços, e, todos os espaços.  eu acho que ainda tem muita coisa a se fazer” Finalizou Ayaní.