A médica neuropediatra Emmanuelle Vasconcelos (@emmanuellevasconcelos) de Salvador (BA) denunciou em sua conta no Instagram, sem mencionar nomes, que um médico estaria receitando água oxigenada para uma criança autista. A solução deveria ser ingerida e aplicada no ouvido do paciente.
De acordo com a denunciante, o médico havia associado o Transtorno do Espectro Autista (TEA) da criança ao diagnóstico de “encefalite auto-imune” (doença inflamatória curável), sem nenhum exame que comprovasse a doença.
A enorme lista de medicações prescritas pelo profissional despertou preocupação da família da criança, que procurou a avaliação de Emmanuelle. A neuropediatra fez um alerta nas redes sociais.
“Essa prescrição absurda chegou para mim vindo de uma família que estava preocupada com o uso de algumas medicações (dentre elas, remédios para diminuir hipertensão intracraniana e imunossupressores) pq o diagnóstico de autismo vinha “associado” a um diagnóstico de “encefalite auto-imune” sem que nenhum exame de liquor tenha sido coletado, nenhuma pic tenha sido de fato medida, nenhum critério científico para diagnóstico de encefalite auto-imune tenha sido considerado. “Ah, mas o médico é super conhecido, o consultório dele é muito chique”… simplesmente porque picaretas tem uma excelente lábia e sabem vender seus produtos!!! Não acreditem em tudo que veem aqui no Instagram/Google!!! Não é pq o médico tem 10282838390100192929292 seguidores, que ele está de acordo com os princípios éticos e científicos adequados! Não à picaretagem e à pseudo-ciência!”.
A jornalista e deputada estadual de São Paulo, Andrea Werner, compartilhou a foto da prescrição médica. Segundo ela, a criança tem 4 anos e fazia uso da água oxigenada há dois anos.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, uma condição permanente, que não tem cura. Chamado em termos médicos de Transtorno do Espectro Autista, ou TEA, o autismo não é uma doença, mas sim uma deficiência neurológica.
CHARLATANISMO
Esta é possivelmente mais uma sugestões de tratamento “milagroso” ou promessa de “cura” do autismo.
Em 2019, viralizou nas redes sociais um remédio que seria capaz de eliminar “vermes” do autismo pelas fezes. O MMS, um alvejante industrial, era vendido em diversos sites on-line, de fácil acesso. A febre acabou conquistando mães e pais que ainda têm dificuldade para aceitar a deficiência e estão desesperados. O uso do produto é extremamente arriscado, e pode causar diarreia e lesões no trato intestinal, sem nenhuma correlação científica de que ele poderia trazer a “cura” do autismo.
ÁGUA OXIGENADA
A água oxigenada, solução feita à base de peróxido de hidrogênio, é usada para limpar ferimentos da pele e cicatrizes cirúrgicas. Como tem função desinfetante, pode eliminar vírus e bactérias que causam infecções locais — esse uso é bem estabelecido pela medicina. Aplicado nas mucosas, como as do ouvido interno, o produto aumenta o risco de infecções.
