Há trinta anos acontecia a Eco-92 no Rio de Janeiro, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e Desenvolvimento. Pela primeira vez, em junho de 1992, foi reconhecido o aquecimento global, e as mudanças climáticas se tornaram pauta na agenda do internacional.
A conferência foi um marco na história do mundo e do Brasil. O objetivo era acabar com a concepção dada pelo modelo industrial de que os recursos ambientais eram infinitos. O evento deu um impulso no movimento ambientalista brasileiro que se consolidou em defesa da agenda política socioambiental.
A conferência estabeleceu um norte de mudanças necessárias e urgentes para os países industrializados, a chamada Agenda 21, apresentando políticas e ações para mudanças no consumo de petróleo e carvão mineral, combate ao desmatamento, desertificação, poluição do ar e da água, detenção da destruição dos peixes e uma gestão segura de resíduos tóxicos. Além disso, o encontro mostrou preocupação com a insuficiência da produção de alimentos no mundo.
O que mudou no Brasil e na Amazônia nesses trinta anos? Por um tempo houve um fortalecimento, ainda que não o ideal para as políticas ambientais, o fortalecimento de órgãos de controle e unidades conservação cresceram no país. Contudo, nos últimos cinco anos, desde o golpe parlamentar que depôs a presidenta Dilma e nesse período de desgoverno Bolsonaro, o retrocesso e a destruição ambiental viraram eixo fundamental na ação dos atuais ocupantes do Palácio do Planalto.
Foram cortes orçamentários, desmonte de políticas de proteção ambiental, enfraquecimento de órgãos de fiscalização e controle, fim do licenciamento ambiental, liberação de agrotóxicos, privatização das florestas e ataques aos povos indígenas. A essa tragédia, somam-se os maiores índices de desmatamento na região Amazônica, mercúrio no rio Tapajós e contaminação da nossa população, tudo isso facilitado pelo governo federal e sua busca desenfreada de enriquecer empresários, independente do aumento do aquecimento global ou da piora na qualidade de vida da nossa gente.
O consumo de petróleo tampouco obteve mudanças eficazes. Hoje o Brasil produz 3 milhões de barris de petróleo por dia e consome 2,5milhões. Além disso, a dependência é tão grande que ainda é importado 300 mil barris por dia. Não houve uma mudança eficaz na mudança do consumo de combustível fosseis. Em síntese, o Brasil caminha a passos largos no sentido contrário ao equilíbrio socioambiental e à geração de matrizes energéticas efetivamente limpas e ecologicamente justas.
O Pará no olho do furacão
Neste período pós-Eco92, o Pará entrou na rota de exploração de petróleo. A corrida pelo lucro através desse modelo de desenvolvimento excludente e predatório colocará em risco os recifes da área costeira gerando impactos no desenvolvimento do conhecimento científico ambiental da região, já que esse território será impactado pela implantação dos projetos altamente ameaçadores ao bioma amazônico. Em paralelo, nosso Estado continua ostentando a triste posição de líder histórico no desmatamento. Segundo os últimos dados do Imazon, em abril deste ano, o desmatamento na Amazônia cresceu 54% em relação ao mesmo período do ano passado, representando o pior índice dos últimos 15 anos. Dos 778 quilômetros devastados, 20% foram no Pará.
Todos os esforços de nos convencer que toda essa destruição do nosso patrimônio é para o desenvolvimento econômico e melhoria do país não condiz com a realidade. Afinal, se precisamos explorar o meio ambiente para supostamente crescermos economicamente e melhorar a vida no país, por que voltamos ao vergonhoso mapa da fome? A Amazônia continua como uma das regiões mais pobres e que vivencia mais a fome.
O atual governo não teme as mudanças do clima ou o esgotamento de recursos. Está claro que os primeiros atingidos serão os homens e mulheres indígenas, negros e pobres desse país, e nós não somos motivo de preocupação dessa elite perversa, nos deixarão desamparados assim como eles têm feito com o desaparecimento do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
Trinta anos depois da Eco-92 e continuamos perdemos as nossas riquezas, morrendo pelos venenos, tendo nossa terra arrancada em nome de um progresso que continua nos destruindo, e aqueles que ousarem lutar pela natureza e garantir o futuro das gerações irão morrer ou desaparecer no meio da Amazônia.
Trinta anos depois e somos um dos países que mais mata ambientalista no mundo. Trinta anos depois e somos o país que mata todas as formas de vida.
Mas, como ensina nossa tradição, a terra sem males está no horizonte como uma utopia possível e necessária. Os povos originários, apesar de toda violência estrutural, jamais desistem de caminhar. E não estaremos sós. Basta se juntar ao extraordinário movimento em favor do planeta e da vida, que para valer a pena, precisa ser vivida plenamente.