Nesta última semana, o coach Thiago Schutz, dono da página ‘Manual Red Pill Brasil’, viralizou nas redes sociais em um vídeo em que fala da atitude que se deve ter quando se está com uma mulher e ela oferece uma cerveja, enquanto ele toma Campari. Além disso, o coach se tornou assunto por ameaçar uma humorista que fez sátiras do vídeo com “processo ou bala”.
Thiago Schutz faz conteúdos em que fala do comportamento de um homem ‘redpillado’ e da postura em relacionamentos com mulheres. O termo ‘redpillado’ e ‘redpill’ é amplamente utilizado por Thiago e por influenciadores da área, mas a origem do termo vai muito além do comportamento masculino.
MATRIX INVERTIDA
O termo nascido nos últimos anos faz referência à pílula vermelha do filme Matrix, em que os personagens escolhem entre enfrentar a verdade do mundo ou permanecer na realidade comum tomando a pílula azul. Na internet, o grupo nasceu no site de comunidades de fóruns Reddit, com discussões sobre as estratégias masculinas para se relacionar com mulheres, dividindo os participantes entre ‘machos alfa e beta’.
Segundo o sociólogo do Grupo Reinserir Psicologia, Rodrigo Breato, a comunidade promove “depreciação feminina, conservadorismo e necessidade constante de autoafirmação”. “Um Redpill entende que uma mulher submissa é uma mulher ideal. É uma mulher a ser valorizada, desde que não demonstre independência de gênero”, afirma.
Como nos vídeos de Schutz, em que ele diz que o homem pode se tornar submisso de uma mulher apenas por aceitar uma cerveja, os participantes do movimento ‘red pill’ afirmam que mulheres só buscam os ‘alfas’, ou seja, homens dominantes e que só gostariam de um relacionamento com um ‘beta’ caso envelheçam, tenham filhos ou sejam feias.
Mas para Rodrigo, o movimento que Schutz faz parte é formado principalmente por “homens com dificuldade em lidar com frustrações e que não aceitam mulheres em destaque”. “Eles sempre idealizaram essas mesmas mulheres em posições de servidão, como se ainda estivéssemos na metade do século passado ou até mesmo em outras eras de predominância masculina”, pontua.
Na internet, não há apenas os participantes do movimento ‘redpill’. Há também os Incels, palavra abreviada do inglês que significa ‘celibatário involuntário’. No caso dessa comunidade, os homens culpam as mulheres por continuarem virgens ou por não terem relacionamentos amorosos.
Como os ‘redpills’, os Incels também são contra o feminismo, além de serem contra os direitos das mulheres. Em fóruns pela internet, há comunidades de Incels que disseminam crenças antissemitas, racistas e misóginas.
Diferente da comunidade ‘Redpill’, os Incels não mantém contato com mulheres. Existem inúmeras semelhanças e quase nenhuma diferença. “Pode-se dizer que Redpills estão mais habituados ao convívio com mulheres, porém o ódio a elas e a fragilidade quanto à própria masculinidade se equivalem”, analisa Rodrigo.
Como os grupos promovem a depreciação feminina, conservadorismo e necessidade constante de autoafirmação, Rodrigo afirma que o discurso RedPill é apoiado por grupos de extrema direita.
Segundo ele, a pauta coloca “comportamentos conservadores a mulheres, tratam a liberdade como degradação moral e classificam mulheres como adequadas ou não para relacionamentos de forma misógina e machista”.